Doleiros são alvos de ação da PF que prendeu 33 pessoas

Esquemas de R$6 bi envolveriam corrupção de Cabral, escola de samba, jogo do bicho e tráfico

Por CÁSSIO BRUNO

Agentes da Polícia Federal encaminharam suspeitos à delegacia, na Operação 'Câmbio, Desligo'
Agentes da Polícia Federal encaminharam suspeitos à delegacia, na Operação 'Câmbio, Desligo' -

Rio - Em ação contra um esquema internacional de lavagem de dinheiro, a Polícia Federal prendeu ontem 30 pessoas no Rio, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal. Outros três foram detidos no Uruguai. A operação foi batizada de 'Câmbio, Desligo'. Segundo o Ministério Público Federal, a quadrilha de doleiros movimentou R$ 5,7 bilhões.

No Rio, os procuradores da força-tarefa da Lava Jato disseram que parte do dinheiro foi usado no esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Um dos presos foi o doleiro Sérgio Mizrahy, que, para o Ministério Público Federal, fez circular ilegalmente R$ 50 milhões, entre 2011 e 2017. Além disso, utilizou a conta bancária da escola de samba Grande Rio para lavar dinheiro e emprestou recursos à agremiação de Duque de Caxias, segundo a denúncia.

"Sérgio Mizrahy tem vínculo estreito com a escola de samba Grande Rio, aparentemente utilizando inclusive de contas bancárias da própria agremiação para realizar lavagem de dinheiro. Essa proximidade traz fundamento do risco a ordem pública, com eventual envolvimento do representado com outras áreas da ilicitude carioca, como o jogo do bicho", escreveram os procuradores no pedido de prisão.

Em nota, a Grande Rio disse que: "A Acadêmicos do Grande Rio confirma que Sérgio Mizrahy integra a extensa lista de diretores da escola. No entanto, os negócios pessoais e profissionais do mesmo não dizem respeito à agremiação, que não foi sequer notificada oficialmente por nenhum repasse de verba ilegal. Desde já, a instituição aproveita para se colocar à disposição para esclarecer qualquer assunto e colaborar com a justiça".

Segundo o procurador da República, Stanley Valeriano, o esquema abastecia também tráfico de drogas. "São pessoas (doleiros) que estão há 20, 30 anos em atividades no Brasil. Elas são suporte a várias atividades criminosas, o que possibilita outros crimes de evasão de divisas, sonegação e tráfico de drogas", disse Valeriano.

 

Movimentação de grandes valores sem chamar atenção

Agentes iniciaram a operação 'Câmbio, Desligo' nas primeiras horas da manhã de ontem para cumprir 50 mandados de prisão preventiva, sendo 45 no Brasil e cinco no exterior. A ação teve início nas delações premiadas dos doleiros Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barbosa, o Tony. Os dois trabalhavam para a organização criminosa de ex-governador Sérgio Cabral, que está preso.

Juca Bala e Tony foram detidos, em 3 de março de 2017, em uma das fases da Lava Jato, no Uruguai. Disseram à PF como funcionaria o esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Entre os clientes, havia empresários e políticos. O grupo usava dois sistemas na internet (Bank Drop e ST) que reuniam doleiros do mundo inteiro, envolvendo três mil empresas, em 52 países. Segundo os procuradores da Lava Jato, a estrutura dos doleiros atuava da seguinte forma: os sistemas Bank Drop e ST listavam clientes e transações. De um lado, quem tinha interesse de enviar remessas de dinheiro ao exterior. Do outro, quem queria repatriar os recursos ilegalmente. As ações ficaram conhecidas como dólar-cabo, uma forma de movimentar recursos de forma paralela, sem a fiscalização brasileira.

Doleiros tinham uma caixa forte, revelaram as investigações, na transportadora de valores Trans Expert, no Rio. No local, guardavam e distribuíam dinheiro. O principal alvo da 'Câmbio, Desligo' foi o doleiro Dario Messer, apontado como "doleiro dos doleiros".

Um dos endereços dele é uma cobertura no Leblon, com vista para as Ilhas Cagarras. Nos dois sistemas clandestinos na internet, o doleiro teria o apelido de Cagarras.

Messer foi investigado no esquema de corrupção do Banestado, no Paraná, e no mensalão. Foi denunciado por evasão de divisas, com a mulher. A polícia paraguaia foi até a casa de Messer naquele país para tentar prendê-lo, mas não conseguiu.

Juca Bala e Tony: direito a prisão domiciliar

A PF mirou ainda em integrantes de uma tradicional família de doleiros em São Paulo: Marco Ernest, Patrícia e Ernesto Matalon. Segundo Juca Bala e Tony, os Matalon atuaram em parceria com Messer, movimentando R$ 350 milhões entre 2011 e 2017. Juca Bala e Tony foram extraditados e chegaram ao Rio em dezembro. Juca foi citado pelos irmãos Marcelo e Renato Chebar, delatores do esquema de Sérgio Cabral.

Com as delações, Juca Bala e Tony tiveram o direito de prisão domiciliar por seis meses desde ontem. Depois, poderão sair de casa para trabalhar. Em um ano, no entanto, vão cumprir penas em regime aberto, e pagar multas de R$ 4 milhões.

"Os principais doleiros eram os irmãos Chebar, que faziam esse recolhimento do dinheiro em espécie e, depois, faziam as operações. A partir de 2007, quando Sérgio Cabral assume o governo do estado, o volume de recursos em espécie de propina foi tão grande que foi necessário acionar outros doleiros", explicou o procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio.

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Agentes da Polícia Federal encaminharam suspeitos à delegacia, na Operação 'Câmbio, Desligo' Estefan Radovicz
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS - PARCEIRO - Coletiva no Ministério Público do Rio, sobre a operação Câmbio, Desligo, em mais uma fase da Lava Jato no Rio e em outros estados, onde doleiros foram presos e levados pra sede da Polícia Federal na Praça Mauá, Rio de Janeiro. Foto: Paulo Carneiro/Parceiro/Agência O Dia Paulo Carneiro/Parceiro/Agência O Dia

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