Rio - O fim da carreira de um jogador profissional costuma ser um momento complicado, afinal, após anos e às vezes décadas, o atleta precisa reaprender o que fazer. Em 2018, o ex-meia Thiago Coimbra, de 39 anos, viveu esse momento ao parar de jogar futebol. Formado nas divisões de base do Flamengo, o ex-jogador, que é filho de Zico, encontrou no ensino de crianças a sua alegria e profissão após pendurar as chuteiras. Atualmente gestor do CFZ e presidente das Escolas de Futebol Zico 10, Thiago Coimbra utiliza o que aprendeu no esporte para ajudar na formação do caráter e da personalidade dos jovens.
"Me orgulho muito de fazer parte da metodologia Zico 10, que foi criada pelo meu pai há alguns anos atrás que é a de incluir o futebol na vida da criança, unir as crianças. Sabemos que há muitas crianças introvertidas, que tem problemas de convívio, e nosso objetivo é a inclusão e não é alto rendimento. O objetivo é a de socialização da criança. Creio que o futebol teve uma importância gigante na minha formação e eu tento passar isso para eles. Sou apaixonado por criança, gosto de ensinar, pode passar o que eu tive. Claro que o futebol mudou bastante, a gente precisa se atualizar, mas a metodologia básica, a parte lúdica, tudo isso, vem da formação de atleta", disse em conversa com o Jornal O Dia.
Revelado na base do Flamengo, Thiago Coimbra passou por outros clubes do futebol brasileiro como Paulista, de Jundiaí, Coritiba, Madureira, Boavista e América. No entanto, vestir a camisa rubro-negra e fazer parte de um grupo vencedor, que conquistou a Copa do Brasil de 2006, foi um sonho realizado na vida do ex-jogador.
"Fiz minha base no Flamengo, depois fui para o Paulista, de Jundiaí, e posteriormente em 2006 recebi a oferta de experiência do Isaias Tinoco para voltar ao clube. Foi um contrato de três meses. O Valdir Espinosa me deu a oportunidade, me colocou no grupo e foi uma realização de um sonho. Tive três técnicos que foram o Valdir, o Waldemar e o Ney Franco. Fiz parte do grupo campeão da Copa do Brasil. Minha relação sempre foi maravilhosa, levo isso até hoje, o legado, a amizade. No começo tem aquele mito, joguei com o Luizão, que era campeão do mundo, depois joguei com o Sávio, que era meu ídolo. E eu falei para ele, porque eu não vi meu pai jogar e ele me respondia: 'Não estou acreditando, porque meu pai é meu ídolo", contou.
Ao relembrar o passado, Thiago faz uma autocrítica em relação a sua postura no Flamengo, mas afirma que acredita que poderia ter recebido mais oportunidades naquela temporada. "Consigo olhar para o passado e dizer que eu não era tão maduro, não estava preparado. Tinha 22 anos, estava no Flamengo, tinha a responsabilidade de ser filho do Zico. Mas eu também acho que faltou oportunidade, havia muitos jogadores, muita gente teve oportunidade. Mas minha relação foi boa com os técnicos. Fiquei frustrado por não ter tido tantas chances, mas é um orgulho que eu levo para a minha vida, porque muitas pessoas têm esse sonho e eu pude realizá-lo, graças a Deus", disse.
Atualmente como gestor e presidente das Escolas Zico 10, Thiago Coimbra tem o sonho de expandir o projeto para mais regiões do país e também fortalecer o investimento em projetos sociais para impactar a vida de crianças e adolescentes que passam por dificuldades financeiras.
"Meu sonho é ampliar as escolas. Abrimos uma nos EUA, em Atlanta, uma no Japão recentemente e podemos abrir outras lá no Japão. Passar para as pessoas o legado do meu pai, como atleta, como ser humano também. Independente de ser o maior ídolo da história do Flamengo, o respeito com os rivais transcende isso. Já ouvimos isso de pais de alunos, que se fosse uma outra figura, ou um outro clube não estariam aqui. O uniforme não tem as cores do Flamengo, é a escolinha do Zico 10. E também tenho o sonho de ampliar os projetos sociais para os que mais precisam, crianças que muitas vezes são assediadas pelo crime organizado, pelas drogas, e o futebol educacional pode salvá-los", disse.
Ao abordar a importância do lado social no futebol, Thiago afirmou que o esporte foi importante para que ele desenvolvesse relações fora da bolha da região em que morava durante a juventude e adolescência. Segundo ele, o impacto do convívio com o esportes foi determinante na sua formação como cidadão.
"O futebol tem uma importância valorosa na minha formação, de ser quem eu sou, de me formar como homem, cuidando das empresas que eu cuido aqui no Centro de Futebol Zico. As amizades, os perrengues que eu passei no esporte. Tudo. A minha criação tem o berço dos meus pais, a origem humilde deles, quando nasceram. Mas eu nasci em "berço de ouro", tendo condições boas, nos melhores colégios, porém, a minha decisão de ser jogador me fez passar por algumas dificuldades que as pessoas que moravam na mesma região que eu não passam. Então, havia dificuldades de estrutura, inclusive no Flamengo, passava os mesmos perrengues que todos passavam. Fora as amizades, que eram de outro mundo. Nas escolas, meus amigos eram de classe alta e no futebol os "amigos da bola" tinham outra condição. E hoje são esses que continuam comigo, sou padrinho do filho de um e um deles é padrinho do meu filho. Agradeço muito ao meio do futebol pelo homem que me formei", admitiu.
Atento ao futebol carioca, Thiago acredita que Botafogo, Vasco e Fluminense vem trilhando um bom caminho na temporada. Sobre o Flamengo, clube de coração, o ex-jogador se mostrou incomodado com a atual situação da equipe, mas elogiou a qualidade do elenco rubro-negro.
"O crescimento do Botafogo fora de campo tem sido legal, agora é estruturar o time, tomara que consigam fazer uma Série A boa e investir mais no ano que vem. O Vasco, a gente torce também, mesmo sendo Flamengo nunca torci contra. Não adianta ter só o Flamengo bem e os outros times ruins. Está em um caminho legal, o Zé Ricardo deixou em um caminho bom. O Fluminense também, o Diniz tem um futuro imenso, vai incomodar muitos times e quem sabe consegue incomodar os principais elencos. O Flamengo, infelizmente, não está bem. O trabalho do Paulo Sousa não foi bom, e a gente tem mais paciência com os estrangeiros, o Ceni e o Renato, que para mim foi o mais injustiçado de todos, ele teve o melhor desempenho depois do Jorge Jesus. Acho que não deveria ter saído por causa daquela derrota para o Palmeiras, que foi no detalhe. Espero que o Flamengo consiga voltar a jogar, porque o elenco é forte, os jogadores não desaprenderam, acredito que o ano não acabou e o clube tem possibilidades de buscar disputar os títulos da Copa do Brasil e da Libertadores, Brasileiro ficou mais complicado, infelizmente.", concluiu.