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Solução polêmica! Rede estadual avalia aprovação automática de alunos

No entanto, eede municipal descarta tal artifício

Luciana Avelar discorda de aprovação automática para as filhas Maria Clara, 17 anos e Cecília, 13 anos
Luciana Avelar discorda de aprovação automática para as filhas Maria Clara, 17 anos e Cecília, 13 anos -

A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) avalia a aprovação automática para alunos do 3º ano do Ensino Médio que farão o Enem. Em nota, a pasta diz que para eles "seria garantida a oportunidade de conclusão de seus estudos e ainda, aos que desejarem, de retornarem em 2021 para aprofundar os seus estudos". Na rede municipal, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), responsável pela Educação Infantil e pelo Ensino Fundamental, não há decisão sobre aprovação automática.

"A SME vai aplicar uma avaliação no retorno presencial, que ainda não tem data definida, para verificar o estágio de aprendizagem do aluno e para que os professores realizem planejamento", diz a pasta.

Para Camila Neves, 36 anos, mãe de aluno do 9º ano, a justificativa não convence. "A pandemia começou no retorno as aulas, não tem como avaliarem sabendo que nem todos acompanharam as aulas online", diz.

Luciana Fernandes Avellar, 34 anos, moradora de Ipanema e mãe de Maria Clara, de 17, Cecília, 13, e Tiago, 8, está preocupada com a aprovação automática. A mais velha estuda na rede estadual, e os outros dois filhos na municipal. "Como a minha filha mais velha vai passar para o 3º ano se não estudou nada no segundo? A outra, que está no oitavo, vai passar para o nono e não teve o conteúdo do oitavo. E o meu filho que vai passar para o quarto ano sem ter tido conteúdo do terceiro. Não concordo", reclama.

 

Professora estadual faz desabafo

Uma professora da rede estadual falou, sob a condição de anonimato, sobre como encara a questão da aprovação automática. "Muitos colegas já estão percebendo esse movimento (aprovação automática) ou até ouviram algo sobre em reuniões de suas escolas. Percebemos uma movimentação para essa possível "aprovação automática" travestida de ensinoaprendizagem. Tais recomendações são oriundas das secretarias de educação. No estado, com a entrada do novo secretário, sabemos oficialmente do desastre que foi a plataforma Google Classroom. A adesão por parte dos alunos foi baixíssima. A preocupação maior por parte das secretarias são as séries de terminalidade (terceiro ano do ensino médio), Educação de Jovens e Adultos (EJA) e nono ano. Mas, de modo geral, a pressão para ‘resgate’ de alunos que evadiram ou mesmo que não conseguiram manter a interação via internet tem sido grande. A aprovação automática seria um erro. Aliás, mais coerente e menos injusto seria retomar de onde paramos. Não podemos aprovar nem reprovar! Isso é uma preocupação pedagógica. Não houve interação nas redes públicas. A vulnerabilidade socioeconômica e outras diversas complexidades estão inseridas nesse contexto de ‘aulas remotas’. Não é descaso dos alunos! É desigualdade social, o nome disso. Muitos querem, mas sequer possuem um bom pacote de dados”.

Sem condições de avaliação

Para Gustavo Miranda, coordenador do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro, não há condição de fazer nenhum tipo de avaliação no atual cenário. “Estudantes não tiveram acesso a um ensino que permitisse que o profissional ou o aprovasse ou o reprovasse. O debate não é só sobre aprovação, é também sobre reprovação, é um debate avaliativo. Para o SEPE, não tem nenhuma condição da gente produzir avaliação nesse momento. Aliás, essa é uma das demandas que a gente está levando tanto para o governo municipal quanto estadual para que não pressione os educadores a fazer a avaliação”, pondera Miranda.
Segundo o coordenador do SEPE-RJ, no que diz respeito à formação dos estudantes, a situação é catastrófica. “Perderam o ano quase todo. Talvez o ano todo se as aulas a gente não conseguir retornar, o que tudo indica. Mas sabemos que a diminuição desse prejuízo vai ser de maneira de garantir pelos próximos dois anos a reposição desse conteúdo. Não vai ter saída que implique numa rápida reposição desse conteúdo”, explica ele. “Não é acabando com as férias de janeiro, ou tendo aula no Carnaval, entre outras propostas que, às vezes, surgem que vai resolver esse problema. O ensino de alguns meses só pode ser reposto ao longo de alguns anos. A verdade é essa. Uma reposição de conteúdo com estratégia avaliativa posterior”, defende Miranda.

O que dizem as especialistas

Segundo Elaine Antunes, idealizadora do Curso Escreva, especializado em reforço de português e preparatório para redação de vestibular, é muito complexo afirmar se é contra ou a favor na questão da aprovação automática. Para ela, várias situações ocorrem ou ocorreram ao longo de todo esse período de pandemia, que merecem ser consideradas.
“Sou a favor da reprovação em relação àqueles alunos que não compareceram, não se comprometeram, não estiveram presentes nas atividades, por outro lado, a aprovação dos alunos que estiveram presentes, foram mais comprometidos, acho que tem que ser levado em consideração. Até porque também temos a questão psicológica, que tem que ser um fator considerado na discussão final das escolas para decidir se aprova ou não aquele aluno de terceiro ano”, pontua ela, que é professora de língua portuguesa.
Já a psicopedagoga Grace Falcão é da teoria de que nenhum aluno deveria ser penalizado pelo fato de ter ocorrido uma pandemia. “Terão prejuízos em relação ao Enem, mas ainda assim eles não deveriam ser penalizados. Se estão inscritos no Enem, eles farão a prova, provavelmente não terão uma boa classificação e aí terão oportunidade de fazer um pré-vestibular no ano seguinte”, avalia a especialista. “Em 2021, caso tudo volte à normalidade, eles seriam ouvintes e teriam chance de fazer um novo vestibular com condições de igualdade para aqueles que estudaram. A reprovação não. Claro que para outras series deveria ter um trabalho de compensação, ou seja, reforço das matérias principais, condensar algumas matérias e realmente dar aquele conteúdo mais importante, mas não penalizar o aluno”, defende.