A Barreira além do baile

Comunidade que ganhou notoriedade com música gira em torno do Gigante da Colina

Vaninha Rodrigues da Silva, de 56 anos, presidente da Associação dos Moradores da Barreira do Vasco
Vaninha Rodrigues da Silva, de 56 anos, presidente da Associação dos Moradores da Barreira do Vasco -

Já virou um grande baile! A música 'A Barreira Vai Virar Baile' se tornou um sucesso nos últimos dias. A canção celebra o retorno do jogador Philippe Coutinho ao Vasco, mas também menciona em sua letra a Barreira. Mas afinal, que barreira é essa citada na música do Blogueirinho da Colina e MC Darlan?

A canção cita a comunidade da Barreira do Vasco, na Zona Norte do Rio, uma favela que nasceu na década de 1930 e foi povoada, em sua maioria, por trabalhadores que participaram da construção do estádio de São Januário. Pela proximidade, os moradores da Barreira criaram um sentimento de pertencimento com o Vasco. Essa forte ligação, inclusive, se tornou um dos símbolos na luta contra o racismo e a elitização do futebol brasileiro.

Não por acaso, um dos autores de 'A Barreira Vai Virar Baile', MC Darlan, cresceu na comunidade e foi um dos responsáveis por colocá-la em evidência. O cantor reforça que falar da Barreira do Vasco é falar do clube, e vice-versa. "Se pararmos para pensar, o torcedor vascaíno passa a maior parte do tempo na Barreira do Vasco. Eu morei nessa comunidade, amo aquele lugar e considero ela a minha segunda casa. A relação é de amor e de paixão justamente por isso, por nos sentirmos em casa", explica o MC, que não esperava a grande repercussão da canção.

Estima-se que 19 mil pessoas morem na Barreira do Vasco. Em uma visita à comunidade, a reportagem do MEIA HORA conheceu histórias de moradores que são impactados diretamente com o clube, e a Associação de Moradores da Barreira do Vasco tem um papel fundamental para que a engrenagem funcione perfeitamente. A instituição conseguiu levar para dentro da comunidade cerca de 15 projetos sociais que atendem todas as idades.

Vânia Rodrigues da Silva, de 56 anos, ou Vaninha, como é carinhosamente conhecida por todos da comunidade, é presidente da associação há 19 anos. Neste período, ela luta diariamente para proporcionar experiências marcantes para as crianças, oportunidades aos jovens e bem-estar aos idosos. Atualmente, a comunidade tem acesso gratuito à ginástica, zumba, escolinhas de futebol, jiu jitsu, judô, tênis, natação, atletismo, além de outros serviços voltados para a educação, como aulas de reforço, pré-vestibular e até uma escola do Vasco que atende alunos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio.

"Me motiva saber que eu vou ver menos crianças perdidas no mundo. Eu já perdi muita gente por não ter conseguido oferecer oportunidades. Se de um total de 10 crianças e adolescentes, eu conseguir salvar uma, para mim já valeu a pena", diz, emocionada.

Esse é o exemplo da estudante de Educação Física, Kaylane Glalce, de 20 anos. Cria da Barreira, ela se formou na escola do Vasco da Gama enquanto treinava atletismo nas instalações do clube. A jovem descreve a comunidade como uma mãe que está sempre de braços abertos para acolher quem precisa e oferecer oportunidades. "Eu nunca fui muito desenvolvida para esportes como futebol ou vôlei, mas o Vasco me abriu portas para o atletismo. Conviver naquele ambiente, junto com outros moradores, mudou a minha forma de pensar, de agir, me ensinou o que é ter disciplina", lista Kaylane.