Cada vez mais moradores de favelas têm tido a preocupação de serem os protagonistas na produção de indicadores de seus territórios. Sob essa perspectiva, o Fala Roça, organização de mídia da Favela da Rocinha, lançou ontem a segunda edição do Mapa Cultural da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Feito 100% por moradores, o mapeamento identificou mais de 150 iniciativas culturais, mostrando o potencial cultural e de economia criativa da comunidade.
Um dos destaques desta edição é que muitas iniciativas culturais foram criadas ou são coordenadas por mulheres. Além disso, a oferta de aulas de reforço escolar foi identificada em várias organizações locais para suprir os impactos da pandemia da Covid-19, que afetou a rede de ensino.
Para Michel Silva, coordenador do Fala Roça, o estudo é uma oportunidade para apoiar na construção de políticas públicas locais e garantir mais dignidade aos moradores.
"Devido à densidade e tamanho populacional, a desinformação sobre ações culturais na Rocinha é visível. É comum ouvirmos perguntas sobre a existência de projetos sociais que possam atender demandas de moradores em que muitos casos são desassistidos de políticas sociais e públicas. Portanto, o mapa é uma ferramenta para reunir essas informações e torná-las acessíveis".
O mapa é voltado para moradores da localidade que querem conhecer a cultura da favela, para colaborar com que os governantes elaborem novas políticas públicas em conjunto com as organizações locais e também para as empresas que possuem políticas de responsabilidade social. É esperado que a população contribua para que mais iniciativas culturais sejam identificadas por lá. Para acessar o mapa, basta entrar no site da iniciativa: www.falaroca.com/mapa.
O nascimento da iniciativa
A primeira versão do Mapa Cultural da Rocinha surgiu em 2015 e foi feita com o auxílio de um aparelho celular e um aplicativo de GPS para identificar as coordenadas geográficas, já que não há como localizar as iniciativas culturais porque, historicamente, a favela não tem CEP (quando existe). Na época, cerca de 100 iniciativas culturais foram identificadas pelo Fala Roça.
"A primeira versão do mapa foi criada como uma forma de afirmação política do território. Na nova versão, entendemos a importância de gerar nossos próprios dados. O novo mapeamento é mais estruturado e treinamos a equipe formada por moradores que foram responsáveis pela pesquisa de campo. Debatemos o que queríamos mapear e entendemos com clareza as ações desenvolvidas no território", explica Michel.