Agildo Ribeiro não tem aparecido na TV desde as últimas mudanças no humorístico 'Zorra'. Mas o veterano humorista, de 85 anos e 65 de carreira, não é deixado em paz pelo público, quando circula pela Zona Sul do Rio, onde mora. "Perguntam quando vou voltar, pedem para eu imitar o Paulo Maluf (o humorista imitou o político por vários anos)... Eu falo que pra saber quando eu vou voltar tem que ligar pra Globo, eles que sabem", conta Agildo, homenageado hoje na segunda edição do Prêmio do Humor, criado pelo colega Fábio Porchat. A festa acontece no Jockey Club, às 20h30.
"Eu no momento estou esperando outra oportunidade para voltar. Sei que tem muita gente na própria Globo torcendo por mim, gente da direção. Acredito que volte... a qualquer momento", brinca Agildo. Mesmo com a profusão de humoristas nos dias de hoje, na TV ou no YouTube, ele diz que o que falta mesmo são pessoas-chave em lugares certos.
"Temos deficiência de redatores. Nos anos 1970, tinha Max Nunes, Haroldo Barbosa, o próprio Chico Anysio. E essa turma toda já morreu. Em plena ditadura militar, a gente fazia o que queria. E a gente não fazia humor pornográfico", ressalta Agildo.
PLATEIA DE CENSORES
Uma lembrança dessa época: com o país sob forte repressão, ele encenava peças como 'Alta Rotatividade', que fez ao lado de Rogéria, para plateias só de censores, antes que elas fossem liberadas para o público. "E eles nem riam!", diz.
No Prêmio, Agildo vai se encontrar com nomes recentes como Evelyn Castro e Eduardo Sterblitch, ambos indicados na categoria Performance (Texto, Direção, Peça e Categoria Especial são os outros quesitos). Uma galera que ele conhece, mas não tem o hábito de acompanhar. Isso porque Agildo não costuma ver televisão.
"Não via TV nem quando eu fazia TV. Ia no switcher ver se estava tudo certo, os diretores perguntavam: 'Tá Bom, Agildo? Quer fazer de novo?'. E só. Sabia do programa quando o povo falava comigo. E eu tenho horário de vampiro, durmo tarde, acordo tarde, saio todas as noites", diz o humorista.
Agildo pode até não ver, mas o que ouve falar sobre as novas condições do humor o deixa um tanto decepcionado. "É aquela coisa do politicamente correto de hoje em dia, né? Não pode falar isso, não pode falar aquilo... Isso me soa a censura. Piada é piada, isso é bobagem".
PARA AS NOVAS GERAÇÕES
Fábio Porchat conta que decidiu fazer o Prêmio do Humor para homenagear os comediantes em vida. "Pensava muito no Chico Anysio, no Ronald Golias. Quando você vai ver, esses caras já não estão mais aqui! Comediante nunca recebe prêmio e quero que esses caras saibam da importância deles para as novas gerações. Quem vai entregar o prêmio é o Lucio Mauro Filho, até para mostrar que está tudo conectado", conta Fabio, que na edição passada homenageou o veterano Lucio Mauro.
E ele voltou com o prêmio em meio às gravações de seu 'Programa do Porchat', de segunda a quinta, à 0h15, na Record. "Vamos continuar no formato talk show, com algumas externas, indo na casa das pessoas".
Agildo, salienta Porchat, tem um montante de trabalho que vai além do humor. "A maioria das pessoas conhece mesmo é o Agildo da TV. Mas ele é um gigante no teatro, é muito engraçado. Ele domina a tradição do texto, de contar causos, do stand up", anima-se, ele mesmo um grande fã do humorista. "Tenho uma relação bastante afetiva com o trabalho do Agildo. O via muito na TV, lembro até hoje de uma entrevista que ele deu para o Jô Soares".
Agildo, por sua vez, já pensa na entrada em cena para receber o prêmio. "Não devo contar piada, imitar ninguém. Vou passar minha gratidão ao receber o prêmio", diz, revelando um dos poucos momentos em que esteve defronte da tela nos últimos meses. "Outro dia, eu estava vendo o Silvio Santos entregando o 'Troféu Imprensa' no SBT e achei engraçado que os prêmios eram todos para a Rede Globo", brinca.