Rio - Em depoimento à Justiça, um dos seis presos durante a operação no Jacarezinho, no dia 6 de maio, relatou como foram as supostas agressões dos policiais civis após a sua rendição, ainda na comunidade. De acordo com um suspeito, ele teria sido obrigado a carregar dez corpos foi agredido com golpes de fuzis e socos por pelo menos 10 policiais. Os vídeos das audiências de custódia e laudos de corpo de delito foram divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (27).
"Ele botou a gente pra descer num beco assim, tinha vários corpos assim no beco. E ele falou: 'bora', você vai ser obrigado a levar esses corpos aqui. […] Já comecei a chorar e ele: 'Chora, não'. Querendo pegar minha cara e tacar assim na tripa do moleque que estava para fora", relatou um dos presos.
"Eu falei: eu não vou levar esse daí, não. Aí ele começou a me bater, falando que eu era obrigado a levar. Eu falei: não vou levar não, não vou levar não, não vou meter a mão nisso daí, não. Aí ele: bora, mete a mão logo. Começou a me dar várias porradas para meter a mão. Mais de dez corpos ele fez isso comigo", afirmou em um outro trecho.
Ao ser questionado se o suspeito lembrava do rosto dos policiais que supostamente teriam praticado as agressões, o preso disse que não tinha como saber pois ele "pisavam na cara falando que não era para olhar para a cara deles".
Esses e outros relatos já divulgados anteriormente, reafirmam a versão que teria tido abuso policial durante a operação, considerada a mais sangrenta da história do Rio de Janeiro. Na ocasião, a Polícia Civil negou a versão dos presos e disse que o caso será apurado na investigação.
Na segunda-feira (21), a Polícia Civil colocou em sigilo por cinco anos o nome de todos os policiais envolvidos na operação Jacarezinho. O Termo de Classificação de Informação diz que os dados estão em sigilo "em face da segurança e da integridade física dos policiais civis". Embora não seja incomum, especialistas dizem que a decisão prejudica a transparência e pode afrontar previsões da Lei de Acesso à Informação.
No documento, o estado alega que os dados são "considerados imprescindíveis à segurança da sociedade, da instituição policial e seus agentes" e que sua divulgação "pode vir a prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicas dos órgãos da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro". Durante a operação, 28 pessoas morreram.
PGR entrega relatório sobre operação no Jacarezinho
Na última sexta-feira (21), o procurador-geral da República, Augusto Aras, entregou ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), um relatório detalhado da operação no Jacarezinho, diante do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como "ADPF das Favelas".
O documento visa levar conhecimentos dos fatos e as circunstâncias da ação policial, que aconteceu na operação do Jacarezinho. No texto, Aras informa que a Procuradoria Geral da República (PGR) instaurou, no dia seguinte à operação, a "Notícia de Fato", uma apuração preliminar do suposto descumprimento das decisões proferidas pela Corte Suprema na ADPF 635.
Procurada para comentar as acusações, a Polícia Civil ainda não respondeu.