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Maranhão em Parada de Lucas

Por Meia Hora

Publicado às 16/06/2024 07:00:00 Atualizado às 16/06/2024 07:00:00
Bumba Meu Boi se tornou uma festa religiosa, que tem o São João como protetor
O maranhense Almir Silva Costa e alguns conterrâneos tiveram a ideia de fazer um boi de trinta centímetros para festejar e relembrar suas raízes no quintal de casa, em Parada de Lucas, em 1982. Após cinco anos, o boi passou a ter 1,3 metros e ocupar a rua Joaquim Rodrigues para que a vizinhança começasse a festejar com o Grupo Folclórico Brilho de Lucas.

Inicialmente, os batuques em balde, lata e instrumentos de percussão causaram estranhamento nos moradores do bairro da Zona Norte, que não sabiam que aquela tradição cultural se tratava do Bumba Meu Boi.

A festa tem origem em uma lenda maranhense que conta a história de mãe Catirina e do pai Francisco, dois negros escravizados que viviam em uma fazenda. Após ficar grávida, Catirina fala para Francisco que está com desejo de comer a língua do boi mais bonito do patrão. Mesmo com medo de arrumar problema, o pai captura o animal para que o filho não nascesse com cara de boi, mas o plano é descoberto pelo capataz.

O patrão ameaça matar o casal, caso eles não ressuscitem o animal. Com a ajuda dos doutores do mato, pajés e feiticeiros, eles fazem um ritual e o animal ressurge dançando.

A partir dessa história, o Bumba Meu Boi se tornou uma festa religiosa, que tem o São João como protetor. No Maranhão, os bois de promessa são construídos como cumprimento de juramentos. Já no Rio, um altar com imagens do santo recebe rezas de agradecimento e de liberação para o boi festejar.

Além do boi, o cacuriá e o tambor de criolo tomam a mesma rua de Parada de Lucas, sempre no mês de junho, há mais de três décadas.

Em média 800 pessoas frequentam a festa. Decorações ganham vida em mais de 100 metros de rua. “As pessoas chegam, são bem-recebidas, interagem e fotografam. Não tem lugar onde elas não possam entrar”, conta Orlando Silva, coordenador do grupo e irmão de Almir, que faleceu durante a pandemia de Covid-19.

Junto com o grupo, Orlando segue preservando a tradição maranhense na Zona Norte do Rio e lamenta pela falta de incentivo do poder público.

“Vamos fazer 37 anos e nunca recebemos a visita de um representante da secretaria municipal de cultura, mesmo a nossa tradição estando no calendário oficial de festa do município do Rio”, afirma o coordenador. “Nós somos os fazedores de cultura e esses órgãos dependem da gente. Não somos nós que dependemos deles. Eles existem porque nós existimos primeiro.”

O Brilho de Lucas deste ano será realizado no próximo sábado, 22 de junho, na rua Joaquim Rodrigues, nº 169, em Parada de Lucas, a partir das 19h.

Marcos Furtado, jornalista e colaborador do PerifaConnection
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