Geral

Vazamento de esgoto atinge Cais do Valongo no mesmo dia de início das obras de valorização

Pedestres que passavam pelo sítio arqueológico, considerado patrimônio da humanidade pela Unesco, tiveram que desviar de poças com lixo para não se sujarem

Por Romulo Cunha

Publicado às 06/07/2023 17:07:06 Atualizado às 06/07/2023 17:07:06
Vazamento de esgoto atinge Cais do Valongo, na Zona Portuária do Rio, nesta quinta-feira (6)
Rio - Quem passou pelo sítio arqueológico do Cais do Valongo, na região da Pequena África, Zona Portuária do Rio, nesta quinta-feira (6), sentiu um forte odor de esgoto devido a um vazamento que ocorreu no local. O fato aconteceu no mesmo dia em que o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) iniciou obras de valorização do espaço.
O Cais do Valongo registrou diversas poças de esgoto na parte da manhã com acúmulo de folhas secas e lixo como descartáveis. Pedestres que passavam por uma das calçadas do espaço tiveram que desviar para não se sujarem.
Acontece que não é a primeira vez que o sítio arqueológico sofre com sujeira. No dia 1º de abril do ano passado, por exemplo, o Cais do Valongo amanheceu alagado e lotado de lixo depois de um temporal que atingiu a cidade do Rio. Na época, a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) informou que o nivel do lençol freático subiu e um problema em uma das bombas diminuiu o tempo de drenagem, o que provocou o alagamento.
O Cais já sofreu com o mesmo problema em outras situações. Há dois anos, uma piscina se formou no local devido a um problema no fornecimento de energia na Zona Portuária, que gerou problemas na drenagem do espaço realizada por bombas submersas. O sítio arqueológico fica abaixo do nível de lençol freático e, por isso, o trabalho de drenagem é necessário.
Já em julho de 2020, um funcionário da Secretaria Municipal de Conservação (SECONSERVA) chegou a ficar submerso durante um trabalho de reparo.
Questionada sobre o vazamento de esgoto desta quinta-feira (6), a concessionária Águas do Rio informou que enviou uma equipe operacional ao local para terminar com o problema.
Obras de valorização
O IDG iniciou as obras de valorização do sítio arqueológico nesta quinta-feira (6). Primeiro, o local recebeu contêineres de apoio. Na sequência, está prevista a instalação de muretas e um guarda-corpo. Após o trabalho, será colocado um módulo expositivo com quatro totens que vão contar a história da região. A curadoria é da historiadora especialista na História da Escravidão e das Relações raciais nas Américas, Ynaê Lopes dos Santos.
Após as instalações, a Prefeitura do Rio de Janeiro destacou que vai implantar uma nova iluminação no espaço, obedecendo a todas as especificidades necessárias, a partir do projeto feito pelo IDG.
O Cais do Valongo é considerado patrimônio da humanidade pela Unesco desde 2017. O local é o único vestígio material da chegada de negros escravizados à América. Entre 1811 e 1831, estima-se que tenham desembarcado na região cerca de um milhão de pessoas provenientes, em sua maioria, do Congo e de Angola.
O sítio arqueológico foi descoberto em 2011, na fase inicial do projeto Porto Maravilha, de revitalização da região, adjacente ao mercado. O local tem uma forte ligação com a história da escravidão no Brasil. O Valongo é considerado o maior porto receptor de pessoas escravizadas do mundo e integra a lista de Patrimônio Mundial da ONU.

O Cais passou a ser utilizado após uma nova legislação estabelecer a transferência do mercado de escravos para a localidade. Mesmo com a proibição do tráfico negreiro em 1831, espaço continuou sendo um dos principais pontos para compra e venda de pessoas escravizadas.
A escavação arqueológica de 2011 abriu um pedaço de terreno de quatro mil metros quadrados. De lá saíram centenas de artefatos de matrizes africanas, como contas de colares, búzios, brincos e pulseiras de cobre, cristais, peças de cerâmica, anéis de piaçava, figas, cachimbos de barro, materiais de cobre, âmbar, corais e miniaturas de uso ritual. Parte deste acervo está em exposição no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), na Rua Pedro Ernesto, na Gamboa.