Depoimentos revelam últimas palavras de assessor morto por policial: 'Para que isso?'

Marcelo dos Anjos Abitan da Silva chegou a pedir para que Raphael Pinto Ferreira Gedeão não atirasse

Marcelo dos Anjos Abitan da Silva morreu em discussão com Raphael Pinto Ferreira Gedeão
Marcelo dos Anjos Abitan da Silva morreu em discussão com Raphael Pinto Ferreira Gedeão -
Rio - Depoimentos de funcionários do Wyndham Rio Barra ajudaram a traçar os últimos momentos do assessor parlamentar Marcelo dos Anjos Abitan da Silva, 49, e a discussão com o policial civil Raphael Pinto Ferreira Gedeão. O também empresário foi morto a tiros pelo agente, em frente ao estacionamento do hotel, na Barra da Tijuca, Zona Oeste. O crime aconteceu no último domingo (19) e, segundo um dos relatos, antes de morrer, a vítima chegou a perguntar o motivo do acusado ter atirado. 
Um funcionário relatou à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) que, por volta das 3h, ouviu um barulho constante de buzina vindo do veículo de Marcelo, que estava parado na cancela de entrada do estacionamento, mas não conseguia entrar, porque outro carro estava parado no local. A vítima ficou entre cinco e dez minutos buzinando, para tentar chamar atenção do dono do automóvel, que estava vazio.
Segundo a oitiva, pouco depois Raphael apareceu e informou ao funcionário que o carro parado pertencia a ele e, ao chegar ao estacionamento, Marcelo e o policial começaram uma discussão. O empresário, que estava dentro do próprio veículo, decidiu descer e foi em direção ao agente, que atirou contra ele. A testemunha contou que não viu agressão por parte da vítima, que havia apenas se aproximado do acusado.
"'Pô, irmão, desnecessário, não precisava disso", disse o profissional ao acusado, que teria respondido que tentou falar com o assessor e "agora deu nisso aí, agora chama a polícia". O funcionário relatou que chegou a perguntar se Gedeão era policial, mas ele não respondeu e deixou o local em seu carro, depois que a cancela do estacionamento foi aberta. O depoimento lembra ainda que ao ser baleado, o assessor parlamentar dizia: "Para que isso? Para que isso?". 
Também em depoimento à DHC, um outro funcionário do hotel relatou que, após o primeiro disparo do policial, Marcelo levantou os braços e disse: "Não, não, tá bom, tá bom", mas outros três ou quatro tiros ainda foram ouvidos. Segundo ele, o empresário ferido correu para trás do próprio carro, se sentou e colocou a mão na cabeça, morrendo cerca de 30 minutos depois.

Policial estava hospedado e fugiu quebrando cancela de estacionamento

Um outra testemunha contou que administra unidades do hotel - que funciona também como apart-hotel - e uma delas estava alugada pelo agente há cerca de seis meses. Ela disse que todos os moradores e hóspedes precisam fazer um cadastro mensal, mas que Raphael trocava de carro com frequência e não sabia se ele atualizava as informações.
Já uma funcinária do estacionamento relatou que na ocasião, o policial civil tentou acessar a cancela sem o cadastro de morador e foi impedido. Ele então desceu do veículo e entrou no hotel e, cerca de três minutos depois, o empresário chegou em seu carro e, ao não conseguir entrar, passou a buzinar. A testemunha ofereceu que ele entrasse pela cancela de saída ou deixasse com um manobrista, mas ele não aceitou e reclamou da situação.
"Ele está tirando o meu direito de ir e vir, que cara abusado", teria dito Marcelo. Depois, Raphael apareceu e a discussão teve início. A funcionária informou que se afastou antes do crime acontecer e acompanhou tudo pelas câmeras de segurança. Ela conta que quando o acusado pegou a arma, a vítima fez um gesto como se também fosse sacar uma, momento em que Raphael atirou a primeira vez.
Cerca de dez minutos depois, o agente parou na cancela de saída com seu veículo e, nervosa, ela não conseguiu liberar a passagem, fazendo com que ele avançasse, quebrando o equipamento do estacionamento e fugindo.
Justiça decreta prisão
Nesta segunda-feira (20), o juiz Orlando Eliazaro Feitosa decretou a prisão temporária de Raphael pelo prazo de 30 dias. Na decisão, o magistrado considerou os depoimentos das testemunhas, entendendo que o crime ocorreu por uma discussão banal. A Delegacia de Homicídios da Capital realiza buscas para prender o policial civil
De acordo com o advogado de Gedeão, Saulo Carvalho, "imediatamente após o ocorrido, o investigado entrou em contato com os órgãos de segurança, a fim de diligenciarem ao local dos fatos e prestarem o devido auxílio à vítima". A defesa disse ainda que Raphael "colocou-se à disposição da autoridade policial para eventuais esclarecimentos sobre os fatos ora apurados pela Delegacia de Homicídios da Capital".
O corpo de Marcelo foi sepultado ontem, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste. Ele era assessor parlamentar da vereadora Vera Lins (Progressista) e tinha lojas de produtos de cabelo e de brinquedos em Madureira, na Zona Norte. O empresário deixa a mulher e um filho, com quem comemorou recentemente a aprovação em Medicina no vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
 
Marcelo dos Anjos Abitan da Silva morreu em discussão com Raphael Pinto Ferreira Gedeão
Marcelo dos Anjos Abitan da Silva morreu em discussão com Raphael Pinto Ferreira Gedeão Reprodução
Marcelo Abitan, de 49 anos, era assessor parlamentar e empresário
Marcelo Abitan, de 49 anos, era assessor parlamentar e empresário Reprodução / Redes Sociais
Polícia Civil pediu a prisão de Raphael Pinto Ferreira Gedeão
Polícia Civil pediu a prisão de Raphael Pinto Ferreira Gedeão Reprodução/TV Globo
Raphael Pinto Ferreira Gedeão foi identificado como o policial civil que matou o assessor parlamentar
Raphael Pinto Ferreira Gedeão foi identificado como o policial civil que matou o assessor parlamentar Reprodução/TV Globo
Marcelo dos Anjos Abitan da Silva era assessor parlamentar e empresário
Marcelo dos Anjos Abitan da Silva era assessor parlamentar e empresário Reprodução