Cirurgiã responsável por procedimento em mulher na Barra já era investigada por outra morte

Em agosto de 2020, Adjane Marinho da Silva Santos morreu em decorrência de uma lipoaspiração conduzida por Eliana Jiménez

Eliana Jimenez já era investigada por um caso semelhante em 2020
Eliana Jimenez já era investigada por um caso semelhante em 2020 -
Rio - A Polícia Civil informou, nesta terça-feira (20), que a cirurgiã plástica Eliana Jiménez, envolvida na morte de Ingrid Ramos Ferreira, de 41 anos, em uma clínica de estética, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, na quinta-feira (15), já era investigada por um caso semelhante.
Em agosto de 2020, Adjane Marinho da Silva Santos morreu em decorrência de uma lipoaspiração conduzida pela mesma médica. O inquérito não foi concluído e o caso ainda é apurado pela 27ª DP (Vicente de Carvalho). 
Depoimentos do caso Ingrid
Segundo o delegado Ângelo Lages, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), o porteiro e a subsíndica do prédio onde a clínica fica, na Avenida Olegário Maciel, na Barra, foram ouvidos na segunda-feira (19). A síndica será ouvida ainda nesta terça (20).
Os depoimentos do filho e da irmã de Ingrid estão marcados para a quarta-feira (21). O adolescente, de 14 anos, estava acompanhando a mãe no procedimento e ligou para os familiares após a morte.
Relembre o caso
Ingrid Ramos foi até o local realizar uma reparação de uma cirurgia de abdominoplastia feita no ano passado. De acordo com Ícaro Ramos Ferreira, 33 anos, irmão da vítima, o local era inadequado para realização do procedimento.
"Para mim aquilo ali era um açougue, não era uma clínica. Só Deus sabe a dor que eu estou sentindo. Nós ficamos sabendo porque o filho dela ligou para minha outra irmã, eu estava no trabalho e fiquei desesperado. Essa clínica é um 'hotelzinho', parecendo uma quitinete, é uma sala pequenina, quando chegamos estava só a médica, o marido e um policial lá dentro", explicou.
O irmão chegou a gravar um vídeo no momento em que chegou na clínica, onde uma outra pessoa fala que a vítima sofreu uma reação alérgica à anestesia. 
Na última sexta-feira (16), a sala comercial foi interditada após a perícia da Polícia Civil. Os agentes apreenderam equipamentos e documentos no local. O caso segue sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e segundo a corporação, diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.  
Clínica sem licença para funcionar
O estabelecimento passou por um perícia da Polícia Civil e acabou interditado pelo Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa), após uma série de irregularidades serem encontradas. 
Segundo o delegado Ângelo Lages, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, além da falta de licença da Vigilância Sanitária, na clínica também foram encontrados medicamentos fora da validade e materiais para cirurgias, que não poderiam ser usados, já que o estabelecimento não tem autorização para realizar procedimentos cirúrgicos. O Ivisa também encontrou tubos de coleta de sangue vencidos; próteses mamárias com indício de reutilização; e autoclave sem o correto fluxo para a esterialização.
De acordo com o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, no ano passado, o local já havia sido multado por falta de licenciamento. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso.
Depoimento de Eliana Jiménez
A médica relatou que o procedimento era para a retirada de uma queloide na região do abdômen e que não precisava ser realizado em um centro cirúrgico. Eliana contou que utilizou 15 miligramas da substância Dormonid Maleato de Midazolam - usado para o tratamento de curta duração da insônia -, e uma solução anestésica com lidocaína e um pouco de adrenalina. Logo depois da aplicação da anestesia, Ingrid teve uma convulsão, que durou entre três e quatro minutos.
Ainda segundo a oitiva, Eliana precisou desobstruir as vias aéreas da paciente, mas ela passou a espumar pela boca e contrair o corpo. A médica chegou a perguntar para o filho da vítima, que a acompanhava, se a mãe tinha intolerância a alguma substância usada e pediu que outros pacientes acionassem o Serviço de Antedimento Móvel de Urgência (SAMU). Pouco depois, Ingrid começou a perder pulsação e a cirurgiã fez manobras de ressuscitação, que também foram realizadas pelo médicos do Samu, mas eles não conseguiram reverter o quadro e a mulher acabou morrendo.