Rio - Secretária de Rogério Caboclo revelou neste domingo detalhes sobre os assédios sofridos na CBF. A funcionária contou que sofreu seguidas intimidações e teve quadro grave de depressão. Em tentativa de acordo, foram oferecidos a ela cursos na Europa, dinheiro para compra de um novo apartamento e promoção na entidade com um bom plano de carreira. A secretária afirma, porém, que recebeu pedidos absurdos, como não revelar os casos de assédio e justificar sua ausência como problemas familiares.
"Eu pedi para ele sair da presidência da CBF. Ele se recusou e em troca me ofereceu uma indenização para comprar um apartamento Ofereceu um curso na Europa com todas as despesas pagas e me ofereceu uma promoção para um cargo de gerencia, para ficar lá até me aposentar. Só que eu não tinha a menor condição de continuar trabalhando na CBF com aquele homem que me dava uma sensação de terror só de pensar em estar ao lado dele novamente", contou a funcionária em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
Ela voltou ao trabalho na entidade depois de cinco meses afastada. A funcionária diz que seguirá lutando pelo respeito às mulheres no ambiente de trabalho e relatou todas as dificuldades enfrentadas ao longo destes meses licenciada da CBF.
"É uma situação pela qual nenhuma mulher deveria passar em nenhum momento da vida. É uma dor que não acaba. É uma dor que hora nenhuma sai de mim. Hora nenhuma eu esqueço que ela existe. Está sempre presente, latente, em todos os momentos do meu dia. A minha dignidade não tem preço. Porque eu fiquei pensando nas mulheres que viriam depois de mim. Era inaceitável proteger um assediador", disse a funcionária, que também recordou como se sentiu depois de relatar os casos de assédio.
"Eu tive muitas crises de pânico. Principalmente porque eu sofri muitas ameaças do Rogério Caboclo. Ele mandou um carro na porta da minha casa, sensação de estar sendo seguida. Ele mandou invadir meu computador, minha conta bancária", explicou e ainda afirmou que os casos de assédio começaram logo nos primeiros contatos com o presidente afastado: "Desde o primeiro momento já ultrapassou o limite comigo. Desde a primeira viagem, para Luque, no Paraguai. E ele nessa viagem fez comentários a respeito do meu corpo. Eu achei que aquilo não cabia numa relação de patrão-empregado. Nessa mesma viagem, ele passou a madrugada ligando para o meu quarto, eu não atendi."
Há cerca de três meses, a funcionária da CBF revelou sofrer assédio sexual e moral do presidente afastado. Em áudios gravados, Caboclo pergunta sobre relacionamentos da subordinada, detalhes da vida pessoal e se ela se masturbava. Há pouco mais de duas semanas, Rogério Caboclo fez um acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro para o pagamento de R$ 110 mil em ração e celular para arquivar o processo na área criminal sobre as denúncias de assédio moral e sexual. O dirigente nega todas as acusações.
Caboclo foi afastado do comando da entidade no mês de junho e após o desenrolar das investigações a Comissão de Ética pediu que ele ficasse fora do cargo por 15 meses por 'conduta inapropriada'. A decisão cabe à Assembleia Geral da entidade. Integrantes do alto comando da CBF trabalham para que Caboclo saia definitivamente e uma nova diretoria possa assumir. Patrocinadores e a Fifa estão em alerta sobre os rumos da entidade que conduz o futebol brasileiro.