Decis�o do STJ levanta debate sobre o 'direito ao esquecimento'

Justi�a determina que Google retire links que ligam promotora ao termo 'fraude'. Se a moda pega, as consequ�ncias podem ser bem perigosas, alertam especialistas

Por Marianna Lopes *

"O STJ abriu uma brecha para que outros funcionários públicos - e quem sabe políticos e celebridades apelem ao Judiciário em busca do "esquecimento".
"O STJ abriu uma brecha para que outros funcionários públicos - e quem sabe políticos e celebridades apelem ao Judiciário em busca do "esquecimento". -

Rio - Na terça-feira, uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) reacendeu uma discussão que acontece em todo mundo: o chamado "direito ao esquecimento". O caso é de uma promotora de Justiça que foi acusada em 2007 de ter fraudado um concurso para juiz. Mais tarde, ela acabaria inocentada pelo Conselho Nacional de Justiça.

A promotora, então, em 2009, pediu à Justiça que os resultados em sites de busca sobretudo, no Google, que domina amplamente esse mercado nos quais seu nome aparecesse ligado à suspeita de fraude fossem apagados. O resultado veio essa semana. A 3ª Turma do STJ, por dois votos a um, deu ganho de causa à promotora.

O voto decisivo foi do ministro Paulo de Tarso Sanseverino. "Os sites de busca se tornaram importantes ferramentas, especialmente para consultar fatos e informações sobre pessoas, podendo apresentar dados que prejudicam o indivíduo", disse o ministro.

A princípio, parece um resultado justo, mas as consequências são controversas. A jurisprudência antes da decisão era de que as ferramentas de pesquisa não podem ser obrigadas a eliminar os links indesejados de seus sites. Agora, juristas não estão certos se isso se alterou com a sentença do STJ. E muito menos se os efeitos da possível mudança são positivos ou negativos.

"É uma discussão complexa do ponto de vista da liberdade de expressão. Mas, o Judiciário tem dito que a verdade é uma e se meios de comunicação disseram ou sinalizaram que a verdade era outra, é natural que você peça que a verdade seja preservada da melhor forma possível. Então nesse sentido, podemos até admitir que é uma limitação à liberdade de expressão, mas é uma limitação menor", diz Alexandre Pacheco da Silva, coordenador do Grupo de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV.

Thiago Dias Oliva, coordenador de Liberdade de Expressão do InternetLab, um importante centro de pesquisa em Direito e Tecnologia, tem outra visão. "É bom lembrar que estamos falando do caso de uma promotora. A eliminação dos links, nesse caso, afetaria o direito de acesso à informação do público em geral. O fato de ser uma pessoa pública pedindo uma retirada deve pesar contra esse pedido, justamente em decorrência do interesse público no acesso à informação", diz.

"O STJ abriu uma brecha para que outros funcionários públicos - e quem sabe políticos e celebridades apelem ao Judiciário em busca do "esquecimento".

Em ano de eleições gerais, com partidos e candidatos encalacrados nos mais diversos 'problemas', o perigo de que decisões judiciais nesse sentido comecem a pipocar não é nada desprezível.

* Estagiária, sob a supervisão de Dirley Fernandes

'Uma forma de alienar a popula��o'

O "direito ao esquecimento" foi reconhecido em 2014 pela Uni�o Europeia, ao julgar um caso na Espanha. Logo, o debate se espalhou. Cr�ticos afirmam que o precedente abriu espa�o para a censura e a manipula��o, em preju�zo � liberdade de express�o, enquanto os defensores dizem que o Google tornou o passado "eterno", o que n�o existe na "vida real".

At� agora, nenhum dos grandes pa�ses seguiu o entendimento dos europeus. Se a decis�o do STJ garantindo o 'direito ao esquecimento' for estendida a pol�ticos, isso poderia influenciar elei��es? O risco de isso se dar este ano, por algum tipo de decis�o liminar (provis�ria) � remota. "Pode-se imaginar que um processo desses demore 15, 20 anos", diz Pacheco da Silva, da FGV, apesar de o casa da promotora ter levado nove anos. No entanto, ele reconhece que h� risco. "Aplicar o direito ao esquecimento para fatos que n�o foram claramente descritos pelo Judici�rio como falsos seria uma restri��o enorme � liberdade de express�o e uma forma de alienar a popula��o".

Oliva, do InternetLab, lembra que "as d�cadas de autoritarismo deixaram uma profunda cultura de segredo e censura no pa�s". "Pr�ticas que enfraquecem a liberdade de express�o e o acesso � informa��o podem ter o efeito de editar parte da nossa hist�ria", diz.

E quem n�o gostaria de 'editar' algum peda�o da sua vida, no Google ou fora dele?

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"O STJ abriu uma brecha para que outros funcionários públicos - e quem sabe políticos e celebridades apelem ao Judiciário em busca do "esquecimento". Reprodução/Pixabay
Contraste do Novo e o Velho no Porto Maravilha, quem investiu na regi�o e as pessoas que frequenta o local pede mais investimeto Priscila Ber�ot foto Severino Silva Agencia O Dia Severino Silva
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