Rio - A foto de piscinas que teriam sido colocadas pelo tráfico em via pública na localidade Tijolinho, na Favela Nova Holanda, Complexo da Maré, viralizou desde sexta-feira, mas especialista em segurança e internautas alertam: criaram uma grande barricada humana. O "presente", segundo denúncias, seria do traficante Rodrigo da Silva Caetano, o Motoboy. Além de obstruir a via, impedindo a passagem da polícia, a medida é uma forma de agradar moradores para mostrar poder e ganhar espaço na comunidade.

A situação foi criticada nas redes sociais. "Tem sangue inocente nesse dinheiro, mas é só pra refrescar, né?", ironiza internauta. Outro vai além. "Que linda essa barricada humana. Agora a polícia realmente não entra. Ou será que eles realmente querem agradar? A rapaziada tem consciência social. Bobinhos", provoca o internauta. Pessoas menos esclarecidas chegaram a elogiar a iniciativa. "Pode até ser com dinheiro do tráfico, mas fizeram um bem. Não vejo mal nenhum. As crianças estão se divertindo sem maldade", escreveu uma mulher.

O especialista em Segurança Pública, delegado federal aposentado Antônio Rayol, avalia que esta é uma forma de o tráfico ganhar o apoio da população e impedir o acesso da polícia. "Sempre houve esta benevolência do tráfico. Esta é uma maneira de trazer o morador para o lado deles, de fazer ao menos com que o morador seja omisso, não colabore com a polícia", diz.

O delegado aposentado vai além: "É preocupante ver o morador ignorar de onde vem o dinheiro deste agrado, mas o tráfico há muitos anos exerce um papel paternalista, o que é alarmante já que revela aí uma falha, um buraco deixado pelo Estado. Muitas vezes o que acontece é que aonde o poder público não chega, o tráfico chega e supre as necessidades do morador, que sofre com a exclusão de políticas públicas".

Na avaliação de Rayol, crianças e moradores que utilizam as piscinas correm sério risco. "Neste caso específico, das piscinas, me parece também um bom obstáculo para a circulação da polícia nas ruas da comunidade. Você tem aí um obstáculo com dezenas de crianças no caminho", adverte o especialista.