O corpo das periferias do Brasil

PerifaConnection completa 5 anos com representatividade em mais de 10 estados do Brasil
PerifaConnection completa 5 anos com representatividade em mais de 10 estados do Brasil -
“To na correria aqui”, “Maior corre hoje”, se você é jovem de favela é certo que essas sejam frases bem comuns no seu dia a dia, seja ouvindo ou falando. Essa correria tem um objetivo claro: melhoria para as periferias. Não é sobre normalizar, muito menos romantizar esse corre que na real seria incrível se não precisasse existir se vivêssemos numa sociedade igualitária em que o racismo não fosse o principal sistema de opressão, mas é sobre o que acontece de fato.

Jovens pretos, jovens periféricos lutando para comunicar, formar e articular melhorias para o seu território. Não à toa, são essas as três principais frentes do PerifaConnection que completa 5 anos de existência. São favelados que juntaram suas correrias pelos seus territórios e os transformaram numa organização com impacto efetivo para diversas periferias do Brasil.

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PerifaConnection completa 5 anos com representatividade em mais de 10 estados do Brasil Divulgação
1º encontro nacional do PerifaConnection em junho de 2022 Divulgação
1º encontro nacional do PerifaConnection em junho de 2022 Divulgação

LAB Clima e Periferias, Agenda Política das Periferias, Bolsa Solano Trindade, Lab Afrobrasilidades, Mapa da África nas Escolas, além de participação nas quatro últimas conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, fundação de iniciativas como a Coalizão Negra por Direitos, a campanha “Agora é a Hora” e “Tem Gente com Fome” em parceria com organizações como ONG Criola, Movimenta Caxias, UNEAFRO e Instituto Marielle Franco são algumas dessas ações de impacto que o PerifaConnection vem construindo nesses 5 anos.

É ‘viver o poder da periferia para a periferia ter bem-viver’ na prática, pegou a visão? Se não, chega junto aqui que eu te explico. O poder da periferia está presente no corre do dia a dia quando somos excluídos de direitos e a partir dessa violência somos capazes de criar mecanismos para driblar essas omissões e ter acessos a esses direitos que deveriam chegar em nós. É o mototáxi ou o uber específico da favela porque falta transporte público. É o aplicativo de delivery também só da favela já que os “tradicionais” não chegam até nós. É o rateio – a famosa vaquinha – para ajudar algum vizinho com uma cesta básica ou uma universitária a fazer o intercâmbio que conseguiu. É lutar para ter um endereço reconhecido para que as encomendas cheguem em casa e para obter um comprovante de residência necessário para solicitar documentos. Isso tudo nos leva a outra voz do PerifaConnection que ressalta que “Somos o corpo das periferias do Brasil”.

Somos esse corpo quando gritamos para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que não somos “Aglomerados Subnormais”, como usavam no Censo Demográfico — ferramenta utilizada pelo órgão para contar os habitantes do território, identificar suas características, revelar como vivem os brasileiros, entre outros dados — e sim, somos favela!

Parafraseando Emicida em “Principia” somos o corpo das periferias do Brasil quando “tudo que nóis tem é nóis”. Nas enchentes que escancararam o racismo ambiental, nas reconstruções das favelas após serem atingidas também pelo braço armado do Estado.

Apesar do pesares, celebramos nosso quinto ano de existência com vitalidade, potência e intelectualidade da juventude negra das periferias, estendendo nossa rede por mais de dez estados brasileiros. Comprometidos com a transformação da realidade, disputamos narrativas sobre as periferias. Estamos presentes, a partir da nossa rede, no Sudeste, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais; no Sul, no Paraná e no Rio Grande do Sul; no Nordeste, nos estados de Maranhão, Ceará, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte; Na região Centro-Oeste, em Brasília e Mato Grosso do Sul. Nossos primeiros cinco anos de muito corre que resultou em muita melhoria para os nossos.

Não existe política de reparação sem a construção de um país a partir do olhar negro periférico. Vida longa ao PerifaConnection!
Samara Oliveira, editora do PerifaConnection

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