Rio - O corpo de N.M.S, de 12 anos, foi sepultado sob forte comoção, neste sábado (18). A menina morreu na última quinta-feira (16), ao ser atingida por uma bala perdida, em um tiroteio na comunidade do Buraco Quente, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Familiares e amigos se reuniram no Crematório Metropolitano São João Batista, no município, para a despedida.
A mãe da criança, que também acabou baleada no tiroteio, chegou ao velório em uma cadeira de rodas, com muletas e a perna direita enfaixada. Muito abalada, Claudia Morais, de 42 anos, precisou ser amparada por familiares, que também estavam emocionados. Durante a despedida, uma das irmãs da vítima também foi confortada por parentes. No velório, um pastor fez uma oração e os presentes cantaram músicas.
"Até quando? Só vai ser mais uma? Os corações ficam dilacerados, até quando isso? Não dá, está difícil, é mais um pedaço que se foi e outros vão, também. Até quando?", lamentou a tia da menina, Barbara Moraes, em entrevista ao 'RJ1' da TV Globo. "A pergunta que todos fazem é: "por que estava na rua?". Nós temos que ir no mercado, para a escola, no médico, que sair de casa, a gente não pode ficar preso", continou o desabafo.
Emocionado, o pai da vítima pediu paz. "Eu peço paz, essa criminalidade, essa covardia. Foi a minha filha, vem outras e mais outras (...) Eu quero é paz", disse Gelson Moreira à TV Globo.
Após a despedida, a família seguiu para o Cemitério de Éden, também em São João de Meriti, onde o corpo da menina foi sepultado, por volta das 12h. A mãe e uma das irmãs de N. passaram mal e não estiveram no enterro. O momento foi acompanhado pela ONG Rio de Paz, que distribuiu cartazes com fotos de crianças vítimas da violência no Rio entre parentes, vizinhos e outras crianças que estiveram no local.
Entenda o caso
Na manhã de quinta-feira, N.M.S havia saído de casa com a mãe para comprar refrigerante para o almoço, quando foram surpreendidas por um tiroteio e acabaram sendo atingidas por tiros. Segundo a Polícia Militar, o 21º BPM (São João de Meriti) verificava informações sobre "um indivíduo em uma moto roubada e esconderijo de armas e drogas na região". Os PMs dizem ter sido atacados a tiros vindos da comunidade do Buraco Quente, dominada pelo Comando Vermelho (CV).
Na ação, os PMs prenderam um suspeito e a moto roubada. No tiroteio, N. e a mãe acabaram baleadas e foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Municipal de São João de Meriti. Atingida no tórax, a adolescente não resistiu. Já Claudia Morais, de 42 anos, precisou ser transferida para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, também na Baixada Fluminense, e recebeu alta na mesma noite.
Segundo o Fogo Cruzado, este é o segundo caso de adolescente baleado neste ano no Grande Rio. A Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga o caso. O comando do 21º BPM também instaurou um procedimento apuratório para analisar as circunstâncias do fato. Uma cunhada da vítima contou que ela e o marido, que era irmão mais velho, pretendiam levar a menina para morar com eles fora do Buraco Quente, por conta da violência na comunidade. "A gente ia pegar ela para morar com a gente, só que não deu tempo, infelizmente".