Pedro Carvalho: 'N�o me importo de ter esse r�tulo de gal�'

Ator portugu�s est� solteiro e fala da vida no Brasil

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Pedro Carvalho � o Amaro de 'O Outro Lado do Para�so
Pedro Carvalho � o Amaro de 'O Outro Lado do Para�so -

PEDRO CARVALHO, de 32 anos, nasceu em Portugal. Sua primeira novela no Brasil é 'O Outro Lado do Paraíso', onde interpreta o ambíguo Amaro. Apesar do pouco tempo em terras brasileiras, ele diz que já se sente ambientado: tem sua rotina de gravação e treino e ama o nosso brigadeiro. Pedro se considera tímido e às vezes se sente envergonhado com o assédio das fãs mais efusivas. Na entrevista a seguir, ele fala sobre Brasil, Portugal, conta que é formado em Arquitetura e Artes, diz que está solteiro e revela que sempre esquece onde colocou a carteira e o celular.

Quem é o Pedro Carvalho?

Pedro Carvalho é um jovem português de 32 anos que é sonhador, canceriano, muito ligado à família e às artes. Eu sempre gostei de desenhar, por isso também sou arquiteto de formação profissional. Tenho mestrado em arquitetura e também me formei em Artes na Escola de Atores de Portugal e da Espanha. Eu sempre gostei de design, teatro, literatura, pintura, cinema. Sempre gostei dessas áreas. Sou um lutador. Me considero uma pessoa que luta por objetivos, que não abaixa a cabeça. Sou amigo dos meus amigos, sou emotivo, sei rir de mim mesmo, sou uma pessoa honesta e esquecida: sempre esqueço onde coloquei a carteira e o celular (risos).

Como é a sua rotina no Brasil?

Eu já me sinto completamente em casa. Eu acordo e vou gravar. Tenho a minha rotina de gravação, de treino. Eu gosto de fazer crossfit e correr na praia. Gosto de ir ao cinema, teatro, também gosto de ler para saber o que está acontecendo no mundo. Costumo sempre tirar um dia para estar com amigos para poder me distrair de tudo. A minha rotina é bem tranquila. Gosto muito da natureza, de fazer trilha, de andar de bicicleta, e o Rio me oferece essa possibilidade maravilhosa.

Como você lida com o assédio?

Eu trabalho em TV desde os meus 17 anos, já fiz 13 novelas em Portugal, teatro, cinema, dublagens. Esse assédio sempre existiu. Eu sou tímido, mas sou muito grato pelo carinho das pessoas, o carinho dos fãs. A gente trabalha para eles. Por isso eu respeito muito e tento dar o máximo de mim nessa receptividade. Muitas vezes eu fico envergonhado com o assédio das fãs, que são um pouco mais efusivas. Já passei por algumas situações caricatas, engraçadas, mas guardo com muito carinho e é bom que isso aconteça. Isso significa que as pessoas têm carinho pelo meu trabalho, tanto em Portugal quanto aqui. Agora estou experimentando esse assédio aqui e eu sou grato por isso.

O Amaro é um personagem bem dúbio. Como foi para você criar?

Foi um desafio maravilhoso. Desde o início, eu sabia que ele era misterioso e tinha segredos. Sempre me foi pedido pela direção que eu fosse um personagem ambíguo, que tivesse um mistério no olhar e eu acho que consegui porque o personagem teve uma volta gigante, teve muitas nuances com a Sophia (Marieta Severo) e com o Gael (Sérgio Guizé). O Amaro é muito ambicioso, calculista, e com a Estela (Juliana Caldas) ele conseguiu ser ardiloso, tentava tratá-la como princesa, mas todo mundo já descobriu que ele era um safado, que só queria o dinheiro dela. Agora, com essa mudança, ele perdeu seus alicerces e vai luta pela sobrevivência. Isso humaniza o personagem e me faz aproveitar outra vertente dele. Para mim, enquanto ator, é maravilhoso porque posso trabalhar várias camadas dele e mostrar mais de mim. Às vezes, quando a pessoa passa por um problema, questiona toda a vida e, aquilo que parecia supérfluo, passa a ser o principal. Ou seja, aquilo que era secundário, como acordar e conseguir ver a luz do sol ou receber o carinho de uma pessoa, ganha valor. É muito legal ver essa transformação dele. Esse amor que ele sente, agora é sincero.

Você é muito bonito. Como lida com o rótulo de 'galã'?

Muito obrigado pelo elogio (risos). Eu lido com esse rótulo como outro qualquer, não me importo de ter esse rótulo de galã porque me cabe em vários personagens, como também personagens de vilão. Um galã pode ser um vilão, não necessariamente um mocinho. A maior parte dos meus personagens foram mocinhos e o legal é que um galã pode fazer várias coisas.

Seu personagem foi do céu ao inferno. Como você recebeu essas novidades envolvendo o Amaro?

Achei maravilhoso, adorei. Eu gosto de desafios assim, que coloquem o personagem nesse lugar de hoje ser uma coisa e amanhã ser outra. Isso faz a gente também ter essa ginástica e construir mais o personagem. Adorei o fato dele ficar cego, acho que é a redenção do personagem que o Walcyr (Carrasco) está fazendo. Ele vai ter que pagar pelo mal que fez, por ter sido aproveitador. Na novela, vocês vão perceber, ele vai falar um pouquinho do passado dele, que sempre foi assim. É uma fase, tanto é que até no figurino ele está mais desarrumado, com a camisa mais solta. Ele não está tão preocupado com a aparência e isso tudo tem a ver com ele tentar se conectar com a sua essência e descobrir o que é amar.

Qual foi a dificuldade de gravar as cenas do Amaro ficando cego?

Eu nunca tinha feito um cego e é muito legal fazer esse trabalho porque eu fiz toda uma preparação e muito laboratório. Estou contando com a ajuda da Andrea Cavalcanti, que é coach da novela, e recebido a ajuda do Instituto Benjamin Constant, que é uma escola para cegos. Aprendi a andar vendado com a bengala, a reconhecer objetos, e é muito difícil porque é uma realidade nova. Eu aprendi que não é que as pessoas cegas começam a ouvir melhor, é que há menos distração e o ouvido passa a ser a visão e a audição. Tem sido um trabalho muito gratificante nesse sentido porque tem me ajudado a desenvolver muito essa outra parte de mim como ator e a passar uma mensagem muito forte, que é que a pessoa que fica cega já adulta, acaba se descobrindo como pessoa e ser humano.

O Amaro merece uma redenção?

Eu acho que todo mundo merece. O Amaro está tendo a dele e é legítima, uma redenção e tanto! Ele vai do céu ao inferno, luta para sobreviver e merece uma redenção. Eu acho que todo mundo merece uma segunda oportunidade.

Como foi gravar as cenas em que ele ficou preso na mina?

Teve uma sequência que a gente demorou seis dias para gravar e foi muito legal. Todo mundo foi muito parceiro, então a gente acabou se divertindo. Sempre rolava uma alegria no set para contrapor todo o drama da gravação. Acho que foi muito forte e essa energia passou para o lado de cá. Foi uma sequência difícil, mas muito prazerosa. Eu, pessoalmente, adorei fazer.

Você está preparado para essa entrega do Amaro com a Estela? Já sabemos que eles vão casar e terão a primeira noite de amor.

Sim. Eu acho que esse é o culminar de uma história de amor, é muito bonito. Eu acho legal o Walcyr (Carrasco) ter escrito essa cena com o casamento, uma noite de amor. São duas pessoas, independentemente de a Estela ser interpretada por uma atriz com nanismo. O amor não escolhe nada, não escolhe cor, não escolhe sexo, não há preconceito. Preconceito e racismo, inclusive, são palavras que não entram no meu vocabulário e eu acho que não deveriam entrar no vocabulário de ninguém. Estou muito feliz com essas cenas.

Como está sendo a troca com a Juliana Caldas?

Está sendo muito legal. É a primeira novela que ela está fazendo, então ela está se apoiando muito na gente, que já tem mais experiência. Eu acho muito legal essa troca que a gente está fazendo. Eu tenho aprendido muito com ela também. Desde a preparação, a gente troca muitas ideias, ensaia as cenas e tem essa parceria. Nós somos amigos dentro e fora de cena e isso facilita muito as coisas, é muito bom.

Como está sendo a repercussão do personagem nas ruas?

As pessoas me abordam muito, muito mesmo. As mulheres me chamam de portuga, de lindo, querem ser minha Estela, perguntam se eu estou mesmo apaixonado por ela, se eu tenho esmeralda para elas verem (risos). É muito legal! O pessoal tem muita criatividade e eu fico muito feliz com essa receptividade do público.

Você imaginava que seria tão bem recebido?

Olha, eu tenho um carinho muito grande pelo público daqui, me sinto completamente em casa, muito amado e respeitado. Eu não esperava esse carinho, essa repercussão, mas ainda bem que existe porque eu espero que essa seja a primeira de muitas novelas aqui na Globo. Estou morando no Rio, inclusive. O objetivo é firmar minha carreira aqui. Estou fazendo aula de fono para ver se eu consigo falar o português do Brasil e tentar mais oportunidades de trabalho por aqui.

Está solteiro?

Sim, neste momento sim, muito focado na minha carreira neste momento, já que decidi desde 2015 em internacionalizar.

Estamos vivendo um período de grandes mudanças. Mesmo assim, o brasileiro não perde a esperança. Esse amor ao próximo te encanta de uma certa forma?

Eu acho que a gente vive numa era de luta, de guerra, mas por outros motivos. É pela política, pela ganância do ser humano, pela corrupção. Eu acho que é o momento de o ser humano estar mais unido. Para mim, as diferenças são qualidades e eu espero que isso, num futuro próximo, seja uma certeza absoluta para todos. Espero que todas as diferenças possam unir todos os povos, raças, etnias. Essa é a nossa missão enquanto ser humano e eu, todos os dias, tento ser um ser humano melhor do que fui ontem.

Qual é o seu prato brasileiro preferido?

A culinária aqui é maravilhosa, embora eu seja mais de doces: não há brigadeiro como o brasileiro, o doce de leite que só conheci aqui, os churros... Eu adoro fruta e não há fruta mais saborosa e doce que a do Brasil!

Para você, que sempre foi fã do Walcyr Carrasco, é um sonho participar de uma trama dele?

Muito! Eu não esperava nunca que isso pudesse acontecer. Eu sou muito fã do trabalho dele. Algumas novelas dele passam em Portugal e são um sucesso. Eu gosto da forma como ele desenvolve a trama. Para mim, estar fazendo uma novela das 21h com um personagem desses é muito gratificante. E o Mauro (Mendonça Filho), que é um diretor que eu gosto muito, curiosamente, em 2012, estava disputando o Grammy com uma novela que eu participei lá em Portugal. A gente perdeu para a novela dele e eu nunca imaginei que trabalharia com esse diretor agora! É muito louca essa coincidência do universo e eu só tenho a agradecer. Espero que o Walcyr (Carrasco) me chame para outros trabalho dele, seja seriado, novela, o que for. Se eu já era fã, agora fiquei mais ainda.

Quais as diferenças nas dramaturgias de Portugal e daqui?

Existem algumas as diferenças sim Aqui no Brasil, o volume de cenas por dia é muito menor e a frente de gravação é bem mais curta também, ou seja, gravamos muito em cima da emissão. O tempo de preparação também é bem mais intenso e demorado antes de começar a gravar, o que traz uma segurança grande para nós. O orçamento no Brasil é maior do que em Portugal. Mas isso não significa que Portugal está atrás. Temos excelentes profissionais e uma sociedade que já consome muito o produto nacional, além de concorrermos a prêmios internacionais.

O que tira você do sério?

Injustiça, desonestidade, falsidade e mentira. Essas são coisas me tiram do sério.

Qual final você deseja para o Amaro?

Acho que a redenção dele e o casamento que já vai acontecer. Um final feliz, com filhos, e ele aprendendo muito com essa mudança que aconteceu na vida dele.

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�ltimas de Leo Dias