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Episódio que transformou urubu em mascote do Flamengo faz 50 anos

Em 1969, uma turma de amigos soltou um urubu em pleno Maracanã, e o Flamengo venceu

Luiz Octávio Vaz (esquerda), Romilson Meirelles e Victor Ellery
Luiz Octávio Vaz (esquerda), Romilson Meirelles e Victor Ellery -
Rio - "É ou não é/Piada de salão/Um time de urubu/Querer ser campeão". A paródia da velha marchinha dos anos 1950 doía nos torcedores a cada derrota. A popularização das transmissões de futebol via rádio fez do Flamengo um fenômeno entre as camadas mais pobres, e não tardou para o Rubro-Negro ganhar o estereótipo de clube da ralé. O que os rivais não entendiam é que ser popular nunca foi problema. Em 1º de junho de 1969, há exatamente cinquenta anos, um urubu voou pela primeira vez no Maracanã, e o Flamengo nunca mais foi o mesmo. 
O termo elitista e racista virou provocação nas mãos de uma turma do Leme, bairro da Zona Sul. A ideia surgiu de brincadeira, mas entrou para a história do futebol brasileiro. Luiz Octávio Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade levaram o bicho para o Maracanã num clássico contra o Botafogo pelo Campeonato Carioca de 1969. "As outras torcidas nos chamavam de urubu por causa da cor. A torcida do Flamengo é formada por negros em sua maioria. Pensamos: pior que é verdade mesmo. Vamos soltar o urubu!", conta Victor.
"Minha tia fez uma bandeira do Flamengo de quase um metro. Amarramos a bandeira no pescoço do urubu e levamos assim para o Maracanã", conta Luiz Octávio. Hidratado - os amigos deram uns goles de mate ao bicho -, ele foi solto antes da entrada dos times em campo. O bicho demorou para alçar voo, fez que ia tombar, mas ganhou o ar e levou a torcida à loucura. Quase 150 mil torcedores estavam no Maracanã. Ao pousar no gramado, os rubro-negros gritavam:"é urubu, é urubu, é urubu". Deu sorte. Arilson e Doval marcaram para o Flamengo, e Paulo César Caju diminuiu. 
Urubu foi ao abate contra o Fluminense
Nem só de glórias viveu o bravo mascote rubro-negro. No triangular decisivo do Campeonato Carioca de 1983, o flamenguista Márcio Frederico, conhecido como Márcio da Fla-Angra, falecido em 2017, pegou um urubu no cais de Angra dos Reis e o trouxe de ônibus dentro de um surdo até o Maracanã. 
Solto depois do apito inicial, o bicho pousou no gramado e deu trabalho aos funcionários. Ninguém pegava. A partida ficou seis minutos paralisada, e coube ao lateral-direito tricolor Aldo capturá-lo pelas mãos. Não era dia dele: o Fluminense venceu por 1 a 0, com gol de Assis. Em 1984, em outro Fla-Flu, um urubu também foi solto e foi parar na torcida tricolor. O animal acabou morto, e o Flamengo perdeu por 1 a 0.
Luiz Octávio Vaz (esquerda), Romilson Meirelles e Victor Ellery ARQUIVO PESSOAL
Uruba virou mascote que anima a torcida no Maracanã Staff Imagens / Flamengo
Um imponente urubu enfeita a entrada do CT do Flamengo, em Vargem Grande Gilvan de Souza