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Felippe Valadão é denunciado ao MP por relator da CPI da Intolerância Religiosa após ofensas em show gospel

O pastor fez ofensas contra religiões de matriz africana. O prefeito da cidade, Marcelo Delaroli, também é alvo de uma denúncia, que também foi transferida para a Decradi

Pastor Felippe Valadão durante apresentação em Itaboraí, nesta quinta-feira
Pastor Felippe Valadão durante apresentação em Itaboraí, nesta quinta-feira -
Rio - O deputado estadual e relator da CPI da Intolerância Religiosa na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Átila Nunes (PSD), entrou com duas representações no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), na manhã desta segunda-feira (23), contra o pastor Felipe Valadão e o prefeito Marcelo Delaroli, após as falas do religioso contra religiões de matriz africana durante um show gospel em um evento oficial da prefeitura da cidade de Itaboraí.

De acordo com o deputado, é inadmissível que a prefeitura de uma cidade utilize recursos públicos para dar espaço somente a uma religião.

"Esse absurdo que aconteceu em Itaboraí é o reflexo da política do "terrivelmente evangélico". O prefeito de Itaboraí, assim como muitos prefeitos pelo país, usa recursos públicos para promoverem shows gospels para atender aos vereadores da bancada religiosa. Assim também tem sido no Congresso e nas Assembleias Legislativas", afirmou Átila Nunes.

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Pastor Felippe Valadão, acusado de intolerância religiosa Reprodução/redes sociais
Relator da CPI da Intolerância Religiosa Átila Nunes (PSD) Divulgação / CMRJ
Manifestação contra a intolerância religiosa em Itaboraí Reprodução/redes sociais
Pastor Felippe Valadão durante apresentação em Itaboraí, nesta quinta-feira Reprodução


Nas representações, o deputado pede o ressarcimento de R$ 145 mil gastos no show gospel de Valadão, além da condenação do prefeito no mesmo valor. O dinheiro será destinado às vítimas de intolerância religiosa. Além da ação no Ministério Público, Átila realizou uma denúncia na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), pedindo que a polícia instaure um inquérito para investigar as ameaças feitas publicamente pelo pastor de fechar os terreiros de umbanda e candomblé que funcionam em Itaboraí.

As denúncias apontam possíveis crimes de disseminação de ódio religioso e uso de dinheiro público privilegiando uma religião nas comemorações do aniversário de Itaboraí. A cidade completou 189 anos no último domingo (22) e organizou uma série de shows para as festividades. A abertura ocorreu na quinta-feira (19), com apresentação de Felippe Valadão.

Na ocasião, o prefeito Marcelo Delaroli estava no palco, assim como outros integrantes de seu governo, quando Valadão passou a proferir falas, em tom de ameaça, aos adeptos de religiões de matriz africana. Segundo o pastor, ele iria "converter" os líderes das religiões de matriz africana, ele ainda chamou os adeptos de "endemoniados". O pastou não parou por aí, segundo ele "o tempo da bagunça espiritual acabou. A igreja está na rua! A igreja está de pé!". No momento, o show estava sendo transmitido ao vivo pelo portal oficial da prefeitura.
Em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo, o prefeito se manifestou sobre o caso durante a manifestação de religiosos na cidade. "Foi marcada por um erro, um erro difícil de ser reparado, que a gente aqui é totalmente contra qualquer (ato de) racismo e intolerância religiosa. Nós estamos aqui para fazer o que for possível para amenizar esse grande problema".
Neste domingo, dia do aniversário da cidade, religiosos e lideranças de religiões de matriz africana realizaram um ato na Praça Marechal Floriano Peixoto, no Centro de Itaboraí, contra a intolerância religiosa e o pastor Felippe Valadão. A manifestação também contou com a presença de políticos como a deputada federal Talíria Petrone (Psol) e a vereadora de Niterói Benny Briolly (Psol).

O crime de intolerância religiosa prevê pena de um a três anos de reclusão e multa. Membros da Comissão de Matrizes Afro Brasileiras de Itaboraí registraram um boletim de ocorrência contra o pastor, na última sexta-feira (20) na 71ª DP (Itaboraí). Agora, o caso foi encaminhado à Decradi, no Rio. De acordo com a PM, todos os envolvidos serão chamados para prestar depoimento na delegacia. As imagens da apresentação de Valadão também serão analisadas.

A coordenadoria de Diversidade Religiosa da Prefeitura do Rio divulgou uma nota de repúdio contra o ato de intolerância ocorrido na última quinta-feira.

"Nos solidarizamos com os religiosos de matrizes africanas do município de Itaboraí, os quais sofreram ataques preconceituosos durante um show que comemorava o aniversário da cidade. O preconceito religioso possui um viés étnico racial e precisa ser banido de nossa sociedade. Entendemos que o respeito a todos os credos é a base da cidadania e que a laicidade é um patrimônio da democracia", declarou o coordenador executivo da Diversidade Religiosa no Rio, Pai Márcio de Jagun.
O pastor Felippe Valadão foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos.