'Lula vende-se como um perseguido, o que nunca foi', diz Associação dos Procuradores

ANPR manifestou, por meio de nota, 'repúdio' às declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proferidas em comício no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo

Por ESTADÃO CONTEÚDO

Lula durante discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Lula durante discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC -

São Paulo - A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) manifestou, por meio de nota, 'repúdio' às declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proferidas em comício no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. A manifestação é assinada pelo presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti.

Em seu discurso, Lula desafiou procuradores, policiais federais, desembargadores do Tribunal da Lava Jato e o juiz federal Sérgio Moro a um 'debate' sobre as provas. "A antecipação da morte da Marisa (Letícia, ex-primeira-dama) foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Eu tenho certeza (…) E a história, daqui a alguns dias, vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo", disse o petista.

Para a entidade, 'em uma clara estratégia que busca inverter os papéis, Lula, no momento em que é chamado a responder e cumprir pena por crimes graves pelos quais foi condenado após ampla defesa e devido processo legal, ataca uma vez mais o Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal e seus agentes, tentando vender-se como um perseguido, o que nunca foi'.

"O ex-presidente Lula teve e tem acesso a todos os meios de defesa e de contestação, que usou e está amplamente usando, e se, ainda assim, foi considerado culpado por duas instâncias da Justiça, é porque se impuseram a força das provas contra si - provas coletadas e apresentadas pela Força-Tarefa Lava Jato de Curitiba, coordenada pelo procurador da República Deltan Dallagnol. A Justiça, em todas as instâncias que se pronunciaram até o presente momento, deu integral razão aos Procuradores da República em Curitiba", diz.

Robalinho ainda ponderou que é um direito de Lula 'demonstrar inconformismo ou difundir a versão que lhe aprouver'. "Nenhum cidadão está acima da lei e ninguém, por mais importante líder que seja, ou maior tenha sido o cargo que ocupou, pode zombar e menosprezar a Justiça. As instituições são pilares da democracia".

"O MPF atua sempre com a lei na mão e total respeito pelos direitos dos investigados, mas também o faz sem temer poderosos ou se deixar impressionar ou coagir por ataques, venham de onde vierem", afirma.

O presidente da ANPR diz que 'para desmascarar a versão fantasiosa de uma conspiração do mundo' contra Lula 'basta observar, por exemplo, que, dos seis ministros da mais alta Corte da Justiça brasileira que negaram o habeas corpus preventivo a ele na última quarta-feira, quatro foram indicados pela ex-presidente Dilma Rousseff, pelo próprio então presidente Lula, e um pelo presidente Michel Temer, eleito em 2014 na chapa de Dilma e do PT'.

"É nestas circunstâncias, portanto, mais do que fantasioso - entra em verdade nas raias do delírio e da ofensa irresponsável e gratuita - imaginar que o Ministério Público Federal independente e a Justiça brasileira como um todo, encimada por um Supremo Tribunal Federal, estariam mancomunados em uma trama contra o ex-presidente. As versões podem ser várias. A verdade e as provas são uma só. E elas impuseram a condenação do ex-presidente", ressalta.

Robalinho destaca que a Lava Jato investiga 'centenas de pessoas, de réus e de já condenados, muitos deles ligados, sim, a partidos políticos, mas de muitos partidos'. "A atuação da Força-Tarefa fundamenta-se em provas robustas reunidas ao longo de anos de investigações que se tornaram referência no Brasil e no mundo".

Lula voltou a criticar a apresentação da denúncia no caso triplex, pela Operação Lava Jato, por meio de uma apresentação de power point. "O que eu não posso admitir é um procurador que fez um PowerPoint e foi pra televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, é o chefe, e, portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador, 'eu não preciso de provas, eu tenho convicção'. Eu quero que ele guarde a convicção deles para os comparsas deles, para os asseclas deles e não para mim."

Para a ANPR, 'Dallagnol sempre se portou e se manifestou de forma cortês e correta, sendo, por mais este motivo, incabível e lamentável a forma rude com que foi atacado no dia de hoje'.

"Na mesma linha técnica e isenta têm agido todos os procuradores da República, policiais e juízes federais na operação. A Força-Tarefa é composta por conscientes e competentes agentes do estado. E também foram indeferidas todas as representações e processos judiciais apresentados pela defesa do ex-presidente contra Deltan", afirma.

"Nada nem ninguém afastará os membros do MPF do cumprimento equilibrado, impessoal e destemido de seus deveres. A ANPR repudia os ataques e se solidariza integralmente com o Procurador da República Deltan Dallagnol e com os componentes da Força-Tarefa Lava Jato. O ataque a um membro do MPF é um ataque a todos", conclui a entidade.

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