E se eu te dissesse que uma comunidade inteira se uniu em prol da construção de um livro que contasse sobre as relações de afeto criadas naquele lugar, você acreditaria? Pois esta história existe e será lançada na próxima Bienal do Rio de Janeiro, pela Editora Conejo, que acreditou nesse sonho.
O livro Comunidade do Fumacê FMC foi idealizado por um de seus moradores mais ilustres, o escritor, poeta e entusiasta da cultura Bruno Black, que conta com a parceria de Carla Moraes e Alcione Gimenes, dona da editora. O Fumacê fica localizado no bairro de Realengo, na divisa com Magalhães Bastos, Zona Oeste da cidade, colado na Avenida Brasil, e é o palco das mais variadas histórias e vivências de alegria, tristeza, superação, relatos do cotidiano e fé.
"Um livro de histórias reais de pessoas normais como qualquer ser humano", afirma Bruno Black.
É um livro lindo, plural, um exercício de escuta afetiva de uma população que está cansada de ser vista apenas por suas mazelas e que quer espalhar para o mundo o que precisa ser dito: favela é lugar de potência, sim!
E, partindo dessa inquietação, Bruno Black vai atrás das escrevivências do passado e do presente, que constituem esta rica história, para além do que um sociólogo pode estudar ou um jornalista tem a dizer quando vão à comunidade. As conversas com os moradores sobre o que elas sentiam e vivenciavam se iniciaram.
"Uns começaram a escrever, quem não sabia escrever começou a falar e eu comecei a anotar", relata Bruno.
Isso gerou um resultado bem particular no livro: tem todo tipo de gente envolvida. De crianças com TDAH, autismo, pessoas em situação de rua, que residem em seus carros, até uma senhora de 98 anos. Também tem escritores, cantores, pintores, poetas e advogados. Todos com histórias incríveis sobre a comunidade. E aí que se encontra a riqueza deste trabalho, pois se descobre de tudo um pouco nessa realidade, da tia da escola de samba a que possui animais exóticos na beira do rio e muito mais.
O livro ainda conta com o prefácio de Paulinho Sereno, do grupo Vou Pro Sereno, a orelha feita pela Rogéria Xavier, uma liderança comunitária do Fumacê, ilustração de capa por Rafael Santana, que mora em São Paulo, mas comprou esse desafio e quatro ilustrações internas de Sidney Caixote, também morador da comunidade.
Todos temos o direito de sonhar, viver e mudar a realidade que vivemos e, como diz o poeta mais famoso do Fumacê, Bruno Black: "Se tens um dom, seja!".