Reescrever um clássico como a novela Pantanal, exibida em 1990, na TV Manchete, apresenta diversos desafios. Para o autor Bruno Luperi, neto do dramaturgo Benedito Ruy Barbosa, criador do folhetim, o projeto, que estreia na Globo em 2021, precisa fazer sentido, continuar tendo a força e pertinência que teve na época em que foi concebido.
"A gente sai com um ponto de largada alto que não nos permite errar, seja do ponto de vista de que estamos fazendo na Globo, que foi onde ela foi concebida para acontecer em primeiro lugar, ou porque a gente tem esse compromisso com a audiência em geral, de corresponder a expectativa, que é alta", diz Luperi, que continua: "É um grande clássico da dramaturgia. No meu ponto de vista, a maior novela da TV brasileira no que se trata de originalidade, temática, impacto social, se for considerar que foi feita na Manchete, estreou com sete pontos e, ao longo da terceira semana, estava dando mais audiência que a Globo".
Bruno ainda diz que tem recebido pedidos para falar sobre o remake. "Estou mexendo um pouco na memória afetiva das pessoas."
'A Globo ainda não me procurou', diz Marcus Viana
Junto com Juma Marruá e as paisagens emblemáticas, a trilha sonora de 'Pantanal' igualmente marcou uma geração e é lembrada até hoje. O cantor, compositor, arranjador e violinista Marcus Viana, nome por trás de muitas composições da trama, incluindo o sucesso 'Pantanal', fala sobre a expectativa em relação à adaptação da história.
"A Globo ainda não me procurou. Como é remake, a Globo tem um staff interno grande. Ela deve ocupar o quadro dela (de funcionários) fazendo (a trilha). É sempre um desafio. Não acredito que eles vão repetir a trilha", desabafa ele, que acrescenta. "Que artista não gostaria de ser contratado para fazer o remake de um trabalho que foi sucesso? Claro que se me chamarem para fazer qualquer coisa estarei imensamente feliz", entrega.
O multi-instrumentista mineiro de 67 anos conta que a trama de Benedito Ruy Barbosa, com direção geral de Jayme Monjardim, foi um divisor de águas na carreira. "A minha carreira decolou com Pantanal. É igual antes de cristo e depois de cristo (risos). Minha vida antes e depois de Pantanal. Todo mundo quis trabalhar comigo", lembra ele.
"Monjardim soube dosar a edição musical de forma que a novela não para de ter som o tempo inteiro. Não é apenas botar uma música bonita. Tinha um 'espírito', que conduzia as pessoas numa hipnose. 'Pantanal' foi uma estrutura de obra videográfica, literária, musical muito coesa e única. Por isso que é bom falar em remake, não se pode fazer igual", decreta.
Depois de 'Pantanal', Viana repetiu a dobradinha com Monjardim em 'A História de Ana Raio e Zé Trovão (de 1990, na Manchete) e depois fez 'Xica da Silva' (1996, na Manchete) com Walter Avancini (1935-2001). Quando Monjardim voltou para Globo, a parceria entre eles foi resgatada.
"Fizemos 'Chiquinha Gonzaga' (1999), 'Terra Nostra' (1999), 'Aquarela do Brasil' (2000), 'O Clone' (2001), 'A Casa das Sete Mulheres' (2003). Fomos juntos até 'América' (2005). Foram 15 anos de 'porrada', só gol, só as maiores novelas desse país. 'Pantanal' e 'O Clone' para mim fecham o ciclo das maiores novelas desse país. Todas épicas e grandiosas", frisa.