Páscoa das periferias

Transformando chocolate em negócio

Adriana Soares, de São Gonçalo, além da produção artesanal, também se dedica ao ensino da profissão
Adriana Soares, de São Gonçalo, além da produção artesanal, também se dedica ao ensino da profissão -
Neste domingo, apresentamos um grupo de mulheres que enxergam nesta época do ano uma oportunidade para, além de aumentar o faturamento, contribuir com suas comunidades. Elas fazem parte das 38% empreendedoras no Estado do Rio de Janeiro, conforme aponta último estudo do Sebrae, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE.

1- Seus empreendimentos iniciaram por influência de habilidades pessoais e por necessidade financeira. Como é o caso de Adriana Soares, de São Gonçalo, mãe de três filhas, Renata (21 anos), Isabelle (15) e Maria Luisa (6), que, além da produção artesanal, também se dedica ao ensino da profissão. “Desde criança eu amava fazer doces e percebi que tinha talento, por isso pesquisei um pouco e decidi começar o meu negócio com intenção de complementar a renda mensal familiar. E me orgulho muito de poder participar de projetos sociais, onde ensino de forma gratuita as bases da confeitaria para pessoas de baixa renda, para que elas também possam produzir, vender seus doces e gerar recursos”, explica a confeiteira.

2- A empreendedora Lohrany Martins, do Dendê, na Ilha do Governador, é mãe solo de quatro filhos e foi vítima de relacionamento abusivo. A jovem foi apresentada à confeitaria pela avó e fala com muito orgulho sobre a independência que conquistou com o trabalho e como colabora para a economia local. “Meu negócio contribui incentivando, principalmente, mulheres negras que vivem ou viveram na mesma situação que eu. Se encontrar através da confeitaria, criando sua própria independência financeira e ajudando além de sua família”. Lohrany com o apoio de parceiros vai distribuir ovos de Páscoa para 200 crianças na comunidade.

Doce escolha

3- Em Costa Barros, bairro onde foi criada e atualmente mora a mãe, Gabriela Lourenço (28 anos) faz sucesso com seus chocolates. A jovem afirma sempre ter amado a confeitaria, mas foi quando estava no ensino médio que começou a vender bolo de pote para ajudar a pagar o pré-vestibular. “Do bolo de pote fui fazendo bolos maiores, do bolo fui fazendo docinhos. Quando eu entrei na faculdade, eu vendia brownie e fazia encomenda para festas e, quando eu menos percebi, eu vi na confeitaria uma paixão maior do que o curso da faculdade. Mas foi durante a pandemia que me vi, de fato, empreendendo”.

4- Também durante a COVID-19, Silvia Lopes dos Santos (41) saiu do Juramento para morar em Inhaúma e foi nessa época que largou o trabalho como instrutora de libras em escola pública e passou a se dedicar integralmente à confeitaria. Hoje é referência nos doces e na comunidade surda do Rio. “A Páscoa é muito importante para mim porque nos ensina muito sobre a valorização do trabalho manual, dos detalhes. Eu crio doces artesanais com muito carinho para os clientes. Eu me vejo crescendo na área”, afirma.

Páscoa para todos os gostos e bolsos

5- Cria de Campo Grande, a enfermeira Renata Gadelha mora com a mãe, o companheiro e o filho de 8 anos. Se reveza entre o trabalho formal e como Microempreendedora Individual (MEI) na venda de seus produtos, que tem como diferencial serem salgados. ”Comercializo a Páscoa salgada. Ovos e coelhos salgados recheados com camarão, frango, calabresa, carne seca e bacalhau. Todo o preparo é artesanal. Sem conservantes. Com produtos frescos e de acordo com o desejo do cliente”, resume.

6- Aline Paiva, 31 anos, moradora da Rocinha, tem como desafio diário a dificuldade de locomoção para realizar suas entregas, mas o amor pela confeitaria e a vontade de crescer em seu empreendimento falam mais alto. “Desde nova sempre gostei de vender e fazer sobremesa. O diferencial dos meus produtos são o recheio caseiro, pontualidade e o preço acessível”.

7- Quando começou a empreender, em 2016, Mylena Jesus (28), da Vila Operária, Duque de Caxias, também teve dificuldades com a falta de capital financeiro e espaço físico para realizar seu trabalho. Considera que a aposta na diversificação de produtos para as datas comemorativas ajuda no faturamento.  “A Páscoa é um momento de renovação e compaixão onde reunimos a família. Uma data que vem mantendo a tradição da caça aos Ovos de Páscoa e dos coelhinhos nos corações das crianças”, explica.

Gabriela Anastácia, jornalista e colaboradora do PerifaConnection

Comentários