Cr�nicas carnavalescas

Tem aquela marchinha mangando de Get�lio, ressuscitado por Sep�lveda, que o comparou a Lula

Por Fernando Scarpa, Psicanalista

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Rio - 'Quem não chora não mama, segura, meu bem, dá a chupeta...' Não existe Carnaval sem marchinha, assim como não há marchinha que não brinque com o social e o político. Elas contam a história do Brasil em letras engraçadas, são os 'cronistas de marchinhas', sempre ligados no momento. Enquanto o povo ri, canta e bebe, os homenageados amargam; afinal, o tom é crítico, e o repertório é grande, aprontam muito.

A maioria dos políticos são como os bebês: quando choram, ganham a soltura, sempre se leva vantagem. Embora seja Carnaval, a pauta da corrupção se repte como refrão: tudo acaba em pizza ou em samba. Pizza à Constituição, já comemos. Sambemos então?

O ministro Gilmar Mendes recebeu graciosa homenagem do veterano de todo os carnavais, João Roberto Kelly. Inigualável em musicar personagens com fino humor. Em 'Alô, alô, Gilmar, eu tô em cana, vem me soltar', eternizou na marcha o que milhões de brasileiros pensam: é o maior soltador da história do STF, que há muito não se via constrangido a julgar os padrinhos e amigos.

O modelo de juiz indicado funciona em repúblicas em que a corrupção não se disseminou como aqui. Nas palavras da ministra que ainda não foi, "quem que passa na cabeça de alguém...?" Na dos ministros esse "quem" só pode ser de quem o indicou, é a tentação para salvar o benfeitor. Para nós, palavras bonitas de justiça; para os réus, os que amam apodrecer nas filas que não julgam, a prescrição da pena. Sentados no processo, fazem dele a almofada que molda a bunda em perversas relações. Vale a pena esperar nessa fila. Enquanto isso, outros aguardam, em outra fila, a morte por falta de atendimento. Mas é Carnaval, não vamos aborrecer...

"Bota o retrato do velho na parede", cantava a marchinha mangando de Getúlio, ressuscitado por Sepúlveda, que, em socorro a Lula, decidiu comparar ambos esperando colher grande feito para o réu. Não tem jeito, Lula, Getúlio e Gilmar e tantos outros caíram no Carnaval, ridicularizados na boca do povo. Getúlio ficou aborrecido, foi adjetivado de velho, pensou em censurar, acabou aquiescendo. Gilmar, não sabemos ainda o que sentiu. Será que vai pedir ajuda para a PF? "Não me leve a mal, hoje é Carnaval" e ninguém escapa de "uma conversinha boa..."

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