Em dezembro de 2016, o escritor Leo Motta passou a noite de Natal na rua. Depois da perda do filho e de uma overdose, o rapaz foi morar nas imediações do Largo da Carioca, no Centro do Rio. Leo estava com 35 anos. "O meu Natal foi aqui, mas estava em situação diferente. Hoje volto para dar dignidade, algo que não tive. As pessoas viravam o rosto para mim", contou o rapaz que organizou, ontem, uma festa para cem pessoas e colhe os frutos da publicação de 'Há vida depois das marquises', seu primeiro livro.
Além de ganhar roupas, pessoas em situação de rua puderam tomar banho, cortar cabelo e, depois do almoço (strogonoff com batata palha), já no fim da tarde participaram de uma ceia de Natal. Há seis anos vivendo nas ruas, Fernanda Valeska, de 19 anos, aprovou a ação. "Eu soube da ação e vim tomar banho e cortar o cabelo. É a forma deles de mostrar que nós também somos gente", quwe saiu de casa ainda adolescente, por conflitos com a mãe. "Meu sonho é voltar a estudar, se Deus quiser. Depois vou arrumar emprego para sair da rua. Me viro catando papelão e latinha", disse.
Além do respeito à população, o principal objetivo de Leo é conseguir tirá-las das ruas. "Eu recebi nova vida quando entrei para a Associação Solidários Amigos de Betânia, na Freguesia. E eu trago para eles a esperança de que também podem sair das ruas. A intenção é mostrar que eu saí do mesmo endereço que eles", defendeu.
Ontem, ele conseguiu vaga para seis pessoas na instituição que além da reabilitação, oferece cinco refeições diárias, acompanhamento psicológico e lazer para os internos.
Mas a festa de Natal também incluiu outros públicos. Com residência fixa na comunidade do Vale do Ipê, Belford Roxo, Laurimar Lima, de 39 anos, foi com os dois filhos, Marcos, de 10, e Joadson, de 2, aproveitar os benefícios da ação. "Hoje a gente vai almoçar aqui e vou levar algumas roupas para eles", contou.