Sempre lembrada como a vilã Odete Roitman, da novela Vale Tudo, a atriz Beatriz Segall, falecida há cinco meses, revelou, em seu testamento, um ato de generosidade e respeito: deixou um carro 0 KM e parte significativa de sua herança para Adilson Ricardo Leite, seu motorista particular.
O episódio é exemplo de uma relação de cumplicidade comum entre motoristas e empregadores. É caso de Flávio Rodrigues Bernardes, de 43 anos, que por 15 anos dirigiu para o advogado português Paulo Elísio de Souza. Enquanto trabalhou para ele, Bernardes foi duas vezes para Lisboa com direito a mil euros (mais de R$ 4 mil) para gastar. Sentava à mesma mesa com os amigos do patrão, de quem sempre recebe uma ligação no aniversário. Bernardes teve ajuda do ex-chefe para trocar de carro e ganhou uma pomposa rescisão. "São coisas que ninguém faz pelo empregado, né? Virou uma relação de amizade".
O mais valioso dos quatro ternos que usa como uniforme foi presente do patrão, que só o dispensou porque voltou a morar em Portugal. Bernardes dirige para aplicativos e lembra o primeiro contato com Elísio, em 2000. Ele respondeu a um anúncio para trabalhar como motorista no Leblon, foi admitido e apareceu para trabalhar de terno. "Aí, ele falou: 'Esse vai ser o seu uniforme mesmo', recorda o motorista, que elogiou a ação de Beatriz Segall.