Rio - Wagner Moura tem nas m�os a chance de se afastar de vez de um personagem que h� oito anos vive como sua sombra, o Capit�o Nascimento do filme �Tropa de Elite�. � tarefa dif�cil olhar para o ator e n�o se lembrar de frases de efeito como: �Pede para sair!� ou �Nunca ser�o�, que at� hoje ecoam como sin�nimo de algo que caiu no gosto popular.

Agora, o ator est� no outro lado, portando um fuzil para fazer o mal e n�o para combat�-lo. Nada mais de dar tapa na cara de �vagabundo� por causa de um baseado, pois � ele quem �d� um dois� para relaxar. Sai a farda e entra a camisa social de manga curta. O corpo bem definido d� lugar a uma pancinha nada modesta e o rosto recebe um bigode imponente. � a figura de Pablo Escobar ganhando forma na pele de Wagner Moura na s�rie �Narcos�, do Netflix, que estreia na pr�xima sexta-feira, com dire��o de Jos� Padilha.

Os sacrif�cios foram muitos para que Wagner ficasse parecido com o maior narcotraficante da hist�ria. Vinte quilos a mais, muitos estudos, in�meras aula de espanhol e mudan�a de endere�o para a Col�mbia. �Meu trabalho come�ou com a necessidade de falar e aprender espanhol, que eu n�o falava, ent�o, comecei a fazer aula aqui, depois me mudei para Medell�n, entrei na universidade l� e fiquei fazendo aula de manh�, de tarde e � noite, por quase seis meses�, detalha Wagner Moura, em entrevista exclusiva ao DIA.

A parte mais complicada ainda estava por vir. Sair de seu peso normal, que girava em torno de 76 kg, para ganhar formas mais arredondadas faz Wagner sofrer at� hoje. �Engordei 20 kg e desses 20 kg eu s� perdi uns 4 kg�, desabafa o ator, que passou a comer tudo de gostoso que via pela frente durante o processo de engorda: �Minha estrutura f�sica � de uma pessoa magra, ent�o � uma for�a��o de barra com o corpo fazer um neg�cio desse. N�o � saud�vel, � ruim, me sinto pesado, cansado. Minhas taxas de colesterol, entre outras, foram todas para as alturas.�

Mesmo com um corpo fora de forma em decorr�ncia do personagem, parece que Moura criou certa afei��o por Escobar. Mas nem por isso ele quis santific�-lo em sua atua��o. �Acredite ou n�o, Pablo era um ser humano. As pessoas querem que eu tome um partido. Claro que ele era um cara mau, cruel, mas as pessoas n�o s�o s� boas ou m�s, elas s�o complexas�, reflete.

E o trabalho de Wagner como ator foi justamente entrar em todas as nuances que a hist�ria do
bandido permitia. �Me importa saber como as pessoas s�o em v�rias situa��es da vida. Como era ele em casa, o que ele pensava e como ele era sozinho fumando um baseado �s 3 h da manh� na fazenda dele�, divaga.

Foi um mergulho profundo no passado do traficante. Mas nem por isso Wagner seguiu � risca os costumes do criminoso na hora de filmar. Os baseados que ele aparece fumando nas imagens, por exemplo, s�o falsos. �O baseadinho era de mentira. As arminhas tamb�m�, garante, aos risos, o ator enrubescido. �Pablo � fundamental na hist�ria da Col�mbia.Ela � dividida em antes e depois dele. Acho que li tudo que foi escrito sobre ele, inclusive o livro que o filho dele (Juan Pablo) escreveu, que � muito bom�, comenta. 

Em recente entrevista ao DIA, Juan Pablo reclamou de n�o ter sido procurado pelos produtores da s�rie ap�s se oferecer para prestar consultoria. Inclusive, chegou a apostar que mostrariam o pai sendo morto por franco-atiradores na produ��o, o que ele considera uma grande mentira.

�Eu n�o tive contato com familiares. Mas Juan Pablo e o pr�prio tio Roberto divergem na ideia de que Pablo se matou. A pol�cia de Medell�n diz que foi um tenente e tamb�m existe um paramilitar que diz que foi seu irm�o, um dissidente do Cartel de Medell�n, que o matou�, justifica o ator, sem adiantar a vers�o �comprada� por Padilha.

�N�o sei qual �. Na verdade, n�o filmamos a morte de Pablo. Espero que tenha a segunda temporada�, sugere, dando pistas de que a sequ�ncia da s�rie pode sair do forno em breve. Entretanto, � bom que os f�s da dupla Padilha e Wagner saibam que o sucesso da parceria n�o vai render mais nenhuma produ��o referente ao �Tropa de Elite�.

�O Tropa j� acabou. Agora vamos partir para outras produ��es. Ano que vem, vou dirigir meu filme. Comprei os direitos da biografia do Carlos Marighella, escrita por Mario Magalh�es. Outro filme pol�tico�, diverte-se,
aproveitando para dar uma alfinetada na direita: �Muito desse movimento do extremismo que o Brasil vive hoje, principalmente do povo de direita com essa coisa da maioridade penal, � por n�o ver as pessoas como cidad�os. Voc� n�o pensa que um menor pode ser seu filho, s� pensa que � um menino preto, bandido, que roubou e matou. Ningu�m o enxerga como um ser humano.�

�As pessoas j� v�m com uma ideia ruim pr�-concebida de que precisa se livrar daquilo, encarcerar. Na cadeia tem os que fizeram merda, alguns s�o filhos da puta mesmo, outros est�o presos por coisas mais leves, mas todos s�o pessoas. Precisamos ter essa no��o�, instiga.