Em ocupa��o no Centro do Rio, fam�lias rateiam at� IPTU

No pr�dio de tr�s andares, que � da Uerj, moradores dividem tarefas dom�sticas e contas h� 21 anos

Por WILSON AQUINO

O cozinheiro Rog�rio Santos Silva, 50 anos, � umas das pessoas que foi morar na ocupa��o da Rua Mem de S� porque ficou sem condi��es financeiras para pagar o aluguel
O cozinheiro Rog�rio Santos Silva, 50 anos, � umas das pessoas que foi morar na ocupa��o da Rua Mem de S� porque ficou sem condi��es financeiras para pagar o aluguel -

Rio - O carnê do IPTU vem em nome da Secretaria Estadual de Cultura, mas quem paga o imposto são as 32 famílias que ocupam, há 21 anos, o prédio 261, da Rua Mem de Sá, no Centro do Rio. A exemplo do edifício que pegou fogo e desabou em São Paulo, no Dia do Trabalhador, diversos imóveis no estado do Rio estão ocupados por pessoas que não tem onde morar.

"A ocupação, hoje, é a alternativa à ausência de política habitacional, que não existe em nenhuma esfera do poder público", afirma a defensora pública Maria Júlia Miranda, coordenadora de Regularização Fundiária e Segurança da Posse da Defensoria Pública do Estado do Rio. Segundo ela, não há dados estatísticos ou levantamento sobre o total de ocupações.

Diversidade de moradores

O imóvel de três andares da Mem de Sá, que pertence à Uerj, estava abandonado havia 15 anos, quando, em 1997, a Ação Livre Moradia (Almor) invadiu. "Quando ocupamos, era lixo puro. Estamos aqui há 21 anos. Já trocou prefeito, governador, secretário da habitação, e a gente aqui, nessa agonia", conta a cuidadora de idosos Carmen Resende, 60, uma das moradoras mais antigas da ocupação. Carmen explica que, diferente do imaginário popular, a moradia não foi feita por drogados. "Temos muitas crianças, pessoas idosas e acamadas morando. A gente não quer é ficar no meio da rua que nem muita gente está ficando".

Segundo a defensora Maria Júlia, o grupo de moradores é composto por gente que não consegue comprar imóvel por financiamento ou que compromete mais de 30% da renda com pagamento de aluguel. "Criminalizar uma realidade como esta, diante da ausência do estado, é muito ruim". É o caso da enfermeira Rosana Arruda, 41, que vive há 15 anos na ocupação da Mem de Sá. "Pagava R$ 1,3 mil por um quitinete menor do que o lugar onde moro agora. Não são os prédios que estão abandonados. São as pessoas", afirma Rosana, mãe de um menino de quatro anos.

A defensora destaca que existe uma série de ocupações autogeridas e organizadas. "Tem, inclusive, pagamento de IPTU, porque os imóveis foram abandonados e as pessoas não querem correr o risco de perder para a prefeitura, por meio de execução da Dívida Fiscal", acrescenta. Os moradores da Mem de Sá se dividem para pagar o IPTU de R$ 802, que vem em nome do órgão estadual.

Para tornar o prédio - onde funcionou a Faculdade de Ciências Econômicas da Uerj - habitável, os moradores realizaram obras e até hoje cuidam da manutenção. "Se alguma coisa quebra, a gente conserta. Pintamos paredes e fazemos a limpeza das áreas comuns. Também dividimos a conta de luz (cerca de R$ 6 mil)", conta o cozinheiro Rogério Santos Silva, que se mudou para a ocupação porque não tinha mais como pagar aluguel.

Até o fechamento desta edição, nenhum representante da Uerj foi localizado para esclarecimentos.

Ocupantes do Rio temem a mesma trag�dia da Cidade de S�o Paulo

"Tenho medo que aconte�a aqui o que aconteceu em S�o Paulo". O desabafo � de Carmen Resende, uma das l�deres da A��o Livre Moradia. Na opini�o dela, uma trag�dia semelhante "botaria todo mundo no meio da rua e o governo lavaria as m�os".

O inc�ndio e posterior desabamento do Edif�cio Wilton Paes de Almeida, na capital paulista, colocou 320 pessoas na rua. Sem acordo com as autoridades, os moradores acabaram acampando no Largo do Pai�andu, a poucos metros do im�vel que desabou.

Somente na noite de ontem, a Prefeitura de S�o Paulo fechou acordo com a lideran�a do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM) para realocar as fam�lias. Os moradores ser�o levados do Largo do Pai�andu, no Centro, para o Centro de Inclus�o pela Arte, Cultura, Trabalho e Educa��o, no Viaduto Pedroso, a cerca de 3 quil�metros do local. A transfer�ncia dar� prioridade a mulheres e crian�as. Inicialmente, os moradores se recusavam a deixar o Largo do Pai�andu, onde se instalaram em barracas perto da Igreja Nossa Senhora do Ros�rio dos Homens Pretos.

Em meio ao acampamento, com crian�as e mulheres deitadas em colch�es, tinha bastante lixo espalhado. O clima era de tens�o e o local atraiu curiosos durante todo o dia. No in�cio da tarde de ontem, lonas foram erguidas e presas �s paredes do espa�o cat�lico. Montanhas de sacolas e caixas de papel�o com doa��es lotavam a escadaria de entrada da igreja, que permaneceu de portas fechadas.

At� a noite de ontem, n�o havia confirma��o de mortos ou feridos no inc�ndio. Por�m, s�o 48 pessoas desaparecidos, entre os quais, o homem que estava sendo resgatado pelos bombeiros quando o edif�cio de 24 andares desabou.

Galeria de Fotos

O cozinheiro Rog�rio Santos Silva, 50 anos, � umas das pessoas que foi morar na ocupa��o da Rua Mem de S� porque ficou sem condi��es financeiras para pagar o aluguel FOTOS DE Alexandre Brum
As 32 fam�lias se dividem para pagar a luz e o IPTU, cujo carn� vem em nome da Secretaria de Cultura Alexandre Brum / Agencia O Dia

Coment�rios

�ltimas de Rio de Janeiro