Mortes e pânico na Zona Oeste

Depois do assassinato de capitão da PM em Jacarepaguá, operação na Cidade de Deus deixa quatro mortos

Por O Dia

Linha Amarela foi interditada três vezes causando engarrafamento
Linha Amarela foi interditada três vezes causando engarrafamento -

Rio - Uma operação deflagrada na Cidade de Deus, na Zona Oeste, após o assassinato do capitão da PM, Stefan Cruz Contreiras, deixou pelo menos quatro mortos ontem. Segundo a Polícia Militar, os quatro morreram em confronto com policiais na comunidade. Os tiroteios deixaram ainda três feridos, entre eles um policial do Bope, baleado na perna.

O capitão Contreiras, de 36 anos, era chefe do Serviço Reservado do 18º BPM e seguia em uma moto descaracterizada da PM para o quartel, em Jacarepaguá, na Avenida Geremário Dantas, quando foi abordado por dois criminosos armados, também de motocicleta. Imagens de câmera de segurança mostram que, após ser fechado e a moto cair, os bandidos renderam o policial e, quando o revistaram, ele correu para se proteger atrás de um poste, e os criminosos dispararam diversas vezes.

Segundo o delegado Pedro Pilher, da Delegacia de Homicídios, o capitão levou pelo menos 12 tiros. "Estamos tentando entender se ele teve tempo de reagir ao ataque ou se atiraram nele mesmo sem reação", disse Pilher. Uma testemunha, que preferiu não se identificar, contou que o oficial chegou a gritar "perdi, perdi", mas os criminosos mesmo assim começaram a atirar.

Logo após o crime, que ocorreu às 6h50, o serviço de inteligência da corporação informou que os criminosos seriam da Cidade de Deus e teriam fugido para a comunidade. Logo em seguida, foi deflagrada a operação com as unidades do Comando de Operações Especiais, além do 18º batalhão (Jacarepaguá) e da Unidade de Polícia Pacificadora Cidade de Deus.

Trânsito paralisado

Os tiroteios fecharam a Linha Amarela por pelo menos três vezes durante o dia. Motoristas, em pânico, largaram seus carros na via e se jogaram no chão para se proteger atrás da mureta divisória das pistas. O tráfego ficou congestionado. Para complicar ainda mais a vida de quem tentava ir da Zona Oeste para o Centro, outra operação policial, esta no Complexo do Lins, fechou o trânsito na Grajaú-Jacarepaguá, de 7h às 11h.

O porta-voz da PM, Ivan Blaz, afirmou na tarde de ontem que operação na Cidade de Deus não tem prazo para ser encerrada. Ontem, por volta das 16h, novos tiroteios ocorreram e a Linha Amarela voltou a ser fechada nos dois sentidos. No balanço divulgado no fim da tarde, a PM informou que na ação foram presas oito pessoas e apreendidos dois fuzis, quatro pistolas e drogas, cuja quantidade ainda estava sendo contabilizada.

O Disque-Denúncia divulgou um cartaz que oferece R$ 5 mil para quem der informações sobre o paradeiro dos assassinos do capitão. A organização garante o anonimato.

Só ontem, dois policiais militares foram mortos

Em menos de 12 horas dois policiais militares foram assassinados no Rio. Após a morte do capitão Contreiras, um policial militar reformado foi morto a tiros, na tarde de ontem, em um conjunto habitacional em Paciência, na Zona Oeste.

O subtenente Mauro Baptista de Azevedo, 46 anos, foi abordado por criminosos na Rua 21 do Conjunto Manguariba, e os bandidos fizeram vários disparos contra ele. Mauro, que foi lotado no 27º BPM, morreu na hora e se tornou o 44º PM assassinado no estado neste ano.

Ainda não há informações sobre a data e local de sepultamento de Mauro. A Delegacia de Homicídios (DH) foi acionada e fez uma perícia na região. Os agentes encontraram várias cápsulas de fuzil no local e fizeram buscas por câmeras na região que possam ajudar a identificar os autores do crime.

Segundo relatos nas redes sociais, teria ocorrido uma troca de tiros entre milicianos na região. A informação, no entanto, ainda não foi confirmada pela polícia.

Também ontem foi enterrado o 2º sargento da PM Luiz Alves, assassinado dentro do carro próximo à casa onde morava em Duque de Caxias. Um vídeo de câmeras de segurança mostra o momento da execução do PM. O Disque-denúncia (2253-1177 ou Whatsapp 21 98849-6099) também oferece recompensa de R$ 5 mil por informações sobre o assassino de Luiz Alves.

'Busquem os assassinos em qualquer buraco'

Uma conversa de Whatsapp mostra o que seria um diálogo do comandante do 18º BPM (Jacarepaguá), coronel Marcos Netto, com policiais da sua unidade. Nela, o oficial diz que perdeu "um filho" com a morte do capitão Contreiras e faz um apelo: "Quero pedir a todos vocês que se empenhem ao máximo, buscando quem quer que seja, em qualquer buraco, viela, casa, seja lá onde for, os assassinos do Contreiras".

Uma mensagem anterior a essa mostra que todos os policiais da unidade tiveram suas folgas suspensas para as operações. O comandante continua a mensagem afirmando que "a guerra será sem trégua". "Enquanto estes filhos da p. não forem pegos eu não descansarei. Ele não será trazido de volta, mas impune este crime não vai ficar."

PMs da unidade responderam em apoio. "Não descansaremos, sr comandante!". Outro indagou: "Comandante, colega de outra unidade pode comparecer?". E o coronel responde: "Sim. Todo mundo que quiser". Em coletiva, o major Ivan Blaz, porta-voz da corporação, afirmou que a fala do comandante é uma forma de motivar a tropa.

Durante a ação da PM, a Polícia Civil prendeu Carlos Henrique dos Santos em uma casa avaliada em R$ 1,5 milhão em um condomínio de Jacarepaguá. Carlinhos Cocaína, como é chamado, é, segundo a polícia, um dos chefes do tráfico na Cidade de Deus.

Galeria de Fotos

Linha Amarela foi interditada três vezes causando engarrafamento Reprodução Facebook
Military Police officers and Rio de Janeiro's Special Police Unit (BOPE) soldiers stage an operation at "Cidade de Deus" (City of God) favela in Rio de Janeiro, Brazil, on May 03, 2018. / AFP PHOTO / MAURO PIMENTEL AFP PHOTO / MAURO PIMENTEL

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