E lá vai o Dirceu em cana com recursos esgotados. Coincidência ou não, passados 50 anos do congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo, volta à prisão quase que pelos mesmos motivos. A história se repete, termina em cela de cadeia - é o eterno subversivo corrupto contrário ao regime da lei. Os fatídicos anos terminados em 8 são infalíveis; em junho, foi a Passeata dos Cem Mil, e o líder "bonitão" de 1968 dançou em pleno 2018 na história do Brasil.
É triste a derrocada humana; certas máximas são infalíveis: "dinheiro e poder destroem o caráter"; "não se consegue enganar ninguém por muito tempo"; "dê poder a alguém e logo verá quem realmente é". São ocorrências que confirmam o que a sabedoria popular preconiza. Dirceu e companheiros de ideologia sucumbiram a todas elas. Hoje, muitos dos que lutavam por um Brasil livre dos militares nos anos 1960 estão encrencados justo com a Justiça, igual para todos que tanto desejaram. Eles se esbaldaram no poder e na grana, e Zé acabou rico!
Tragicamente, esse personagem anistiado buscando a liberdade, hoje, em plena democracia, encontra grades. Tem mérito e demérito, ajudou a construir e a destruir o Estado em que nos encontramos. Desejou o poder por anos, sonhou com a tão famosa caneta na mão. Ele a possuiu, mandou e desmandou, nos anos de domínio do partido. Enlouqueceu de poder, perdeu a cabeça, gozou em pleno capitalismo e em seus ícones. Seduzido, se agenciou com a corrupção inicialmente justificada em nome da "causa" que findou por causa própria.
Invejaram o lugar dos opressores do passado que furtavam a nação. Contraditório, é inegável, os Zés Dirceus se vestiram com todas as roupas que criticaram, basta rever os discursos e constatar no que se transformaram, foram ocupar o lugar do corrupto criticado.
O tom da Opinião parece de obituário embora ele esteja vivo, mas homenagem também não é o caso. Deixou de fazer por merecer, resta lamentar e lembrar as palavras do Lula no discurso derradeiro antes da prisão, quando sugeriu não ser mais um homem e, sim, uma ideia. Dirceu, assim como Lula, será preso e esquecido. Ideias e pessoas morrem, nessa vida tudo passa, tudo se banaliza, e ele será mais um homem comum assumindo a tragédia da vida na sua contradição.
Fernando Scarpa é psicanalista