Petrópolis - O Centro de Referência em Atendimento à Mulher (CRAM) de Petrópolis tem se tornado o principal aliado na luta contra a violência doméstica na cidade, atuando junto com os demais órgãos de defesa da vida e de apoio às vítimas desse tipo de crime.
Em entrevista exclusiva para "O Dia", a advogada e coordenadora do CRAM, Ana Luiza Franco, falou sobre o trabalho do centro e de como iniciativas inovadoras - como o Ônibus Lilás, por exemplo - ajudam a levar o atendimento a todas as mulheres que precisam de ajuda e acolhimento após serem vítimas de violência doméstica.
Ana Luiza Já trabalhava como assessora jurídica no CRAM há quase quatro anos e a partir do dia 1º de janeiro de 2021 assumiu a coordenadoria do órgão. O primeiro fato que chamou sua atenção foi o aumento de atendimentos neste primeiro mês do ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Foram 34 mulheres atendidas em 2020 contra 68 este ano.
Devido à pandemia, o CRAM ficou fechado entre março e junho de 2020, período que refletiu logo depois em uma diminuição do número de atendimentos. "Essa diminuição vem junto com a queda do número de subnotificações; as mulheres não conseguiam sair de casa. Nós vimos o número de registros cair e o número de denúncias no 180 aumentar".
O 180 é o número da Central de Atendimento à Mulher, que presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. Neste período da pandemia o número de denúncias aumentou em cerca de 40% em Petrópolis, segundo a advogada.
Um outro dado alarmante é que - com o confinamento e o maior tempo de convivência entre agressores e suas companheiras durante o período de isolamento social - começaram a surgir novos tipos de violência física e moral contra as vítimas.
Ana Luiza explica que começaram a chegar a seu conhecimento casos em que o companheiro impedia a mulher de fazer sua higiene correta para a prevenção contra a COVID-19, impedimento de que ela usasse máscara, homens que não respeitam a quarentena e expondo a família ao risco de contaminação, entre outros.
Subnotificações de casos
Perguntada sobre se o número de casos de violência poderia ser muito maior do que o registrado, Ana Luiza foi enfática: "Hoje em dia as mulheres têm muito mais noção dos direitos dela. Primeiro que a mídia noticia muitos casos de violência e feminicídio, então as vítimas começam a ser informadas de que podem denunciar, que tem direitos, que existe a Lei Maria da Penha".
Mas a advogada diz temer os casos em que as mulheres acreditam que a violência contra ela somente se restringe a agressões físicas, enquanto elas já estão vivendo um relacionamento violento há muito tempo. Ou seja, havendo subnotificações, boa parte delas é devido a este fator.
"No primeiro indício de violência psicológica, a mulher já deve fazer uma denúncia, já procure o CRAM", alerta a coordenadora, lembrando que a Lei Maria da Penha estabelece que a palavra da vítima deve prevalecer no caso de uma denúncia.
Em relação aos casos em que a mulher quer retirar a queixa contra o agressor, Ana Luiza explicou que depois da Lei Maria da Penha somente através de uma audiência específica - e com o acompanhamento do Ministério Público - a denúncia pode ser retirada. Antes, bastava a vítima ir até a delegacia e expressar que não queria mais dar continuidade ao processo, sendo em muitos casos coagida pelo agressor a fazê-lo.
"Muitas mulheres acreditam que o agressor vai se redimir e não praticar mais atos de violência, por isso acabam querendo retirar a queixa, levando-as a entrarem no que chamamos ciclo de violência", explicou a coordenadora do CRAM.
Ônibus Lilás
Outra iniciativa do CRAM é o chamado Ônibus Lilás, que voltou a oferecer atendimento nas comunidades mais distantes de Petrópolis a partir deste mês de fevereiro. Na estrutura, as equipes do órgão oferecem serviços multidisciplinares, psicólogos e auxílio jurídico. A ideia é acolher e orientar as mulheres, especialmente as vítimas de violência doméstica.
O primeiro bairro visitado neste ano foi a Vila Rica, onde foram feitos seis atendimentos e orientações. O número parece ser baixo, mas Ana Luiza destaca que é normal, pois muitas mulheres ainda têm vergonha de ir até a instalação para buscar apoio, apesar de o veículo ser equipado com salas que garantem a privacidade.
"Oferecer às mulheres um atendimento especial, para que elas se sintam acolhidas e com seus direitos assegurados é de suma importância. Contribui para que mostremos às mulheres que elas têm uma rede de apoio com que podem contar no município, mesmo em bairros mais distantes", disse Ana Luiza.
O serviço é oferecido de 9h às 14h. Abaixo o cronograma dos próximos atendimentos do Ônibus Lilás:
27/02 – Praça de Secretário, em Secretário.
06/03 – Posto de Saúde da Posse
13/03 – Posto de Saúde do Brejal
20/03 – Escola M. Amélia Antunes Rabelo, em Madame Machado
27/03 – Escola Paulo Montes, em Araras.
03/04 – Escola Abelardo Delamare, no Caxambu.
27/02 – Praça de Secretário, em Secretário.
06/03 – Posto de Saúde da Posse
13/03 – Posto de Saúde do Brejal
20/03 – Escola M. Amélia Antunes Rabelo, em Madame Machado
27/03 – Escola Paulo Montes, em Araras.
03/04 – Escola Abelardo Delamare, no Caxambu.
Patrulha Maria da Penha
Um parceiro do trabalho do órgão é a conhecida como Patrulha Maria da Penha, criada pela Polícia Militar em agosto do ano passado. Os agentes da PM oferecem acompanhamento a mulheres que foram ameaçadas e tiveram medida protetiva contra o agressor expedida pela Justiça.
"Eles atuam ajudando as mulheres que já tem a medida protetiva, nós passamos o telefone deles às mulheres para que mantenham contato, os agentes estão sempre falando com elas, visitando a casa, fazendo um trabalho preventivo junto a elas", disse Ana Luiza.
O serviço não funciona 24 horas, e só atende de segunda a sexta, mas de qualquer forma já é um grande avanço para a defesa dos direitos das mulheres. Fora desses dias, o CRAM continua monitorando os casos que surgem e se for preciso aciona a Polícia Militar a qualquer hora do dia ou da noite.
Serviço
CRAM
Endereço: Rua Santos Dumont, Centro
Telefone: (24) 22436152
E-mail: crampetropolis@gmail.com
Horário: de segunda à sexta, de 8h às 17h
Endereço: Rua Santos Dumont, Centro
Telefone: (24) 22436152
E-mail: crampetropolis@gmail.com
Horário: de segunda à sexta, de 8h às 17h