Lula entre a pris�o e as urnas

Tend�ncia � que STF conceda habeas corpus a ex-presidente. Registro de candidatura � mais complicado

Por O Dia

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Rio - O Supremo Tribunal Federal se tornou, nos últimos anos, uma caixinha de surpresas. No entanto, pelas declarações públicas - até em excesso - dos ministros, as apostas dos especialistas são no sentido de que, na sessão da próxima quarta-feira, a Corte vai mudar o entendimento em relação à prisão após condenação em segunda instância e, com isso, conceder um habeas corpus para o ex-presidente Lula. A decisão vai contrariar a posição do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato. Mas, nos meios jurídicos, de modo geral, as opiniões estão divididas. Já quando se olha o quadro político, o posicionamento do Supremo vai marcar o início de uma nova fase da corrida presidencial.

"É difícil arriscar qual dos dois lados vai vencer esse cabo de guerra, mas qualquer que seja a decisão de quarta-feira, o Supremo perderá e vai sofrer ataques. Se mantiver a prisão em segunda instância, a decisão será equivalente a mandar prender o Lula. O Tribunal vai ser acusado de conspiração contra o PT, de proteger os outros e perseguir o Lula. Se não prender, muitos - na verdade, a maioria - vão dizer que a impunidade venceu", diz o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas.

O que será decidido?

O ex-presidente Lula pede ao Supremo Tribunal Federal para não ser preso até que haja uma posição final da Justiça sobre o seu caso, o chamado "trânsito em julgado". O argumento da defesa é o "respeito ao direito fundamental à liberdade" de todo cidadão.

Esse direito estaria amparado, na visão dos que se alinham ao time de defensores de Lula, em um trecho do Artigo 5º da Constituição: "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".

Em outubro de 2016, no entanto, o Supremo autorizou a prisão após uma condenação em segunda instância. Na época, o ministro Gilmar Mendes disse que "há diferença entre investigado, denunciado, condenado e condenado em segundo grau". Com o voto de Gilmar, esse entendimento prevaleceu no plenário por 6 votos contra 5.

No entanto, Mendes mudou de ideia menos de um ano depois e passou a pressionar os outros ministros para que a decisão fosse revista. O habeas corpus de Lula tem, como disse o ministro Fachin em uma decisão que consta do processo, essa questão como "matéria de fundo".

Assim, uma discussão de doutrina jurídica está enredada com o destino de Lula e com todas as implicações políticas da eventual prisão do candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto para presidente a seis meses da eleição.

"A expectativa é que haja a concessão do habeas corpus e que a prisão em segunda instância não tenha efeito imediato", diz Erick Pereira, presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB. "Pode não ser o que a opinião pública quer, mas é o que a Constituição prevê".

Caso a expectativa não se realize e o habeas corpus seja negado, a 13ª Vara Federal de Curitiba poderá expedir uma ordem de prisão contra Lula, o que não demorará mais do que poucos dias, já que o titular do juízo é Sérgio Moro.

Opini�es divididas entre juristas

A concess�o do habeas corpus a Lula e a pris�o ap�s julgamento em segunda inst�ncia s�o temas debatidos nas ruas e entre os profissionais do Direito. E o �nico consenso � que um pedido de vistas que adie a decis�o ser� a pior das alternativas. "� improv�vel", diz Erick Pereira. "O Supremo tem que saber da sua responsabilidade; tem que saber que decidir r�pido e da melhor forma � o ideal", defende o presidente do Conselho Executivo da Associa��o Ju�zes para a Democracia (AJD), Andr� Augusto Salvador Bezerra.

Amanh�, dever� ser entregue ao Supremo um abaixo-assinado defendendo a continuidade do entendimento atual que teve a aquisi��o de pelo menos seis centenas de ju�zes e promotores de todo o pa�s.

"Nada justifica que o STF revise o que vem decidindo no sentido de que juridicamente adequado � Constitui��o da Rep�blica o in�cio do cumprimento da san��o penal a partir da decis�o condenat�ria de segunda inst�ncia. A mudan�a da jurisprud�ncia, nesse caso, implicar� a libera��o de in�meros condenados, seja por crimes de corrup��o, seja por delitos violentos, tais como estupro, roubo, homic�dio etc.", diz o abaixo assinado.

J� Bezerra defende o entendimento que existia at� 2016. "� muito preocupante relativizar direitos fundamentais, eles t�m que ser cumpridos na melhor forma poss�vel. Eu espero � que o STF n�o d� por suficiente uma decis�o de segunda inst�ncia".

SEM FICHA LIMPA

Ciro poderia herdar votos - Divulga��o / Ag�ncia Brasil

Ainda que a defesa de Lula consiga evitar uma prisão, isso não significa que o ex-presidente poderá disputar a eleição. "São dois aspectos diferentes, um é com relação a um efeito de natureza penal e o outro é uma discussão sobre direitos políticos. Houve a condenação por uma colegiado de juízes. Então, hoje Lula é inelegível (de acordo com a Lei da Ficha Limpa). Mas ele pode pedir concessão de efeito suspensivo para suspender a inelegibilidade", diz Erick Pereira, da OAB.

"Tenho certeza que ele já sabe que não será candidato, está só marcando posição, está fazendo o papel dele para tentar a possível prisão dele como um ato politico, e ele não tem nada a perder fazendo aparições públicas", acredita Sérgio Praça. "A lei é muito clara".

"Quando for se registrar, Lula tem que apresentar a liminar de efeito suspensivo. A elegibilidade é verificada nesse momento", lembra Erick Pereira.

No cenário mais provável, Lula cederá o espaço para um outro candidato petista. O prazo para registrar candidaturas termina às 19h do dia 15 de agosto. "Sem Lula, todos os candidatos hoje colocados na disputa ganham, sem exceção. Acho que, especialmente o Ciro Gomes herda os votos do Lula, mas não só ele. O jogo será outro".

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