Seis anos é tempo demais!

Mobilização no Centro do Rio de Janeiro pede justiça para vítimas do Estado
Mobilização no Centro do Rio de Janeiro pede justiça para vítimas do Estado -
Até o dia 14 de março de 2018 ninguém podia imaginar que Marielle Franco deixaria de ser nome e sobrenome e se tornaria também um movimento. Família, amigos, companheira, eleitores, seguidores ou aqueles que não concordavam com aquele corpo ocupando aquele espaço, quem desejava que sua voz ecoasse mais, ou quem quiz a calar: ninguém imaginava.

Já no dia seguinte do crime esse movimento nasceu e o retrato disso é aquela icônica imagem da Cinelândia e ruas próximas ocupadas por pessoas que gritavam indignação.

No entanto, se tão pouco acreditava-se na possibilidade de um crime dessa natureza ocorrer, não imaginava-se também esse movimento se criar. Ainda mais difícil de compreender é o fato de seis anos terem se passado e ainda não terem respostas sobre diversas perguntas.

O acesso à justiça de famílias e vítimas da violência no Rio de Janeiro e no Brasil é historicamente alarmante. Infelizmente, o ano do assassinato de Marielle coincidiu com o crescimento representativo de uma onda conservadora que naturaliza a violência, tanto no campo institucional como em resultado de práticas de políticas públicas.

No caso de um crime político, como o de Marielle e Anderson, a demanda por justiça e reparação se faz ainda mais urgente, pela óbvia manutenção da democracia e o recado de intolerância dado junto à esse assassinato cruel.

A violência cometida contra mulheres, sobretudo mulheres pretas, que estão em cargos públicos, de 2018 pra cá, infelizmente não parou de crescer. São diversos casos, como os constantes e diversos ataques à Benny Brioli, vereadora de Niterói e primeira travesti eleita no Estado do Rio (PSOL).

Sementes de Marielle

Quando Marielle foi eleita e dois anos depois assassinada, apenas outras duas mulheres negras e de favela — Jurema Batista e Benedita da Silva — haviam ocupado assentos equivalentes na câmara municipal do Rio de Janeiro.

As mulheres, sobretudo as pretas e de favelas ou periferias, são protagonistas de lutas por justiça e direitos, e não é de hoje. Porém após esse crime que ganhou repercussão internacional, tanto na política institucionalizada quanto na frente de organizações, coletivos e movimentos sociais, muitas vozes, corpos e cores surgiram e se fortaleceram pela luta de direitos.

Como iniciamos falando, ninguém imaginava o movimento que se criaria, porém ainda sem respostas, e ainda vivendo desafios na garantia de direitos para mulheres, pessoas pretas, LGBTQIAPN+, de favelas, quilombos, indígenas seguimos na urgência de pautas e práticas antirracistas, antiLGBTfóbicas, feministas e populares, inspiradas no legado de Marielle Franco. Justiça e reparação nesse março de 2024. Seis anos é tempo demais!

Jéssica Pires, em parceria entre o PerifaConnection e o Maré de Notícias.

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