Morre criança de quatro anos por envenenamento no Piauí

É a quinta vítima fatal. Ao todo, nove pessoas da mesma família foram socorridas

Veneno estava no arroz preparado com feijão
Veneno estava no arroz preparado com feijão -
O caso do envenenamento de uma família em Parnaíba, no litoral do Piauí, já registra a quinta vítima. Uma criança de apenas quatro anos, que estava internada desde o dia 3 de janeiro, não resistiu e morreu na madrugada da última terça-feira (21). Ao todo, nove pessoas da mesma família foram socorridas após comerem baião de dois (arroz preparado com feijão) envenenado com terbufós, uma substância tóxica semelhante ao "chumbinho".
Nesta quarta-feira, 22, a direção do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) confirmou a morte da criança, que estava na UTI Pediátrica. 
A primeira morte ocorreu no dia 1º. Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, passou mal logo após comer o alimento. Ele chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mais não resistiu e morreu ainda na ambulância.
"O Samu foi acionado e, quando chegou, uma das vítimas estava apresentando um quadro de convulsão. Iniciaram o atendimento e identificaram um possível envenenamento. Toda a família estava apresentando sinais de intoxicação. Parte dos peixes foi apreendida para a perícia ser feita", afirmou o delegado.
A segunda morte foi confirmada no dia seguinte. Um bebê, de apenas um ano e oito meses, estava internado no Hospital Regional Dirceu Arcoverde (Heda), mas também não resistiu. A criança é irmã de dois meninos, de 8 e 7 anos, que também morreram depois de comerem cajus envenenados em novembro de 2024.
A terceira morte aconteceu no dia 6 de janeiro, no Hospital de Urgência de Teresina. Uma criança de apenas três anos, irmã da quinta vítima.
Já a quarta morte ocorreu no dia 7 de janeiro, no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda). Francisca Maria da Silva, de 33 anos, ficou seis dias internada. Ela é mãe da criança de apenas quatro anos que morreu nesta semana.
Outras quatro pessoas que foram internadas já receberam alta, inclusive Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, acusado de todos esses envenenamentos, que está preso preventivamente.
Além das mortes ocorridas este ano, Francisco de Assis agora é investigado pelas mortes das duas crianças em novembro de 2024. Isso porque o mesmo veneno encontrado nos meninos foi encontrado nas vítimas do almoço do dia 1º de janeiro de 2025.

Lucélia Maria da Conceição, acusada anteriormente de envenenar e matar essas duas crinaças, foi solta, porque o laudo do exame pericial não confirmou a presença de veneno nos cajus que as crianças comeram e depois morreram.

Segundo o advogado de defesa dela, Sammai Cavalcante, a audiência de instrução e julgamento, onde ele pede a absolvição sumária de Lucélia, deveria acontecer nesta quinta-feira, 23, mas foi adiada para o dia 17 de março a pedido do Ministério Público do Estado. A Promotoria afirmou aguardar novas diligências sobre o caso, que agora corre em segredo de Justiça.
Veneno
Inicialmente, a suspeita era de que as vítimas teriam sido envenenadas por meio de peixes que receberam junto de uma cesta básica doada na noite do dia 31, mas nada foi encontrado no alimento.
O laudo pericial do Instituto de Medicina Legal (IML) sobre a comida que foi ingerida pela família revelou que o veneno estava no baião de dois (arroz preparado com feijão) preparado por eles no dia anterior. Com o resultado, a Polícia Civil do Piauí (PCPI) investiga o caso como homicídio.
Segundo o médico Antônio Nunes, diretor do IML, o veneno foi colocado em grande quantidade no baião de dois. "Estava em todo o arroz, em grânulos visíveis", disse.
A substância encontrada foi o veneno "terbufós", da classe dos organofosforados, utilizado como inseticida e nematicida (pragas de plantas). Ele ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos, causando tremores, crises convulsivas, falta de ar e cólicas. Os efeitos aparecem pouco tempo depois da exposição ao veneno, podem deixar sequelas neurológicas e causar a morte.
De acordo com o delegado Abimael Silva, o veneno foi colocado no arroz no dia 1° de janeiro, porque a família comeu o mesmo prato, da mesma panela, na noite de Réveillon.

"No dia 31, a família fez o baião de dois e consumiu, mas ninguém passou mal. Só depois do meio-dia do dia 1º começaram a sentir os efeitos", explicou.
Segundo o delegado, os sintomas dos familiares foram os mesmos: frequência cardíaca abaixo do normal e sudorese intensa.
*Com informações do Estadão Conteúdo