Aos 30 anos, Gabriel Christo deixou de ser ginasta, mas ainda se sente um atleta. Ex-integrante da seleção brasileira de trampolim, ele continua malhando, treinando e rodando o mundo, mas há quase dez anos trocou as competições pelo prazer de integrar o mágico Cirque du Soleil. Foi assim que ele chegou em dezembro ao Parque Olímpico da Barra para o espetáculo 'Amaluna', que encerra neste domingo as suas apresentações no Rio.

"Ainda me sinto um atleta. Nós treinamos como atletas, nos alimentamos como atletas, temos a mesma carga horária de um atleta de alto nível, mas não estamos competindo. Temos apresentação todas as noites. Essa é a melhor parte. Não existe o estresse da competição. Todos os dias mais pessoas ficam felizes com o que você faz. Esse compartilhamento de energia com o público é único", afirma Gabriel.

Como atleta, ele sonhava com os Jogos de Pequim-2008 quando chamou a atenção de um olheiro do Cirque du Soleil numa competição no Canadá: "A princípio, neguei porque queria continuar competindo. Mas quando voltei para o Brasil sem a classificação para Olimpíada, com os patrocínios cortados e vendo que o sistema de treinamento em Curitiba ia dar uma parada, vi que era o momento ideal para entrar em contato com eles".

Mesmo faltando o sonho olímpico, Gabriel faz um balanço positivo como atleta: "Ficou faltando a Olimpíada. Não precisava ser a de Pequim. Poderia ter continuado treinando mais quatro anos e ter tentado de novo. Mas achei que cumpri tudo na vida de atleta, exceto a Olimpíada. No fim das contas, eu olhei minha carreira e estava satisfeito, orgulhoso de mim, de onde cheguei e decidi começar uma nova etapa".

A trajetória na ginástica — que começou ainda criança porque ele queria aprender a dar um mortal — foi decisiva para que entrasse num mundo tão sonhado por tantos artistas. "Ter sido atleta foi fundamental para eu estar aqui hoje. O circo sempre contrata pessoas que já são extremamente experientes em qualquer ramo em que eles estejam. A minha vida de atleta foi muito boa porque eu consegui realizar quase todos os meus objetivos. Os meus melhores amigos eram da ginástica olímpica, que era onde a gente passava a maior parte do dia. Eu viajei o mundo. Eu competi. Eu fiz parte da seleção brasileira. Tudo isso me deu a experiência fundamental para eu estar aqui hoje", avalia.

O primeiro contato com o Cirque du Soleil foi mágico: "Fiquei obcecado pelo estúdio em Montreal. Um local enorme, colorido, alegre. Os shows são lindos. De cara eu me apaixonei e tive a certeza de que tinha tomado a decisão correta".

De lá para cá, Gabriel conheceu 40 países e aprendeu como é a vida no circo. "Às vezes parece que estamos de férias, apesar do tanto que treinamos. Estamos sempre viajando. Mas tem um lado difícil, de não ter nada permanente, não poder comprar as coisas porque tem limite de peso, não estar presente nas festas de família. Relacionamentos são muito difíceis. É uma vida totalmente diferente da normal. É uma experiência única que vale a pena ser vivida durante alguns anos, mas não para sempre, pelo menos para mim", pondera.

Gabriel conta que a magia do circo, que encanta plateias pelo mundo, é fruto de muito suor e trabalho: "O que vocês veem no palco é mágico. Eu assisto também e ainda sou fã. Mas a gente realmente se dedica para estar mágico daquele jeito. É muito treinamento. No fim das contas, quando vemos que é muito bem aceito pelo público, é um prêmio para nós. Mas não é um mundo perfeito. Temos nossos momentos difíceis. Mas quando você faz o que você gosta tudo fica tranquilo depois. As fases ruins passam e as fases boas tomam conta depois".