Com 18 anos de carreira, Bárbara Sut pode ser vista em dose dupla na telinha. Ela está no ar como a personagem Sônia em "Amor Perfeito", da TV Globo, que apesar do passado sofrido, tem vivido bons momentos ao lado de Júlio (Daniel Rangel). O trabalho da artista também pode ser visto em "A Sogra que te Pariu", da Netflix. Na série, ela dá vida à Márcia, uma jovem divertida, descolada e cheia de amor pra dar. Além de atriz, ela ainda é cantora. Seu primeiro álbum, "Calor", foi lançado em 2022 e está disponível em todas as plataformas digitais. Ao Meia Hora, Bárbara fala sobre cada trabalho, representatividade, segredos de beleza e muito mais. Confira!
- Como está sendo dar vida à Sônia, Bárbara? Ela é uma personagem cheia de nuances. Tem drama, ela se envolveu com um homem casado, engravidou dele, perdeu o bebê, enterrou, e ao mesmo tempo é muito família, romântica... É muito difícil interpretá-la?
Interpretar a Sônia tem sido um desafio muito gostoso. Acho instigante todo o processo de gravação, que é bem ágil. E, felizmente, as trocas em cena e nos bastidores tem permitido que seja também um processo muito criativo e afetivo. Certamente, existem muitas mulheres com história de vida parecida com a da Sônia que assistem a novela, então é uma responsabilidade como intérprete, viver isso em cena. Eu tenho buscado me manter conectada com a minha intuição e porosa às propostas dos outros atores e diretores para ter mais sensibilidade nas escolhas de cena e ser atravessada por essas nuances da personagem de uma forma verdadeira.
Interpretar a Sônia tem sido um desafio muito gostoso. Acho instigante todo o processo de gravação, que é bem ágil. E, felizmente, as trocas em cena e nos bastidores tem permitido que seja também um processo muito criativo e afetivo. Certamente, existem muitas mulheres com história de vida parecida com a da Sônia que assistem a novela, então é uma responsabilidade como intérprete, viver isso em cena. Eu tenho buscado me manter conectada com a minha intuição e porosa às propostas dos outros atores e diretores para ter mais sensibilidade nas escolhas de cena e ser atravessada por essas nuances da personagem de uma forma verdadeira.
- Você acha que em algum momento a Sônia vai revelar esse segredo do passado?
Eu acho que seria bom se isso acontecesse, até porque ela passou por muitas coisas em silêncio e nunca pôde elaborar a dor de ser rejeitada, de perder um filho, etc. Ela não pôde viver o luto quando tudo aconteceu e hoje se sente culpada por coisas sobre as quais ela não tinha controle. Então, acho que seria importante que ela se libertasse desses segredos pra fazer as pazes com o passado e conseguir construir um futuro. E também pra que Marcelino e Marê possam se reconhecer. Se isso vai mesmo acontecer e a forma como isso se daria, eu não sei. Mas acompanhando as escolhas que Duca Rachid, Julio Fischer e Elisio Lopes Jr. tem feito para o enredo, tenho certeza que renderia boas cenas.
- A Sônia tem vivido dias melhores após viver um amor com o Júlio. Você torcia por esse casal? Ou torce pra ela ficar com o Justino?
Quando recebemos o texto, eu e o Daniel Rangel, que faz o Júlio, ficamos muito animados com a possibilidade desse casal, porque os personagens vêm de experiências amorosas frustradas e muito passionais e se permitem descobrir algo diferente juntos: um amor mais tranquilo, construído no dia-a-dia com cumplicidade. É uma relação baseada em dialogo, cuidado e honestidade em relação aos sentimentos e intenções. Eu acho as cenas dos dois muito legais e, tendo como música tema “Quem sabe isso quer dizer amor”, cantada pelo Paulinho Moska, é quase impossível não torcer pelo casal.
Eu também amo o Justino especialmente pela forma como o João Fernandes está interpretando o personagem, mas acho que pra um casal surgir dali, Sônia e Justino precisariam reinventar a dinâmica dessa relação, porque a Sônia percebe o Justino como um amigo, alguém com quem ela cresceu junto, mas não acho que ela o vê como a possibilidade de um amor romântico. Seja com quem for, eu torço muito pra que a personagem termine a novela feliz e sendo muito amada.
- Você tem algo em comum com a Sônia?
Sim! O que nós temos em comum é que tento, assim como ela, estar alinhada com o meu desejo e acho isso um ponto muito forte da personagem pensando que a novela se passa nos anos 40, em que a mulher era tão reprimida de diferentes formas. A Sônia é muito honesta e clara em relação ao que sente, vive suas emoções de uma forma muito genuína e intensa. Acho que nós duas somos também resilientes, não desistimos da felicidade como uma busca constante, apesar das dores e nos reinventamos para seguir com esse movimento de afirmação de vida.
- E como é sua relação com os outros atores do elenco, Bárbara, como Isabel Fillardis e Alan Rocha?
É maravilhosa, uma verdadeira honra ser filha desse casal na ficção. Aprendo muito com eles, é sempre leve quando gravamos juntos. Nós somos do mesmo núcleo, formamos a Família Madureira junto com o Ygor Marçal e o João Fernandes e desde as primeiras leituras na preparação, encontramos uma sintonia muito fina uns com os outros de forma natural. Acho que isso aconteceu, porque a gente se admira mutuamente e isso gera uma vontade de criar junto, de cuidar um do outro e estar à disposição para o jogo de cena. Nós somos um núcleo de atores cantores então é comum ver a gente gravando vídeos cantando juntos nos bastidores, o que só reitera o quanto estamos afinados e gostamos de estar acompanhados uns pelos outros.
- Como tem sido o retorno do público em relação à Sônia? Você acompanha tudo o que dizem sobre você, sobre a personagem?
Tem sido muito bacana acompanhar a repercussão da novela. Eu tenho assistido diariamente costumo acompanhar com o celular na mão pra ir vendo os comentários do Twitter em tempo real. É muito diferente da experiência de contato com o público no teatro, em que os comentários acontecem depois da apresentação e diretamente para você; ou no streaming, em que cada espectador assiste em um horário. Eu me divirto com os memes que fazem, as interações e percepções sobre os dilemas da personagem e, felizmente, as pessoas estão gostando da novela, têm comentado sobre a Sônia, têm torcido por ela com o Júlio e se angustiado por ela não contar a verdade sobre seu passado.
Mas não levo o que leio na internet como uma baliza para o meu trabalho, no sentido de mudar o que eu faço em cena para agradar as pessoas online, até porque são milhões de pessoas diariamente e cada uma tem uma opinião sobre como tudo deveria acontecer. Acho que é importante não levar tudo ao pé da letra, porque se passamos a depender de um olhar externo que nos aprove, perdemos a coragem de arriscar, de ter autenticidade.
- Amor Perfeito tem mais da metade do elenco negro. É gratificante pra você fazer parte desse momento tão representativo da teledramaturgia?
Amor Perfeito tem negros não apenas no elenco, mas também nas salas de roteiro, na direção, em toda equipe; é uma novela que está comprometida com a criação de um novo imaginário, de novas narrativas. E isso, em um momento impar da televisão brasileira, em que pela primeira vez na história as três novelas apresentadas tem protagonismo negro e um elenco racialmente diverso. Acredito que seja uma mudança de mercado ampla, porque em A Sogra que Te pariu, da Netflix, fomos a primeira sitcom produzida no Brasil e retratamos uma família negra estruturada, afetiva, que tem qualidade de vida e estabilidade, diferente do que usualmente se retratava nos meios de massa, restringindo o negro a ambientes de escassez e violência.
Em Amor Perfeito, vemos negros em diferentes cargos e extratos da sociedade, retratados de forma humanizada, complexa, assim como os personagens brancos. E isso não parte apenas de um desejo nosso e do público por representação, não estamos retratando uma utopia. Foi feita uma pesquisa histórica para desenvolvimento do projeto a partir da qual se constatou o apagamento de figuras negras importantes e o embranquecimento dos registros, então o que estamos fazendo é um resgate, fruto do trabalho e da luta de muitas gerações dentro e fora do mundo das artes. É muito gratificante poder contribuir e fazer parte desse momento.
- Além de 'Amor Perfeito', o público pode conferir seu trabalho em 'A Sogra que Te Pariu', como a Márcia. Você se diverte muito com ela?
Muito. Fazer A Sogra é uma grande festa. Realmente formamos uma família e o período de gravações é muito especial, justamente porque estamos juntos. O Rodrigo Sant’anna é um gênio, uma das pessoas mais generosas que eu já conheci e aprendo muito com ele. Cada um do elenco tem sua forma de fazer humor e a gente tem muita liberdade para usar o texto como um ponto de partida e criar em cima, o que é muito bacana, porque a gente acaba se surpreendendo em cena com o que surge na hora da apresentação. No fim de cada episódio, tem os erros de gravação que dão dimensão do quanto nos divertimos gravando. É um projeto que me deixa muito feliz.
- A Márcia é do tipo que se apaixona fácil, troca de boy toda hora. Você também é assim?
Não. Nesse sentido, eu vivo as coisas em um ritmo diferente do da Márcia. Mas fico feliz que uma personagem como ela possa existir sem ser taxada de forma pejorativa. Essa é uma questão que a gente aborda em cena em vários episódios, quando o pai reprime o comportamento dela mas incentiva que o Jonas, o irmão homem, tenha o mesmo tipo de postura, por exemplo.
- Quais foram suas referências para dar vida à Márcia. Tem muitos amigos ou até mesmo parentes com essas características dela?
Certamente eu conheço pessoas que se relacionam amorosamente como a Márcia. Mas acho que o que mais me aproximou da personagem e o que mais chama a atenção do público não é o fato dela se relacionar com muita gente e sim a forma leve, divertida como ela faz isso. Na minha vida pessoal eu sou aquela pessoa que em um grupo de amigos, sempre tem um trocadilho, uma resposta engraçada para as situações e acho que emprestei isso pra Márcia. De repente ela fala algo explícito de uma forma tão tranquila e natural que pega a família de surpresa; ou usa um meme ou jogo de palavras, que são ferramentas que a gente usa muito na serie. Várias das tiradas da Márcia, especialmente relacionando temas diversos à medicina, que é o que ela estuda, foram propostas minhas e nessa segunda temporada, sinto que encontrei outras formas engraçadas para o flerte, como o capítulo em que ela tenta se aproximar do Agroboy, vivido pelo Gustavo Tubarão, e acaba virando uma versão caipira de si mesma. Fazer essa personagem me ensinou a não me levar tão à serio e isso foi algo que eu acredito ter emprestado a ela também.
- Gosta de fazer comédia?
Adoro. É desafiador, porque exige uma certa coragem para brincar com as falhas, mas acho um jogo muito divertido. Amo estar em cena fazendo drama também, e entendi nos últimos trabalhos que os registros se complementam. Então, mesmo em textos dramáticos eu procuro entender onde cabe um tempo, um olhar bem humorado, porque sinto que isso aproxima o público, gera empatia pelo personagem. Assim como, em textos cômicos, acho importante não perder de vista a verdade do personagem, que passa também por dores, por questões a resolver e com as quais se pode trabalhar em cena. Não é uma regra, porque cada papel, cada proposta nos pede coisas diferentes, mas acho muito bacana quando vejo ou consigo construir um equilíbrio desses dois registros.
- Além de atriz, você também é cantora. Já lançou um álbum. Pretende conciliar as duas profissões? Tem algum projeto musical para este ano?
As duas profissões andam muito juntas pra mim, até por já ter trabalhado muito com teatro musical, que exige habilidades diversas em cena. Ser cantora, me torna uma atriz mais consciente das ferramentas vocais de que disponho em cena; e ser atriz, me torna uma interprete mais potente, mais alinhada com a letra das melodias que canto.
Sobre novos projetos musicais, agora estou totalmente focada na novela, mas espero trabalhar mais o meu álbum autoral Calor, que lancei há um ano. Ele saiu durante a pandemia então não pude fazer shows do repertório e gostaria de ter essa experiência e desenvolver mais o projeto com videoclipes e o contato com o público. Estou começando a liberar no meu canal do youtube e nas redes sociais, por exemplo, trechos de um filme que fizemos do repertório ao vivo, que é uma forma diferente das pessoas se conectarem com as músicas do álbum.
- Quem são suas referências na música?
Eu sou bastante eclética. Sou apaixonada por musica brasileira, acho muito bonita a diversidade de gêneros que temos no país e a excelência artística que conseguimos em diferentes ritmos. Ouço muito Djavan, Gal Costa, Alceu Valença, Alcione, Chico Buarque, Milton Nascimento e tantos outros. Mas também ouço músicas francesas, do Cabo Verde, rock inglês, hip-hop, enfim, gosto de me surpreender com timbres, melodias e ritmos de diferentes gêneros e nacionalidades. Acho que essas várias camadas aparecem nas minhas músicas e criam a minha sonoridade própria.
- Quem é a Bárbara longe dos holofotes?
Eu sou uma pessoa bem tranquila, amo estar com amigos, com a família. Tenho uma cachorra adotada chamada Greta que é minha paixão. Sou gosto muito de ler e estudar, sou formada em Estética e teoria do teatro pela UNIRIO, hoje estudo psicanálise, gosto de aprender línguas e viajar, conhecer pessoas e lugares. Eu gosto de surfar no Arpoador, e de tocar baixo. Em suma, estou sempre me aventurando em alguma coisa nova e amo estar rodeada de pessoas queridas.
- Quais são segredos de beleza e boa forma?
Eu sou bastante ativa, mas não frequento academia e nem tenho uma dieta rígida, só tomo alguns cuidados pra não ter crises de refluxo. E tenho cuidado mais da pele com uma dermatologista, porque durante a pandemia minha pele mudou bastante, fiquei com algumas manchinhas. O mais importante é que eu sempre busco encontrar momentos para cuidar de mim e me conectar comigo na minha rotina e assim entender o meu corpo está pedindo naquele momento. Acho que o mais importante para encontrar a beleza é se sentir a vontade e ter um olhar cuidadoso e empático consigo mesma. Meu corpo tem mudado com o tempo assim como a minha forma de ver o mundo e isso é bonito, porque representa amadurecimento e vida jorrando. Busco curtir e acolher cada nova característica sabendo que tudo faz parte de um fluxo de constante mudança