Macri enfrenta primeira grande crise e juros sobem para 40% na Argentina

Argentina é o país que vem sendo mais afetado pela valorização do dólar no mercado internacional, com as perspectivas de um aumento maior dos juros nos Estados Unidos

Por ESTADÃO CONTEÚDO

Mauricio Macri
Mauricio Macri -

Argentina - Pouco mais de dois anos após chegar ao comando da Argentina e se transformar em uma das apostas preferidas do mercado financeiro, o governo de Mauricio Macri atravessou sua primeira crise: diante de uma saída de capitais que desvalorizou sua moeda em 8% em uma semana, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros de 27,25% para 40% - a maior do mundo. Ao todo, foram três anúncios de alta em oito dias, todos pegando os investidores de surpresa.

Nesta sexta-feira, após o BC elevar em 6,75 pontos porcentuais o juro básico e o governo reduzir a meta do déficit público de 3,2% do PIB para 2,7% em 2018, o mercado finalmente se acalmou e o dólar caiu quase 2%. A moeda americana encerrou o dia cotada a 21,82 pesos, depois de chegar a 23 pesos na quinta-feira.

Na avaliação do economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o BC atuou ontem de "forma contundente", melhorando "um pouco" a situação e corrigindo "a implementação errática das últimas medidas".

A Argentina é o país que vem sendo mais afetado pela valorização do dólar no mercado internacional, com as perspectivas de um aumento maior dos juros nos Estados Unidos - o que torna o mercado americano mais atraente aos investidores e afeta diretamente as economias emergentes. Nesta semana, a IIF, associação que reúne os maiores bancos do mundo, já havia manifestado preocupação em relação aos rumos da economia do país

O Banco Central argentino vinha perdendo credibilidade desde dezembro, quando a equipe econômica de Macri elevou a meta de inflação de 10% para 15%, em uma tentativa de aumentar o ritmo da economia. Apesar de o mercado já não acreditar que esses números seriam atingidos - a inflação em 2017 ficou em 24,8% e as projeções para 2018 são de mais de 20% -, a interpretação foi de que o controle da inflação havia deixado de ser prioridade.

Também contribuíram para o caos desta semana a criação de um imposto sobre ganhos financeiros de investidores estrangeiros e a avaliação de que os déficits das contas públicas e externo continuam altos. Para Martín Redrado, ex-presidente do BC, as políticas econômicas de Macri não têm conseguido segurar a inflação, e falta ao governo um programa econômico integral. "Os problemas de fundo não foram resolvidos, há desequilíbrio fiscal e uma inflação resistente."

Ramos, do Goldman, acrescentou que o juro na casa dos 40% pode desacelerar a economia. "Não tem parto sem dor, mas, se o BC não tivesse feito nada, a crise seria maior. A inflação perderia o controle." Para ele, a alta dos juros pode ter impacto no Brasil, ainda que não muito significativo. Os economistas também não descartam a possibilidade de o BC elevar novamente os juros

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