Quando a Mangueira contratou, em 2016, um carnavalesco que havia assinado apenas um desfile na Série A, o mundo do samba viu a aposta com temor. Quatro anos depois, com a conquista de dois campeonatos por Leandro Vieira, 35 anos, a escolha de profissionais em ascensão é tendência para 2020. Oito novatos no Grupo Especial prometem modernizar o espetáculo.
A Grande Rio optou pela dupla Gabriel Haddad, 30 anos, e Leonardo Bora, 32, vindos da Acadêmicos do Cubango, para o lugar de Renato e Márcia Lage. A Mocidade trouxe Jack Vasconcelos, 41 anos, responsável pelo vice-campeonato da Paraíso do Tuiuti em 2018, para o lugar de Alexandre Louzada, cinco vezes campeão no Rio. Além de abusar da criatividade e reaproveitar materiais, a nova geração prioriza a criação de enredos culturais e não apenas o impacto visual.
"A falta de dinheiro destaca o talento. Arte, para dirigente de escola de samba, é a que cabe no bolso. E a capacidade de adaptação de quem vem do Acesso é maior", acredita Leandro Vieira. Jorge Silveira, 38 anos, da São Clemente, discorda. "Apesar da maioria ter pouco tempo assinando desfiles, todos trabalham há anos servindo a vários carnavalescos".
"Mais do que uma tendência, é uma renovação natural. Cada ano, o espetáculo se oxigena de uma forma. Este ano se direciona aos dirigentes artísticos", diz Edson Pereira, 41, da Vila Isabel
A Estácio de Sá, que sobe da Série A, vai manter pelo sexto ano Tarcísio Zanon, 32 anos. "São carnavais cada vez mais conceituais e menos ricos, de fácil comunicação, E o povo está acolhendo o que vê. Usamos reciclagem e criatividade ao invés de luxo e glamour", diz.
Já João Vitor Araújo, 33 anos, assume a Paraíso do Tuiuti, vindo da Unidos de Padre Miguel. "A gente pensa o Carnaval como uma manifestação mais cultural, não apenas o entretenimento puro, a beleza pela beleza", explica.
Enquanto Louzada e Rosa Magalhães estão livres, a Portela contratou o casal Lage para a função. "Alguns carnavalescos são grifes. As escolas estão experimentando coisas novas, mas grifes nunca saem de moda.", reconheceu Leandro Vieira. "Temos muito respeito pelo legado", reiterou João Vitor.
"Não é uma questão dos novos substituírem o que está obsoleto, muito longe disso. A gente bebe na fonte deles, são nossos professores e incentivadores", disse Jack, que acrescentou: "É uma honra substituir o Louzada, ainda mais na Mocidade e para conduzir um enredo sobre Elza Soares, esperado há mais de uma década".