Mayana Neiva: 'Fiz um curso de astrof�sica e queria muito ser cientista'

Atriz comentou sua participa��o em 'O Outro Lado do Para�so'

Por Leo Dias

Mayana Neiva � a Leandra de 'O Outro Lado do Para�so'
Mayana Neiva � a Leandra de 'O Outro Lado do Para�so' -

MAYANA NEIVA entra na casa de boa parte dos brasileiros quase toda noite. Na pele de Leandra, a dona do bordel de 'O Outro Lado do Paraíso', Mayana encara de frente uma realidade distante para ela: a vida em um prostíbulo. "O bom de fazer um personagem tão diferente de você é que você sempre vai em direção a uma verdade nova, então é um percurso que sempre enriquece. Sempre terminamos conhecendo melhor o universo que estamos falando por estarmos vivendo isso de dentro. É sempre uma transformação", analisa. Na entrevista a seguir, ela conta que está solteira, fala sobre a violência carioca e revela que ama física: "Fiz um curso de astrofísica e queria muito ser cientista".

Você faz a Leandra em 'O Outro Lado do Paraíso'. Fez laboratório em algum bordel?

Eu fiz um laboratório bastante extenso para fazer essa personagem, que incluía uma pesquisa de filmes, documentários (que me levou em uma pesquisa relacionada ao Brasil profundo, pois ela É uma mulher que tem características que não são urbanas) e com pessoas reais. Não acho que precisamos ir nesses lugares para entender a situação delas. Na minha pesquisa isso foi mais forte, não sobre o prostíbulo em si, mas a situação em que vivem. Isso me alimentou muito mais, as sensações que eu tive. De alguma maneira você sempre sai bem transformada dessas histórias, muda sua vida para sempre.

Sua visão sobre a vida num prostíbulo mudou depois de fazer a Leandra?

O bom de fazer um personagem tão diferente de você é que você sempre vai em direção a uma verdade nova, então é um percurso que sempre enriquece. Sempre terminamos conhecendo melhor o universo que estamos falando por estarmos vivendo isso de dentro. É sempre uma transformação.

Como você definiria sua personagem?

É uma sobrevivente. A Leandra tem uma outra ética, é brincante, é mais livre e leve. A personagem é muito sensorial. Ela é uma dança, tem muitas verdades e muitos pulsos de vida.

O que a Leandra tem de você?

De alguma maneira é sempre um processo porque os personagens vão abrindo passagem dentro de nós... A energia de brincadeira é em algum lugar parecido comigo. Por outro lado, sou muito diferente dela, não sei responder bem. Eu tenho um lado do humor da Leandra, sou mais tranquila que ela.

Leandra é uma personagem sensual. Você treinou para seduzir. Há cursos de sedução no mercado, não sei se você tem conhecimento disso?

Não, eu nunca treinei para seduzir (risos). É o trabalho de pesquisa da personagem que desenvolve isso na tela, mas não fiz nada de específico nesse sentido.

Nas cenas em que Leandra se encontrava com o misterioso dono do bordel você contracenava com a câmera. É mais difícil seduzir a câmera?

As cenas em que contraceno com a câmera foram bem especiais. Nunca tinha feito dessa forma tão subjetiva e específica, como se a câmera fosse uma pessoa. O Henrique Sauer dirigiu as primeiras cenas, a gente foi meio que descobrindo juntos e depois se tornou uma brincadeira. Era engraçado e divertido. Se você não se diverte, essa cena não existe. Ela tem um aspecto de ludicidade para que essa relação seja real, para que realmente pareça um diálogo com uma pessoa. Eu aprendi muito brincando disso.

A novela vai revelar que o juiz é o dono do bordel. Como você vê essa revelação?

Eu às vezes acho que isso é muito engraçado, pois tem uma crítica bem clara do Walcyr sobre o estado das coisas no Brasil. Acho inteligente e interessante essa provocação, de que seja o juiz.

O que você ouve nas ruas?

Eu ouço nas ruas bastante carinho. Ao mesmo tempo em que algumas pessoas separam bem a atriz do personagem, em outros casos há pessoas que já vêm comentando sobre a personagem, já vão misturando a personagem com a atriz. É engraçado para nós que estamos vivendo isso por dentro, porque é bem diferente para nós, mas para as pessoas que recebem a nossa imagem em casa é muito parecido. Em geral, recebo muito carinho, sempre escuto que estão gostando, acompanhando e ligadas na trama.

As cantadas aumentaram por causa de Leandra? Como é a abordagem?

Cada personagem tem um aspecto brincante e sensual. Encaro tudo como um trabalho. Isso para mim é um trabalho. Já raspei a cabeça por personagens, engordei, emagreci... Já fiz várias coisas para contar essas histórias, então o aspecto da sedução é mais um ponto que desenvolvo como atriz. Não levo para o lado pessoal.

Já levou cantadas de mulheres? Como reagiu?

Cantada de homem ou mulher, para mim, faz parte da vida. Reajo de forma normal.

Você acha que a violência no Rio afeta também as prostitutas, que de certa forma vivem à margem da sociedade?

Acredito que todos nós estamos sendo afetados pela violência no Rio. É um momento difícil demais para a cidade, para o Brasil em si, de se reconstruir com essa corrupção que toma conta das instâncias que deveriam cuidar do povo. Então, sim, a violência afeta não somente as prostitutas, mas as pessoas que passam pela Linha Amarela, que são assaltadas. Todo mundo que vive no Rio está, de alguma maneira, com essa ameaça constante. A gente espera que, com esse novo ano de eleição, que a gente possa pensar e refletir mais sobre o poder que temos em eleger pessoas certas para ocupar lugares tão importantes.

Você intensificou na malhação para fazer Leandra?

Faço malhação duas vezes por semana, com um personal, mas tem semanas em que as gravações estão muito intensas e não consigo. Em geral faço duas a três vezes na semana, de forma tranquila.

Você está solteira?

Sim, estou solteira. Mas estou focada no meu trabalho, então está tudo bem.

Qual é o lado bom da fama?

O lado bom é você poder se comunicar com pessoas de outros locais, fico muito feliz. Já escutei coisas como: "Nossa, estava no hospital te assistindo e você me fez rir". O fato é que a novela chega em lugares longínquos e cria uma conexão muito forte com essas pessoas.

E o lado ruim da fama?

O lado ruim é que às vezes a gente tem um olhar mais atento para quem somos. Nós saímos do trabalho, mas ele não sai de nós. As pessoas nos confundem com os personagens. Às vezes queremos algum tipo de privacidade e temos que responder uma demanda. Mas está tudo certo, de certa forma já estamos acostumados com isso. Faz parte. Eu abraço os dois lados com muito orgulho e muito amor.

O que você gosta de fazer nas horas vagas?

Nas horas vagas eu gosto muito de meditar, fazer retiros. Sou estudante de uma pratica budista de meditação. Sou muito conectada com isso, gosto de meditar todos os dias.

Você tem alguma mania?

Tenho mania de leitura, sempre tenho que estar lendo para onde eu vou. Na minha bolsa sempre tem um, assim como marca texto também, para ir grifando partes que me toca.

O que ninguém sabe sobre você?

Fiz um curso de astrofísica e queria muito ser cientista. Eu amo física (risos).

O que você aprendeu com a Leandra?

A Leandra me ensina a brincar, a ser mais leve. Ela tem mil faces e me faz exercitar mil facetas como atriz. A Leandra me ensina a ser mais versátil e mais aberta.

Que final você gostaria que ela tivesse?

Eu queria que ela finalmente encontrasse um amor, endireitasse a vida dela ao sair do bordel e que tivesse uma vida mais conectada com o que ela quer viver, que é encontrar um amor.

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