Assumindo as r�deas da vida
Angela Peres � professora, al�m de atriz. "Dei aula em pr�-vestibular comunit�rio e pensei em meus alunos vendo 'Nat�lia'"
Por O Dia
Uma garota negra do sub�rbio, que enfrentou preconceito e dificuldades, viajou para o exterior e voltou ao Brasil para conquistar seu espa�o. Poderia ser uma hist�ria de fic��o. Na verdade, � t�o fic��o quanto realidade. Esse � o caso da s�rie 'Nat�lia', que estreia a segunda temporada amanh�, �s 21h15, na TV Brasil - e dia 2 de mar�o, �s 20h, no canal a cabo Universal - e a vida de Angela Peres, protagonista da produ��o.
FIC��O E REALIDADE
"As coincid�ncias na trajet�ria da Nat�lia, por ela ter sa�do da periferia e ganhado o mundo, parecem com a minha hist�ria. O meu av� era de igreja pentecostal, o pai da Nat�lia � um pastor evang�lico. A loca��o em Marechal Hermes parecia muito com o lugar onde passei a minha inf�ncia e adolesc�ncia. O diretor-geral Andr� Pellenz fez um bel�ssimo trabalho e soube aproximar a personagem de mim", conta a int�rprete, que j� trabalhou como modelo na Argentina.
A atriz, inclusive, est� na expectativa para uma terceira temporada. "Gravamos duas op��es para o final da personagem. N�o sei qual ser� exibida. Vou acompanhar com o p�blico para descobrir", diverte-se.
TRAMA
Nesta temporada da s�rie, produzida pela Academia de Filmes, Nat�lia volta ao Brasil depois de uma temporada de sucesso no exterior, para lan�ar a primeira cole��o de roupas de sua nova carreira de estilista. S� que chegando aqui, ela se depara com v�rios problemas: como o pai, Marcelino (Gutti Fraga), que � acusado de ser laranja de um pol�tico, e o reencontro com o ex, Ot�vio (Cl�udio Lins), que reacende uma paix�o, mas agora � casado com Ingrid (Leona Cavalli), que percebe que a rival pode interferir em seu casamento, e por isso quer mant�-la por perto. "As duas personagens t�m seus lugares de inoc�ncia e vilania", entrega Angela. Mas tudo complica quando aparece Theo (Hugo Bonemer), advogado de Marcelino, que se interessa por Nat�lia e inicia assim um tri�ngulo amoroso. "Ela � muito passional", diz a atriz.
SUBSTITUI��O
A temporada anterior foi protagonizada por Aisha Jambo, mas ela n�o p�de continuar na produ��o porque j� estava em uma novela da Record no per�odo de grava��o da s�rie. Angela fez os testes e foi aprovada para o papel principal. As grava��es aconteceram entre abril e junho de 2017. Natural de Santos (SP) e morando em S�o Paulo, Angela se mudou para o Rio para gravar a s�rie. "Tivemos duas semanas de pr�-produ��o e trabalhei a quest�o do meu sotaque bem paulistano. Como a personagem tinha morado fora, n�o quer�amos um sotaque carioca muito marcado. Dava uma neutralizada nos 'R's. Com a neutralidade peguei um gingado carioca. Foi muito legal", comemora.
CONSCIENTIZA��O
Produzida pela Academia de Filmes, a s�rie aborda temas como empoderamento feminino, �tica na pol�tica, trabalho escravo na ind�stria da moda, afirma��o racial e at� mesmo a transsexualidade. "A ind�stria t�xtil � a segunda que mais polui no mundo. S� perde para a petrol�fera. O movimento de comprar roupa para um dia s� � t�o surreal que as pessoas n�o se d�o conta de que somos respons�veis nesse processo todo. Estamos vivendo um movimento em que as pessoas est�o se atentando a aspectos que n�o reparavam antes: 'Como � produzido o que eu consumo, de onde vem, para onde vai?'. � uma s�rie muito atual", refor�a.
"Fiquei muito contente quando li o roteiro. A s�rie traz tantas outras quest�es latentes e em voga, principalmente o empoderamento da mulher negra. Os temas s�o tratados de forma delicada e cuidadosa e ajudam a construir um pa�s mais consciente", defende Angela, que al�m de atriz, � soci�loga e doutoranda em Antropologia. "Dia 27 defendo minha tese na UFRJ", orgulha-se a estrela de 31 anos.
EMO��O
Angela conta que, por a s�rie tratar de assuntos importantes, chegou a sentir vontade de chorar em v�rias cenas. Antes da hora. "O diretor falava: 'Segura um pouco'. Eu respirava e seguia (risos). Dei aula de sociologia para o Ensino M�dio, em um curso pr�-vestibular comunit�rio. Fiquei pensando nos meus alunos vendo uma s�rie como essa, seria muito importante", afirma.
PRIMEIRA PROTAGONISTA
A personagem Nat�lia � a primeira protagonista da carreira de Angela, que j� fez v�rios coadjuvantes, principalmente na TV a cabo. "Sempre fiquei entre a vida acad�mica e a art�stica. Agora, quero focar na art�stica. � a minha grande paix�o e o que me faz sentir viva. Ainda n�o fiz outras personagens na TV aberta, al�m de Nat�lia. Quem sabe no futuro?", torce a atriz, que terminou recentemente um relacionamento de cinco anos. "Estou bem tranquila. Cuidando de mim mesma. Come�am coisas novas se finalizarmos as antigas", filosofa.
REFER�NCIA
Angela afirma que � fundamental para meninas verem atrizes negras em posi��o de protagonismo, principalmente tomando as r�deas da pr�pria vida. "Esse lugar da Nat�lia de construir a pr�pria vida, acontecendo, realizando e vencendo desafios. Na disputa com a s�cia, a Nat�lia se coloca de forma firme. Isso traz um ch�o maior para essas meninas que fui um dia. Quando mais nova, tive modelos que inspiraram. Gostava de estar pr�xima das minhas professoras, das mulheres fortes da minha fam�lia. N�o queria fama ou os holofotes, mas firmeza e o feminino mais contundente no mundo", defende. "N�o tem um negro no Brasil que n�o tenha sofrido preconceito".