A cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense, acaba de receber um importante avanço em saneamento básico. O novo Sistema de Coleta em Tempo Seco (CTS), implantado pela concessionária Águas do Rio, beneficiará 65 mil moradores, melhorando a qualidade de vida e contribuindo para a recuperação da Baía de Guanabara. O CTS tem como principal função captar o esgoto descartado de forma irregular nos rios Dona Eugênia e Sarapuí, redirecionando-o para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Sarapuí, em Belford Roxo. Com a plena operação do sistema, mais de 15 milhões de litros de água contaminada por dia deixarão de cair nos rios que deságuam na Baía de Guanabara. A iniciativa reduz a poluição dos cursos d'água e ajuda a combater doenças relacionadas ao saneamento precário.
Entre as famílias que já percebem a melhoria está a do diácono Antônio Fernando dos Santos, de 84 anos, que mora às margens do Sarapuí e, durante anos, conviveu com o mau cheiro. O religioso conta que mudou para o bairro Vila Norma em 1960, levando mala e terço na mão. Na época, a região era uma chácara com paisagem formada por laranjais, olarias e poucas residências. Ele viu o progresso chegar trazendo energia elétrica, água e a abertura de grandes avenidas, mas o esgotamento sanitário não acompanhou as mudanças.
"Eu vi esse rio limpo. A cidade cresceu e as casas foram improvisando suas redes e jogando o esgoto direto no rio. A situação era insalubre com mau cheiro e insetos. Tenho fé de ver o rio limpo como nos anos 60. Todo mundo aqui está feliz com essa obra", disse Antônio.
Como funciona o CTS?
O Coletor em Tempo Seco é um recurso que vai ajudar a limpar os rios e a proteger o meio ambiente no estado do Rio de Janeiro. O método funciona sobretudo nos períodos sem chuvas fortes, pois nessas ocasiões o fluxo dentro das galerias pluviais - que transportam água de chuva - aumenta e não é possível separar a água contaminada com esgoto.
Após passar por um tratamento que inclui processos físicos, químicos e biológicos, o efluente tratado será devolvido ao meio ambiente, atendendo aos padrões de qualidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Atualmente, o sistema está presente em cidades como Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Iguaba Grande, Cabo Frio e São Pedro da Aldeia.
Ações como essa, somadas a reformas e manutenções no sistema de esgotamento sanitário das cidades no entorno da Baía, já evitam que mais de 100 milhões de litros de esgoto sejam despejados diariamente nesse ecossistema.
Nos próximos anos, os investimentos na ampliação do sistema de Coletores em Tempo Seco somarão R$ 2,7 bilhões, criando um novo modelo de esgotamento que impedirá que 1,3 bilhão de litros de água contaminada cheguem por dia à Baía. Esse é um dos projetos que fazem parte do investimento total de R$ 19 bilhões que a Águas do Rio destinará ao saneamento em sua área de atuação até 2033, com impacto direto na qualidade de vida dos 10 milhões de habitantes.
Obras vão garantir mais saúde e qualidade de vida
A professora aposentada Maria Silvina, de 75 anos, é outra que sonha em ver o rio Sarapuí limpo. Para ela, o maior vilão é a própria população, por jogar lixo em suas margens. "Agora, vamos ter tratamento adequado do esgoto. O povo precisa se conscientizar e não jogar lixo em qualquer lugar", conta.
Em outro ponto, a dona de casa Márcia Liro, que mora às margens do Rio Dona Eugênia, na comunidade do Sebinho, conta que criou três filhos, 12 netos e três bisnetos, acompanhando a degradação do curso de água e temendo pela saúde da família.
"Já sofri de doenças causadas pelo esgoto. Há muitos anos vivi com a realidade de morar ao lado de um rio que virou valão. Faço o que posso, mobilizo os vizinhos, falo sobre a importância de nos protegermos. Meus netos não andam descalços de forma alguma. Todos os dias limpo a rua, mas sei que ainda é muito pouco. Quando vi que as obras começaram, nem acreditei, porque tenho a sensação de que o tratamento de esgoto vai trazer uma visibilidade que a gente não tem. A obra acabou e meus netos e bisnetos vão crescer sem mau cheiro e o medo de pegar uma doença grave", contou Márcia.
Ainda como parte das obras do novo sistema, foram construídas duas grandes estações de bombeamento — conhecidas como elevatórias — nos bairros Chatuba e Edson Passos. "Essa obra foi fundamental para a implantação do novo sistema, porque são essas estruturas que vão bombear todo o esgoto interceptado e direcioná-lo à ETE Sarapuí", finaliza Felipe Esteves, diretor executivo da Águas do Rio.