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Cidade Alta, símbolo de um Rio de Janeiro que estigmatizou as favelas

Conjunto habitacional de Cordovil foi o primeiro do programa de remoções de favelas da Ditadura, explica historiador

Cidade Alta
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Quem costuma passar pela Avenida Brasil reconhece de longe os prédios da Cidade Alta, em Cordovil. O conjunto, construído entre o fim da década de 1960 e o início de 1970, "foi o primeiro surgido dentro do programa de remoção de favelas feito na Ditadura, em conjunto com o governo da Guanabara", conta o historiador Mario Brum, autor do livro 'Cidade Alta: História, memórias e estigma de favela num conjunto habitacional do Rio de Janeiro'. Ele explica que os primeiros moradores da Cidade Alta foram os transferidos da favela da Praia do Pinto, no Leblon, alvo de remoções e um incêndio em 1969. "Esses conjuntos surgidos na época da ditadura foram o auge de uma política que estigmatizava as favelas. Seus moradores não tiveram opção, a não ser se mudar", afirma Brum.

"Assim, em março, começou a Operação Praia do Pinto, removendo os moradores da Praia do Pinto para a Cidade Alta, principalmente e uma parte para Cidade de Deus (que foi iniciado com Lacerda e concluído com Negrão de Lima). Para a Cidade Alta também foram moradores do Parque da Gávea, que também era um conjunto habitacional para removidos de favelas onde hoje é a inexistente estação do metrô da Gávea (antes era o estacionamento da PUC)", explica o pesquisador. Para Brum, a causa dessa política foi a estigmatização da favela e seus moradores. "Foi um processo muito traumático, de levar as pessoas para longe e não dar assistência. Foi uma política de estigmatização levada ao ponto de expulsarem as pessoas de um lugar. Isso deixou marcas na cidade. Que junto com o não-combate às causas que faz a favela surgir, fez esses conjuntos (como a Cidade Alta) serem lidos como novas favelas".