Rio - O lema da moda agora é reaproveitar. E foi nessa onda que o designer carioca João Victor Azevedo transformou madeiras de demolição, latinhas de alumínio e até retalhos de jeans em relógios 100% sustentáveis. A peça recebe ainda materiais naturais, como a tinta orgânica para confecção do dial (mostrador onde tem os ponteiros), e produtos reciclados na pulseira, que é feita de sobra de couro, câmara de pneu e lona de material reciclável.
"Criar peças com reaproveitamento e com estilo é uma tendência e é o caminho que está sendo aberto por essas novas empresas para uma modificação real no consumo", destacou João. A Maré, empresa e marca criada por ele, nasceu na incubadora do Instituto Gênesis da PUC, onde João também é professor. Cada relógio custa de R$ 450 a R$ 530, mas a marca já testa novas peças com paletes de madeira, que torna o produto mais acessível, com valor em torno de R$ 240. "É uma maneira de fazer com que mais pessoas tenham acesso", contou Azevedo.
Na pegada sustentável, o casal de namorados, Henrique Canella e Jéssica Leiras, criou a Click Acessórios, de brincos e colares, também com reaproveitamento de madeira, como Jequitibá, Braúna e Peroba Rosa. "Quando estamos vendendo a peça sempre explicamos um pouco da história dessas madeiras. As pessoas se surpreendem quando contamos que é tudo artesanal", explicou Jéssica.
PARCERIA AMBIENTAL
Na Bossapack, que confecciona mochilas sustentáveis, a preocupação ambiental é a premissa mais importante da empresa. O material para fabricação das peças é todo de tecido reciclado, feito de garrafa PET, e com algodão de reuso. A pintura das mochilas é de responsabilidade dos índios caiapós, da Associção Floresta Protegida, que utilizam tinta a base de carvão e genipapo.
"É um produto 100% nacional, a cara do Brasil. Fazemos questão de praticar economia colaborativa, onde utilizamos a mão de obra dessas pessoas e depois fazemos com que isso retorne para elas também", detalhou Claudio Martins, dono da marca, que destina 10% das vendas do produto à associação.
O banner de reuso utilizado por Claudio para fabricar as mochilas vem de uma ONG que recebe o material de empresas, repassa, e, com a verba, investe em programas sociais na comunidade do Terreirão, no Recreio. "Praticamos sustentabilidade ambiental, social e econômica com essas parcerias", apontou o empresário.
As amigas Victoria Nunes e Marcelle Fernandes Ferreira, criadoras do Projeto Recicle, viram na oportunidade de reaproveitar tecido a chance de criar pochetes estilosas e vender a ideia de conscientização ambiental. "Reciclar é mais do que consciência, é um estilo de vida. Você começa separando lixo e depois disso você está fazendo pochetes", disse Marcelle.
Elas escolheram o jeans como base das peças porque é justamente o material mais poluente. "Quanto mais reciclarmos o jeans é melhor", completou Marcelle. Victoria é a responsável pela confecção das peças e até até a forma de embalagem leva atenção especial. As pochetes são colocadas à venda em envelopes de papel reciclado ou em bolsas feitas com retalho de tecido.
"Além de vender um produto feito com tecido reaproveitado é vender a ideia de que não existe esse lixo, onde descaramos as coisas, vão para algum lugar e cabe a nós darmos esse rumo descartando ou recriando", declarou Victoria.