A vida para além do Transtorno do Espectro Autista

 Humberto Baltar, um homem negro autista com TDAH, dislexia, altas habilidades e superdotação (AHSD)
Humberto Baltar, um homem negro autista com TDAH, dislexia, altas habilidades e superdotação (AHSD) -
Escritor, 42 anos, palestrante, intérprete de libras, professor, consultor, pós-graduado em Análise Comportamental Aplicada ao Autismo e mais. Parece uma apresentação de currículo, mas ressalto aqui os atributos profissionais de Humberto Baltar, um homem negro autista com TDAH, dislexia, altas habilidades e superdotação (AHSD), para reafirmar o que ele mesmo nos trouxe em entrevista “Diagnóstico não é sentença”.

Além da vida profissional, na vida pessoal Humberto é marido de Thainá Baltar e pai de Apolo, de 5 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) desde os 2. Foi a partir da paternidade que o professor conseguiu o seu diagnóstico tardio aos 40 anos. Ao perceber que os comportamentos do filho, parecidos com os seus, iam além da lógica do senso comum de que “puxou o pai”, Humberto procurou ajuda e depois teve também seu diagnóstico informado.

Nascido e criado durante toda a infância em Mesquita, na Coreia, Região Metropolitana do Rio, o multiprofissional enxerga o diagnóstico como um momento crucial em sua vida: “O diagnóstico aos 40 anos foi libertador e extremamente importante no desenvolvimento do meu autoconhecimento e da minha carreira. [...] Nunca é tarde para se conhecer. O diagnóstico me ajudou a me cuidar melhor.”

É o que esclarece Priscila Duarte, neuropsicóloga e especialista em terapia cognitiva comportamental “Isso aqui (o diagnóstico) é para abrir portas, não para fechar. Ele não vem para definir, ele vem para contar uma história e dar uma nova direção”.

Há, de fato, características em comum entre pessoas autistas, o que deve ser o ponto de partida para procurar ajuda profissional, mas não se deve desconsiderar a individualidade de cada pessoa e a diversidade que existe dentro do espectro autista.

“Dizem que autistas não se comunicam e sou palestrante; que sentem dificuldade em lidar com as emoções e sou mediador de rodas de conversa de homens, de pais e de famílias. Também falam que expressar ideias em palavras é um obstáculo aos autistas e sou tradutor, intérprete, revisor e professor de inglês e português e escritor com seis livros publicados. Mas tudo isso só foi possível graças à rede de apoio que me cerca”, afirma Humberto.

Galeria de Fotos

Humberto Baltar, um homem negro autista com TDAH, dislexia, altas habilidades e superdotação (AHSD) Arquivo Pessoal
Humberto Baltar, um homem negro autista com TDAH, dislexia, altas habilidades e superdotação (AHSD) Arquivo Pessoal
Humberto Baltar, um homem negro autista com TDAH, dislexia, altas habilidades e superdotação (AHSD) Arquivo Pessoal


O multiprofissional que é Humberto personifica a vida para além do TEA, desafiando os estereótipos sociais que limitam indivíduos com essa e outras condições, especialmente quando se trata de pessoas negras.

“É importante sempre lembrar que quando falamos de autismo, falamos de transtorno e não doença. Comparam como se todo autista fosse igual, então precisamos desmistificar de que todo autista tem estereotipia, que não faz contato visual, não interage. Tem autista que vai fazer contato visual e vai interagir, mas que vai ter seletividade alimentar”, exemplifica Fernando Dugone, psicólogo com especialização em análise do comportamento aplicada e pós graduado em Autismo.
“Se quer ir rápido, vá só. Se quer ir longe, vá junto”
É com base na citação de Humberto de um provérbio africano que conto mais uma história que mostra a vida para além do TEA. A ONG Nóiz, atuante na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, promoveu um passeio para crianças e adolescentes autistas junto de seus familiares ao Pão de Açúcar. Foram cerca de dez jovens que visitaram pela primeira vez o ponto turístico saindo de suas rotinas, algo que é desafiador para pessoas com o transtorno.

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A ONG Nóiz, atuante na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, promoveu um passeio para crianças e adolescentes autistas junto de seus familiares ao Pão de Açúcar Divulgação / ONG NOIZ
A ONG Nóiz, atuante na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, promoveu um passeio para crianças e adolescentes autistas junto de seus familiares ao Pão de Açúcar Divulgação / ONG NOIZ


André Melo, presidente da instituição e pai atípico destaca: “As crianças especiais são cheias de rotinas, e neste dia foi realizado uma atividade diferente na vida delas, cercado de natureza, aventura e muito carinho. Foi uma tarde linda.”
Samara Oliveira, editora do PerifaConnection

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