Rio - A Polícia Civil investiga se o adolescente de 17 anos, apreendido nesta quinta-feira (23), sofria bullying e se tinha envolvimento com grupos terroristas de outros estados e até mesmo de países. Ele foi detido a caminho da escola onde estuda no Centro do Rio, onde, segundo denúncia feita pelo Google à Interpol, cometeria um ataque armado tendo como alvo principal duas professoras e um aluno. O celular e o computador do acusado foram apreendidos para uma análise mais detalhada. Em vídeos no Youtube, o adolescente compartilha, vestido de roupa preta e touca ninja, os planos e exibe armas e uma suástica nazista no computador.
"Eu esqueci de dizer: isso aqui é uma carabina, só que ela demora um ano para carregar. É a arma que eu tenho para poder disparar nos colegas. Que coisa ótima, né?! Um tiro e a cabeça dele explode (risos). Isso é um V de vingança. Eu não vou revelar minha identidade nunca", disse o jovem, que eu outro momento afirma que a arma é de brinquedo.
Na gravação, ele afirma ainda sofrer estresse pós-traumático, ansiedade e distúrbios mentais, e que, após matar todos da escola, vai tirar a própria vida. O jovem se autodenomina nazista, exibe a suástica e ergue o braço para frente, em referência à saudação feita durante o regime liderado por Adolf Hitler na Alemanha. Além disso, o adolescente diz que tem dois apoiadores, mostra uma faca e repete que vai matar todos do colégio. "Vocês não vão vencer. Vai ser fatal, isso é uma ameaça. Vocês estão vendo aquela imagem ali. Vocês não vão vencer essa guerra nem a pau", disse.
A Operação Liberatio ocorreu após troca de informações entre as delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e a de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), além da Polícia Federal, a Interpol e a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), que colaborou com todo o processo de investigação.
Segundo a delegada Rita Salim, titular da Decraci, o ataque estava planejado para o dia 20 de abril, data que marca os 24 anos do massacre de Columbine, nos Estados Unidos. Na ocasião, dois alunos entraram armados em um colégio do estado do Colorado e mataram 12 estudantes e uma professora. Outras 24 pessoas ficaram feridas.
"Ele dizia que se vingaria e que eles teriam a resposta. Era direcionado a duas professoras e a mais um aluno, que não conseguimos identificar. No vídeo, ele traz elementos de cunho nazistas. Ele exibe uma arma longa, que não sabemos se tratar de um simulacro ou não, o fato é que não está mais com ele. Ele diz que vai atirar e depois mostra a faca dizendo como vai cortar. É um crime de ódio direcionado a um determinado grupo da escola. Ele se refere muito ao episódio que aconteceu em 1999, em Columbine, onde teve aquele massacre a uma escola", explicou a delegada, que vai investigar sobre possíveis casos de bullying.
"Ele diz que foi vítima de bullying por um longo tempo na escola e se socorreu desse fato para poder fazer uma revanche. Montar uma vingança de maneira que as pessoas que fizeram ele sofrer, sofressem também", afirma.
"Ele diz que foi vítima de bullying por um longo tempo na escola e se socorreu desse fato para poder fazer uma revanche. Montar uma vingança de maneira que as pessoas que fizeram ele sofrer, sofressem também", afirma.
Os pais do menino, que o acompanharam nos depoimentos, estavam assustados e não quiseram falar. Eles também foram ouvidos. De acordo com Rita Salim, o adolescente se interessa por histórias de massacres em escolas e conhece armas porque joga videogame.
"A gente quer investigar a rede que está divulgando e incentivado esse tipo de conteúdo. A gente acredita que ele consegue apoio e conteúdo de canais que incentivam esse crime de atos extremistas e apologia ao nazismo. Vamos investigar as redes que ele frequenta", informou a delegada.
O menor apreendido vai responder por atos infracionais análogos aos crimes de terrorismo e apologia ao nazismo. A juíza da Vara da Infância e Juventude da capital, Vanessa Cavalieri, decretou a internação provisória dele. Responsável pela investigação na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), o delegado Marcus Vinicius Braga também quer entender se esse adolescente planejava o ataque sozinho ou se existe uma rede de apoio, uma vez que a investigação aponta para a possível existência de outras pessoas envolvidas no plano.
"Não é um menor adolescente que tem perfil de praticar atos infracionais análogos a crimes comuns, é um perfil que ainda vai ter que ser analisado por psiquiatras, psicólogos, para entender o que está acontecendo", disse.
Os policiais cumpriram, ainda, mandado de busca e apreensão no domicílio de um outro adolescente, também de 17 anos, em Realengo, Zona Oeste do Rio. Um celular e um computador foram apreendidos. Ele prestou depoimento e disse à polícia que não tem relação com os conteúdos compartilhados pelo seu celular a partir de um e-mail da mãe. A Polícia Civil vai chamar os irmãos dele para serem ouvidos.
"Esses adolescentes precisam ser monitorados pelos pais, pra acompanhar o tipo de conteúdo que eles consomem. Os tipos de canais que eles são inscritos, os vídeos que eles baixam, qual site eles acessam, porque a única maneira de controle é o controle dos pais. Porque enquanto criança e adolescente, a responsabilidade é dos pais. É importante verificar se eles estão se tornando agressivos, se ficam trancados no quarto, precisa ter os olhos voltados pra isso. Porque eles criam uma vida própria dentro do âmbito virtual. Você vai querer que o adolescente seja um adulto com qual tipo de comportamento? Ele vai ter um comportamento do que ele consome", explica Rita Salim.
O jornal O Dia entrou em contato com a Secretaria de Estado de Educação para saber se alguma medida seria tomada em relação ao aluno detido, mas eles informaram que não tem medida nenhuma para ser tomada, uma vez que o caso está com a polícia e o judiciário.