Sofrimento em busca de matrícula para os filhos nas escolas públicas
Dificuldades estão nas redes estadual e municipal. No Méier, pais dormem na fila de colégio há três dias
Por WILSON AQUINO
O ano letivo nas escolas públicas do Rio começa na próxima segunda-feira. Porém, muitos alunos ainda não sabem onde e nem se vão estudar. Isso porque foram inscritos em escolas de bairros longe de casa ou, simplesmente, porque não conseguiram se matricular.
A informatização do sistema de matrícula, adotado tanto pela secretaria municipal quanto pela estadual de educação, é apontado por pais e professores como o grande vilão dessa história. "Está uma confusão muito grande", afirma a coordenadora do Sindicato dos Professores (Sepe) Marta Moraes.
"Não permitiram matrícula no balcão da escola. Somente pela internet. O problema é que muita gente não tem ou ou não sabe mexer no computador", explicou a professora, denunciando que o "sistema inteligente" matriculou muitos alunos em bairros distantes de onde residem. Foi o caso da Maria Letícia, 15 anos, que mora na Freguesia, em Jacarepaguá, e foi colocada em uma escola no Complexo da Maré. "Claro que não vou deixar. Tem gente armada até o pescoço lá dentro", contou o pai da menina, o administrador Leonardo Monteiro, 38 anos, que está há três dias, com pelo menos outros 30 pais, em uma fila na porta do Colégio Estadual Hispano Brasileiro João Cabral de Melo Neto, no Méier, tentando transferência para a filha. A expectativa é de que abram as últimas chances de matrícula na unidade hoje.
Segundo ele, na primeira fase de matrícula, selecionou três colégios estaduais para Maria Letícia, que em 2018 começa a cursar o primeiro ano do Ensino Médio. "Mas, para minha surpresa, ela não foi inscrita em nenhuma das três opções", lamentou Monteiro, que pretende acionar a justiça caso não consiga transferir a filha. A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que não foi detectado e nem relatado qualquer problema nos meses em que transcorreu o processo de matrículas, quando cerca de 320 mil alunos se cadastraram. "Atualmente, a rede estadual de ensino está na fase de preenchimento de vagas remanescentes, quando as matrículas são feitas diretamente nas unidades de ensino. A Seeduc garante que nenhum aluno que queira estudar na rede estadual ficará sem vaga neste ano letivo".
Situação pior enfrenta a diarista Evelyn Gontijo, 23. Ela não conseguiu vaga na pré-escola para a filha, Mirela, de 4 anos. "Estou desde outubro tentando fazer a matrícula, mas o sistema só vive fora do ar", reclamou, que já procurou cinco escolas municipais em vão. A Secretaria Municipal de Educação (SME) admite que o sistema apresentou problemas, mas foram sanados. "Quem não tiver acesso à internet pode se dirigir a um dos polos de atendimento com internet gratuita ou a uma escola", informou a SME.