Orgulho LGBTQIAP+: Famílias diversas

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Joyce conta que no início do processo de autodescoberta como mulher bissexual sentiu muitos receios
Joyce conta que no início do processo de autodescoberta como mulher bissexual sentiu muitos receios -
Joyce Salvador, de 30 anos, é escritora, ativista, mãe solo de Lay e Akin, de 13 e 6 anos, e desde sua juventude compartilha com amigos e seguidores nas redes sociais os pensamentos e as vivências de ser uma mulher negra e cria da baixada.

Ela conta que no início do processo de autodescoberta como mulher bissexual sentiu muitos receios, que não eram sobre o que a sua família ou vizinhos iriam pensar sobre a sua maternidade, mas sobre o que é ser parte da comunidade LGBTQIAPN+ e as violações que partem do preconceito e da discriminação.

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Joyce Salvador, de 30 anos, é escritora, ativista, mãe solo de Lay e Akin, de 13 e 6 anos Nellen Vavarro / Divulgação


Foi buscando referências sobre educação positiva que a influencer percebeu a importância de conversar sobre diversidade durante a infância, construindo espaços de conforto, diálogo e acolhimento para si mesma e para as suas crias. O incentivo à cultura foi uma das peças-chave nessa relação, e a programação favorita de Joyce, Lay e Akin se tornou conhecer espaços culturais, cinemas e assistir peças de teatro infantil.

Joyce conta que eles já foram em vários espaços pela Baixada, mas sentem diferença entre a variedade de ações que acontecem nos espaços culturais de outras zonas do Rio, e que a família passou a se deslocar por toda a cidade para acessar outras programações culturais. Hoje eles tem um podcast com 10 episódios sobre o dia-a-dia da família, um bate-papo entre a Joyce, Lay e Akin, que trazem histórias e pensamentos sobre saúde, escola, respeito e família.

“Familia são as pessoas que amam a gente, que acolhem a gente. Se você não veio de uma família acolhedora, uma família acolhedora pode vir de você. Ainda dá tempo de você mudar isso”, comenta a escritora e co-autora do livro “Mães Pretas: Maternidade Solo e dororidade”.

Através das redes sociais e rodas de conversa, a família traz conteúdos sobre o cotidiano e provocam, de forma criativa, outras famílias a pensarem sobre as mudanças nos formatos das famílias, da educação e das relações ao longo do tempo.
É importante falar que a gente existe
Dhiego Monteiro, de 27 anos, é transmasculino, educador popular, cria de Nova Iguaçu e doula, profissional que oferece serviços de suporte emocional, físico e educacional para gestantes. Dhiego atua também como palestrante sobre comunicação inclusiva e, em seus conteúdos sobre gestação, o profissional chama atenção para as violações obstétricas, assim como a importância de reconhecer e reportar essas violências.

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Dhiego conta que em sua atuação é comum ouvir críticas sobre a existência de masculinidades que gestam Arquivo pessoal
“Ser uma família diversa tem seus desafios, suas dificuldades, as faltas de acessos, mas também precisamos entender que somos família como qualquer outra. Famílias normais que vão dar uma boa criação, amor e afeto. Sem todos esses estereótipos que só contribuem para a marginalização das nossas famílias na sociedade”, conta o comunicador e pesquisador, que há 2 meses deu à luz gêmeos.

Entre a criação de redes de apoio e a busca pelo acesso à saúde de qualidade, o comunicador e doula comenta sobre como o medo das micro e macroviolências pode tornar vulnerável a gestação de pessoas transmasculinas. Uma dessas violências explícitas é o ato de atribuir um casal de duas mulheres ou um casal trans, por exemplo, como uma relação exótica, contribuindo para que famílias LGBTQIAPN+ em geral, evitem buscar esses espaços de saúde para cuidados, informação e acolhimento.

“É preciso falar que a gente existe”, Dhiego conta que em sua atuação é comum ouvir críticas sobre a existência de masculinidades que gestam, e pontua sobre a falta de dados sobre a comunidade trans e seu acesso à saúde parental, em como conteúdos como este, reproduzidos também por doulas, invisibilizam as histórias de famílias LGBTQIA+, sobretudo, corpos que gestam.

“Existe muita exotificação e ela é uma das coisas que fazem com que a gente não acesse direitos básicos como saúde e educação”, conta o profissional.

Rahzel Alec, comunicador e colaborador do PerifaConnection

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