Entenda a relação entre os xingamentos e a Síndrome de Tourette
Por Edicase
Publicado às 28/11/2024 15:06:54A Síndrome de Tourette, também conhecida como “doença de Gilles de la Tourette”, é um distúrbio do sistema nervoso que envolve tiques motores involuntários, que incluem piscar, franzir a testa, balançar a cabeça, contrair os músculos, entre outros. No entanto, o que torna a síndrome conhecida são os vocais involuntários, também chamados de “coprolalia”, que podem resultar na formação de palavras ofensivas ou socialmente inaceitáveis.
Segundo o neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, os xingamentos involuntários na Tourette podem ser compreendidos como um reflexo neural de pensamentos ou impulsos que todos nós temos, mas que, normalmente, conseguimos suprimir. No entanto, para os pacientes, essa capacidade de controle é comprometida, expondo a face bruta da condição humana.
Causas dos xingamentos
A teoria do Dr. Fabiano de Abreu sugere que a coprolalia não é aleatória. Ela emerge de um cérebro em que os mecanismos de inibição estão disfuncionais. “Todos nós, em algum momento, experimentamos pensamentos de raiva ou frustração, muitas vezes acompanhados de palavras que jamais ousaríamos pronunciar em público. Na Síndrome de Tourette, essas palavras escapam porque o ‘freio’ cerebral, localizado no córtex pré-frontal, não funciona adequadamente”, explica.
Essa ideia é sustentada por estudos que associam a coprolalia à desregulação do circuito córtico-estriato-talâmico-cortical, uma rede neural que controla impulsos e regula o comportamento social. Alterações nos gânglios da base e no córtex orbitofrontal, duas regiões críticas para o controle comportamental, também estão diretamente ligadas à condição.
mecanismos cerebrais por trás da coprolalia continua em desenvolvimento, mas avanços significativos têm sido alcançados com o uso de tecnologias como neuroimagem funcional e genética molecular. Esses estudos ajudam a identificar os circuitos neurais específicos e os genes envolvidos, possibilitando o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.
“O futuro da pesquisa em Tourette passa pela personalização do tratamento, combinando abordagens farmacológicas com terapias comportamentais baseadas em evidências. Intervenções como estimulação cerebral profunda estão sendo exploradas para casos graves, oferecendo esperança para pacientes que não respondem a métodos convencionais”, explica o Dr. Fabiano de Abreu.
A educação da sociedade sobre o que é a Síndrome de Tourette e, especialmente, sobre a natureza involuntária dos sintomas, como a coprolalia, é um passo essencial para reduzir o estigma e criar ambientes mais compreensivos e acolhedores. “Ao compreender melhor o que está por trás da Tourette, nos tornamos mais capazes de oferecer apoio e dignidade aos que convivem com essa condição. É um chamado à empatia, à ciência e à humanidade”, conclui o neurocientista.
Por Tayanne Silva