No próximo sábado (29/03), às 17h, o documentário "Tem um Quilombo no Quintal de Casa" estreia com sessão gratuita no Goméia Galpão Criativo, em Duque de Caxias. O curta, dirigido por Rute Sant’Anna, traz a história e a força do Quilombo de Bongaba, um dos três territórios quilombolas certificados em Magé, na Baixada Fluminense.
O documentário resgata a memória e a identidade da região, misturando história, ancestralidade e resistência. Inspirado nos escritos do grande líder Antônio Bispo dos Santos (Nêgo Bispo), o filme destaca a importância de reconhecer a Baixada como território quilombola.
“Desde o início, este filme foi pensado como um resgate de memória e uma provocação sobre a Baixada Fluminense. Embora muitos a vejam apenas como um lugar de passagem, ela é um território de existência, resistência e história viva. Esse filme nasce do desejo de dar visibilidade e reforçar que a Baixada é um território quilombola, de luta e de organização”, afirma Rute, diretora do projeto.
O filme foi realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo e tem uma equipe inteiramente feminina do audiovisual baixadense, composta por Bárbara Martins (câmera, edição e assistência de roteiro/direção), Mirella Souza (produção executiva) e Larissa Carvalho (som direto, trilha e finalização). “Faz toda a diferença uma história ser contada por mulheres, ainda mais quando são do mesmo território. O cuidado em cada detalhe – das visitas ao quilombo e ao terreiro à escolha das imagens e sons – reflete nosso repertório como mulheres da Baixada. Criadas aqui, atuamos em áreas ainda dominadas por homens e fazemos questão de valorizar os saberes umas das outras. Foi bonito perceber como a história do território se cruza com as nossas próprias raízes. A Baixada é linda e compartilhar esse processo com mulheres que dividem tantos afetos foi transformador”, afirma Bárbara Martins.
As filmagens aconteceram ao longo de 2024, com participação ativa dos moradores do quilombo, que é dividido em duas partes: a comunidade Refúgio Caioaba, onde vivem os remanescentes quilombolas, e o terreiro de candomblé Ilê Asè Ogun Alakoro, que além de ser a sede do quilombo, desempenha um papel essencial na preservação cultural e no fortalecimento da identidade local.
Para contar essa história, o documentário traz depoimentos de três vozes fundamentais do quilombo: Júlio Cesar Coelho, remanescente quilombola nascido na comunidade; o Babalorixá Paulo de Ogum, líder religioso e referência civilizatória do quilombo; e Philippe Moreira, historiador e filho do Ilê Asè Ogun Alakoro, que pesquisa o Quilombo de Bongaba em sua tese de doutorado.
Com um olhar sensível e potente, "Tem um Quilombo no Quintal de Casa" é mais do que um documentário: é um ato de memória, ancestralidade e resistência. A exibição gratuita rola no sábado (29), às 17h, em Duque de Caxias.
Por: Isabelle Venancio, coordenadora de comunicação do PerifaConnection.