Rio - A agressão sofrida por um médico, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paciência, na noite de quinta-feira, por se recusar a emitir atestados médicos, evidenciou um problema de segurança enfrentado diariamente por profissionais de saúde e de outras áreas que lidam com o público. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o médico, que não teve a identidade divulgada por questões de segurança, foi agredido por dois pacientes que haviam solicitado um atestado médico, negado por ele. O vigilante da UPA e outros funcionários da unidade apartaram a briga e retiraram os agressores do local. A PM chegou a ser acionada, mas o médico não quis ir à delegacia registrar o caso. Os nomes e o paradeiro dos agressores não foram divulgados.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), Nelson Nahon, disse que a entidade irá tomar providências sobre o caso. "Os dois pacientes passaram por exames, e, após a liberação do laudo, o médico avaliou que ambos não precisavam de atestado. Ao receber a resposta negativa, os dois saíram da UPA. Momentos depois, eles retornaram, invadiram a sala e agrediram o médico", contou. O médico agredido usou as redes sociais para comunicar aos pacientes que continuará trabalhando na UPA de Paciência. Em uma página no Facebook, ele afirmou que não tem medo de enfrentamento e que ama os seus pacientes.
Nahon apontou a crise econômica e o sucateamento das unidades de saúde como fatores determinantes para o aumento nos casos de violência contra trabalhadores. "Estive na UPA de Copacabana na semana passada, à paisana, e só apareceu um segurança patrimonial quando praticamente entrei na sala destinada à pacientes graves. Com a redução orçamentária, foram reduzidos os seguranças nas unidades de saúde. As salas de espera deveriam ter câmeras. Essas medidas práticas ajudariam a reduzir atos de violência contra qualquer pessoa", avaliou. Ele afirmou que tem recebido diversas queixas de médicos que são ameaçados e agredidos em unidades de saúde em todo o estado. "Temos diversos relatos de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, que são profissionais que estão na linha de frente, no primeiro atendimento, principalmente nas unidades com urgência e emergência, como UPAs e Hospitais", revelou.
Um obstetra, que trabalha em duas maternidades em comunidades dominadas pelo tráfico e pediu anonimato, afirma que agressões de pacientes e familiares já fazem parte da rotina. "As agressões físicas começam com empurrão e vão até socos e pontapés. As ameaças acontecem a todo momento. O paciente ou familiar diz que vai te pegar lá fora. Alguns dizem que, se algo acontecer com a mulher ou o filho, irão se vingar", relatou.
O obstetra conta que há até um caso de um traficante que queria que a mulher fizesse cesariana e ameaçou o médico, que avaliou ser o parto normal a melhor opção. "Às vezes, é uma ameaça velada. Como temos que trabalhar na favela, somos obrigados a seguir a ordem", denunciou. Ainda segundo ele, ao sofrer agressões físicas, os profissionais dificilmente registram o caso na delegacia por medo.
A PM informou que ao chegar na UPA de Paciência, 30 minutos após a chamada, o auxílio policial foi dispensado. A Secretaria Municipal de Saúde informou que o médico agredido não quis ir à delegacia e que o profissional está recebendo apoio da coordenação da unidade. Em relação à denúncia do Cremerj de que houve redução no número de seguranças na UPA de Copacabana, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que todas as unidades da rede contam com vigilantes.